O que são semicondutores? Entenda centro da polêmica de Trump

Em um novo capítulo das disputas comerciais que envolvem Estados Unidos e China, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que pretende impor tarifas adicionais às importações de semicondutores

Foto em perfil de Donald Trump ao lado de notas de dólares e, abaixo, contêineres de importação
Trump mira setor de chips em nova rodada de tarifas para fortalecer indústria dos EUA. Grégory ROOSE por Pixabay, pagadesign eBlack_Kira via Getty images.

Flávio Oliveira 3 minutos de leitura

Em um novo capítulo das disputas comerciais que envolvem Estados Unidos e China, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que pretende impor tarifas adicionais às importações de semicondutores. Os chips, considerados o “coração digital” de tudo que usamos — de smartphones a equipamentos hospitalares — voltam ao centro das atenções como ativos estratégicos.

Trump sinalizou que deseja ampliar a produção doméstica desses componentes e diminuir a dependência de fornecedores internacionais, especialmente em um setor que é dominado por empresas asiáticas. “Queremos fabricar nossos chips, semicondutores e outras coisas aqui no nosso país”, afirmou o presidente, de acordo com a BBC.

A medida reforça o foco dos EUA na soberania tecnológica e segurança nacional e pode mexer com toda a cadeia global de produção de eletrônicos.

O que são os semicondutores e onde eles estão?

Semicondutores — também chamados de microchips ou circuitos integrados — são estruturas feitas a partir de materiais como o silício. Eles passam por um processo conhecido como dopagem, que altera sua capacidade de conduzir eletricidade. É justamente essa característica que os torna essenciais em sistemas eletrônicos, funcionando como “interruptores” para os códigos binários que alimentam computadores e dispositivos inteligentes.

Eles estão presentes em smartphones, laptops, veículos com sistemas de controle eletrônico, sensores, chaves digitais, equipamentos médicos, turbinas eólicas, painéis solares e, claro, na própria internet — por meio de roteadores e servidores.

No campo da saúde, são componentes fundamentais em marca-passos, bombas de insulina e outros dispositivos implantáveis. Já no setor de energia, ajudam a tornar parques solares e eólicos mais eficientes.

Quem lidera o mercado global de semicondutores?

O fornecimento mundial de semicondutores é altamente concentrado em poucos países — e Taiwan lidera com folga. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) é responsável por mais da metade da produção global. Entre seus clientes estão gigantes da tecnologia como Apple, Nvidia e Microsoft.

A influência da TSMC a tornou peça-chave nas chamadas “guerras dos chips”, um conflito geopolítico envolvendo os Estados Unidos e a China pela supremacia tecnológica. A Samsung, da Coreia do Sul, ocupa o segundo lugar no ranking de fornecimento mundial.

Por que os EUA querem produzir mais chips internamente?

Com a proposta de tarifas “recíprocas”, Trump busca estimular a fabricação local de produtos estratégicos. Em abril, o governo norte-americano isentou tarifas sobre smartphones, computadores e outros eletrônicos importados da China, mas deixou claro que as taxas para semicondutores estão em avaliação.

“Estamos avaliando os semicondutores e toda a cadeia de fornecimento eletrônica nas próximas Investigações de Tarifas por Segurança Nacional”, escreveu Trump na rede Truth Social, no último dia 13 de abril. Ele também afirmou que os EUA não podem ser “reféns” de países como a China.

Como os EUA pretendem aumentar a produção?

Nos últimos anos, os Estados Unidos destinaram bilhões de dólares para tentar reverter a dependência de fornecedores estrangeiros. Um exemplo é a própria TSMC, que iniciou a construção de uma fábrica no Arizona. O projeto foi impulsionado pelo CHIPS and Science Act, uma lei aprovada para incentivar a fabricação nacional de chips por meio de incentivos fiscais e subsídios.

A TSMC recebeu US$ 6,6 bilhões (cerca de R$ 33 bilhões) em subsídios do governo norte-americano. No entanto, a operação na nova planta enfrentou atrasos por falta de trabalhadores qualificados. Para contornar o problema, a empresa transferiu milhares de técnicos e engenheiros de Taiwan para os Estados Unidos.

Mesmo com os investimentos, especialistas apontam que levará anos até que os EUA recuperem a autossuficiência em semicondutores — um processo complexo e altamente especializado.


SOBRE O AUTOR

Jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco e mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Com passagem pel... saiba mais