Os IPO’s mais esperados de 2022 no mundo e no Brasil

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 10 minutos de leitura

No final do terceiro trimestre, 1.635 empresas abriram capital em todo o mundo, um número superior ao total registrado em 2018, 2019 e 2020. Condições favoráveis no mercado estimularam muitas companhias a dar esse salto. Apesar disso, no setor de tecnologia os resultados não foram como o desejado. Mais de 50 empresas do segmento abriram capital neste ano. Nesta fase final do ano, praticamente todas elas enfrentaram queda no valor das ações em torno de 20% (ou mais) em relação ao pico. Quase metade teve uma redução ainda maior: 50%. E a Robinhood, uma corretora americana que tem uma aplicativo gamificado, teve um desempenho de amargurar: no início de dezembro suas ações valiam 75% menos do que em agosto.

Isso, porém, não desencorajou algumas companhias de programarem seus IPOs em 2021. Várias grandes corporações devem estrear na bolsa nos próximos 12 meses. Aqui estão empresas com pedidos de IPO já feitos, porém não realizados, e companhias que o mercado aposta que vão fazer sua oferta, ainda que nenhuma tenha feito uma declaração referente à Comissão de Valores Mobiliários.

Stripe

É um dos IPOs em que a maioria dos observadores do mercado está de olho. Com uma avaliação de US$ 95 bilhões, a Stripe foi fundada há 12 anos pelos irmãos John e Patrick Collison. A empresa de processamento de pagamentos cresceu e se tornou uma força global, com mais de quatro mil funcionários, uma base de clientes que inclui Amazon e DoorDash. A receita reportada é superior a US$ 7,5 bilhões por ano.

Discord

Os fundadores Jason Citron e Stan Vishnevskiy lançaram o Discord em 2015 para criar uma ferramenta de comunicação melhor para suas equipes de desenvolvedores remotos. Quando os gamers adotaram o aplicativo de bate-papo, no entanto, não houve como voltar atrás. Hoje, o Discord conta com 150 milhões de usuários ativos mensais. A Microsoft tentou comprar a plataforma no primeiro semestre deste ano por um valor estimado em US$ 10 bilhões, mas as negociações não foram adiantes. A companhia preferiu seguir outro caminho e agora está bem de caixa. Uma rodada de financiamento em setembro arrecadou US$ 500 milhões, elevando sua avaliação para US$ 15 bilhões.

Mobileye

A Intel adquiriu esta empresa de direção autônoma israelense por US$ 15,3 bilhões há quatro anos. Em 7 de dezembro, anunciou planos de torná-la pública em meados de 2022. Fundada em Jerusalém por Amnon Shashua e Ziv Aviram em 1999, Mobileye é uma das maiores histórias de sucesso entre as empresas de tecnologia de Israel. Ela pode ser avaliada em mais de US$ 50 bilhões, segundo alguns relatórios. O CEO da Intel declarou que as vendas da divisão triplicaram desde que a companhia assumiu a Mobileeye, com quase US$ 1 bilhão em receita no ano passado.

Impossible Foods

Em 2011, Patrick Brown, professor de bioquímica da Universidade Stanford, fundou a empresa, que substitui produtos de carne por opções baseadas em vegetais. Desde então, a Impossible Foods se tornou uma marca presente em supermercados e restaurantes. A tendência crescente de pessoas que optam por um estilo de vida baseado em plantas faz com que a companhia fique ainda mais atraente para os investidores. Até o momento, levantou US$ 1,5 bilhão em capital de risco e, segundo consta, buscará uma avaliação de US$ 10 bilhões.

Instacart

Poucas empresas se beneficiaram mais com a pandemia do que este serviço de entrega de alimentos. Fundada em 2012 pelo engenheiro Apoorva Mehta, ex-funcionário da Amazon.com, a Instacart viu sua avaliação dobrar no início deste ano para impressionantes US$ 39 bilhões, depois que sua receita mais do que triplicou para US$ 1,5 bilhão em 2020. Atualmente entrega produtos para mais de 85% das residências nos EUA. E trabalha com mais de 600 varejistas nacionais. O IPO, que originalmente estava previsto para acontecer em 2021, pode ocorrer no ano que vem. O CEO Fidji Simo supostamente o adiou para se concentrar no fortalecimento dos serviços da empresa além da entrega.

