Big techs enfrentam onda de desinformação eleitoral, não só na Europa e EUA

Em países onde o inglês não é a língua principal, há menos medidas para proteger os eleitores e a democracia contra a desinformação eleitoral

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David Klepper 4 minutos de leitura

Alertas sobre deepfakes e desinformação impulsionada por IA. Preocupações sobre campanhas e candidatos usando as redes sociais para espalhar mentiras. Temores de que as empresas de tecnologia não consigam resolver esses problemas enquanto suas plataformas são usadas para minar a democracia antes das eleições.

Estas são algumas das preocupações na corrida presidencial dos EUA, onde a maioria dos eleitores fala inglês. Mas, em dezenas de países onde o inglês não é a língua predominante, há ainda menos medidas em vigor para proteger os eleitores e a democracia contra os efeitos corrosivos da desinformação eleitoral. Este é um problema que está recebendo atenção em um ano no qual grande parte do mundo irá às urnas para escolher seus representantes.

As big techs têm enfrentado uma intensa pressão política em países como os EUA e na União Europeia para mostrar que estão empenhadas em combater as informações falsas, discursos de ódio e propaganda autoritária que poluem suas plataformas.

Mas críticos afirmam que elas têm dado menos atenção a preocupações semelhantes de eleitores que falam outros idiomas, refletindo uma tendência de longa data de priorizar a língua inglesa, os EUA e outras democracias ocidentais.

Mudanças recentes no setor – como demissões de moderadores de conteúdo e decisões de reverter algumas políticas de desinformação – apenas agravaram a situação, mesmo diante de novas tecnologias como a IA, que facilitam a produção de áudios e vídeos realistas que podem enganar os eleitores.

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Essas lacunas abriram oportunidades para candidatos, partidos políticos e adversários estrangeiros que buscam criar caos eleitoral mirando em falantes de outros idiomas – como os latinos nos EUA ou os milhões de eleitores na Índia, por exemplo, que falam uma língua diferente do inglês.

“Se há uma população significativa que fala outro idioma, certamente haverá desinformação direcionada a eles”, afirma Randy Abreu, advogado do Conselho Nacional de Mídia Hispânica dos EUA, que criou a Coalizão de Desinformação em Língua Espanhola para rastrear e identificar desinformação direcionada a eleitores latinos no país.

Muitas das grandes empresas de tecnologia costumam anunciar seus esforços para proteger as eleições, e não apenas nos EUA e na UE. Neste mês, a Meta está lançando um serviço no WhatsApp que permitirá aos usuários sinalizar possíveis deepfakes para checadores de fatos. O serviço funcionará em quatro idiomas – inglês, hindi, tâmil e telugu.

Agências de checagem surgiram como uma linha de frente de defesa contra desinformação viral sobre eleições.

A empresa afirma que possui equipes monitorando desinformação em dezenas de idiomas e anunciou novas políticas para o período eleitoral que serão aplicadas globalmente, incluindo rótulos obrigatórios para deepfakes, bem como para anúncios políticos criados com IA. Mas essas regras ainda não entraram em vigor e a Meta não revelou quando começará a aplicá-las.

As leis que regem as plataformas de mídia social variam de acordo com o país e críticos dizem que as empresas têm sido mais ágeis em abordar questões sobre desinformação nos EUA e na UE, que recentemente promulgou novas leis destinadas a resolver o problema. Outros países muitas vezes recebem apenas uma resposta “padrão” que deixa a desejar, de acordo com uma análise publicada neste mês pela Fundação Mozilla.

O estudo analisou 200 anúncios de política nas plataformas da Meta, TikTok, X/ Twitter e Google (proprietário do YouTube) e descobriu que quase dois terços focavam somente nos Estados Unidos ou na União Europeia.

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As ações nessas jurisdições também costumavam envolver investimentos consideráveis de pessoal e recursos, segundo a Fundação, enquanto novas políticas em outros países dependiam mais de parcerias com agências de checagem de fatos e campanhas de letramento midiático.

Na Índia, a maior democracia do mundo, se fala mais de uma dúzia de idiomas, cada um com mais de 10 milhões de falantes nativos. Além disso, o país contabiliza mais de 300 milhões de usuários no Facebook e quase meio bilhão no WhatsApp – o país com o maior mercado do mundo.

Agências de checagem surgiram como uma linha de frente de defesa contra desinformação viral sobre eleições. A Índia realizará eleições no fim do ano e os eleitores que buscam informações sobre os candidatos online estão sendo inundados com informações falsas e enganosas.

“A desinformação está se proliferando a um ritmo alarmante, auxiliada pela tecnologia e alimentada e financiada por aqueles que têm a ganhar com ela”, afirma Ritu Kapur, cofundadora e diretora administrativa do “The Quint”, site de notícias que recentemente se juntou a várias outras plataformas e ao Google para criar uma nova iniciativa de checagem de fatos conhecida como Shakti. “A única maneira de combater [a desinformação] é unindo forças.”


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