Airtable

Fundado em 2012 por Howie Liu, Andrew Ofstad e Emmett Nicholas, este serviço de colaboração baseado em nuvem conta com o ator Ashton Kutcher entre seus apoiadores. A empresa dobrou sua avaliação para US$ 5 bilhões no início deste ano, com um aumento de US$ 200 milhões. Mais de 200 mil empresas, incluindo Netflix, Expedia e Shopify, usam a plataforma de baixo código da Airtable para construir aplicativos colaborativos.

Panera

Não se pode realmente dizer que haverá uma oferta pública inicial da rede de restaurantes Panera, fundada em 1980. Ela já foi cotada na bolsa até se tornar privada em 2017. Mas a rede anunciou planos para um IPO. Ao mesmo tempo, viu um investimento de valor desconhecido do SPAC (Special Purpose Acquisition Company, um tipo de investimento) de Danny Meyer, da USHG Acquisition Corp. Meyer se tornará diretor após a empresa abrir capital.

Klarna

A fintech que permite aos compradores dividir qualquer compra em quatro pagamentos sem juros viu sua base de clientes dobrar em 2020, chegando a 20 milhões de pessoas. Fundada em 2005, a empresa trabalha com mais de 250 mil parceiros de varejo e tem uma avaliação de US$ 45,6 bilhões. A companhia está sendo cuidadosa no caminho para o IPO. O CEO Sebastian Siemiatkowski declarou neste ano que a volatilidade do mercado o deixava cauteloso. A empresa também registrou prejuízo de US$ 344 milhões nos primeiros três trimestres de 2021.

ThoughtSpot

O cofundador e CEO Ajeet Singh já passou por um IPO antes. Ele é também fundador da empresa de cloud-computing Nutanix, que abriu capital em 2016. Em 2012, Singh lançou o ThoughtSpot, uma ferramenta de inteligência de negócios e provedor de análise de negócios baseado em nuvem com foco em Big Data. Em novembro, a empresa levantou US$ 100 milhões em uma rodada que elevou seu financiamento total para US$ 674 milhões e sua avaliação para US$ 4,2 bilhões.

Chime

A fintech que está há oito anos no mercado não confirmou que buscará um IPO, mas há relatos de que a oferta pública está perto de acontecer. A empresa, que oferece serviços de mobile banking gratuito, no ano passado lançou cartões de crédito de metal que viraram mania entre as pessoas. Fundado por Chris Britt e Ryan King, o Chime tem uma avaliação de mais de US$ 35 bilhões, valor superior ao de muitos bancos regionais.

E NO BRASIL…

Por aqui, tivemos um período intenso na Bolsa de Valores. Em 2021, foram realizados 45 IPOs. É o segundo ano com o maior número de ofertas públicas, atrás apenas de 2007, quando ocorreram 64. Como aponta Leonardo Resende, gerente de relacionamento com empresas da B3, companhias de diferentes portes e setores optaram pela abertura de capital para alavancar seus negócios. “Com isso, os IPOs captaram mais de R$ 65 bilhões em 2021”.

Crédito: divulgação B3

O cenário mudou bastante nos últimos dois anos. A B3 informa que em 2019 foram realizados apenas 5 IPOs, com captação de aproximadamente R$ 9,8 bilhões: Centauro, Neoenergia, Vivara, Banco BMG e C&A. Já em 2020, foram feitos 28, com captação de R$ 43,9 bilhões. Entre as empresas que abriram capital no ano passado estão Rede D’Or (que teve o maior IPO de 2020, captando cerca de R$ 11,4 bilhões), Petz, Grupo Soma (dono das marcas Animale, Farm e Foxton), Locaweb, Enjoei e Pague Menos.

Resende observa que neste ano setores que eram pouco representados ampliaram a sua atuação na bolsa, como saúde, tecnologia e agronegócio. “Apenas na área de tecnologia, 11 empresas realizaram IPO em 2021”, salienta.

Em 2021, um dos grandes IPOs foi o da Raizen, em agosto, com uma arrecadação de R$ 6,9 bilhões. Destacam-se ainda o da CSN Mineração, em fevereiro, que movimentou R$ 5,2 bilhões, o da Caixa Seguridade (unidade da Caixa), que levantou cerca de R$ 5 bilhões em abril, e o da Smart Fit, em julho, com a captação de R$ 2,3 bilhões.

Há ainda o caso do Nubank, que fez um duplo IPO. Estreou na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) no dia 09 de dezembro. E na B3 fez a estreia dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que representam uma ação negociada nos EUA.  O banco digital arrecadou US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 14,5 bilhões na ocasião) na oferta base da abertura de capital em Nova York, com as ações precificadas em US$ 9 por papel. Seu valor de mercado chegou, no dia, a US$ 47,6 bilhões. No Brasil, as negociações iniciais de BDRs rendaram em torno de R$ 342,5 milhões.

crédito: divulgação Nubank

A dupla listagem do Nubank, nos EUA e no Brasil, foi considerada um momento histórico pelo fundador do banco digital, David Vélez, na cerimônia de estreia dos BDRs na B3. “Desde o primeiro momento em que decidimos fazer o IPO, tínhamos claro que seria uma dupla listagem”, declarou na ocasião. Acredita-se que fazer esse movimento seja uma tendência para as companhias brasileiras que queiram buscar recursos no exterior. Também se espera que mais empresas nacionais – e da América Latina – façam listagem na NYSE no primeiro semestre de 2022. O chefe de mercados internacionais da Bolsa de NY, Alex Ibrahim, que é brasileiro, afirmou para a Reuters, pouco depois do IPO do Nubank, que eles têm conversado com fintechs, empresas de consumo e de saúde.

No que se refere à oferta inicial de ações no Brasil, para 2022, ano de eleições, o que deixa o país e o mercado em ebulição, há expectativas em torno de algumas empresas que fizeram pedidos de IPO neste ano junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que ainda não o realizaram.

Em certos casos, os processos foram interrompidos – cerca de 70 foram cancelados ou suspenso em 2020. Em outros, os registros foram feitos em dezembro. E existem ainda especulações no mercado sobre algumas companhias que não fizeram nenhum pedido na CVM.

Coty – A unidade brasileira da Coty, dona de marcas como Risqué, Monange, Bozzano e Cenoura & Bronze, fez o pedido de IPO em agosto. Mas em novembro decidiu suspender o processo até pelo menos fevereiro de 2022, à espera de condições mais favoráveis. Os recursos obtidos com a oferta devem ser utilizados na aceleração do e-commerce e no desenvolvimento de produtos.

CSN Cimentos – Braço da CSN, a CSN Cimentos entrou com pedido de IPO na CVM em maio. O processo foi suspenso em julho. Em setembro, voltou-se a cogitar a oferta depois que a CSN fechou acordo de compra da Lafarge Holcim por US$ 1,025 bilhão. Com a aquisição, fortaleceu seu negócio na área de cimentos e a divisão passou a estar entre os três maiores produtores do país. No sistema da CVM, o IPO segue em análise.

Cencosud – Com dez anos de atuação no país, a rede varejista fez seu registro para IPO em setembro. A empresa possui 339 lojas em oito estados brasileiros. Com a abertura de capital, a rede pretende destinar metade dos recursos para fusões e aquisições, 35% do montante obtido seriam para abrir novas unidades e 15% seriam para impulsionar o e-commerce. A Cencosud teria deixado o IPO para o primeiro semestre de 2022.

Tambasa – Atacadista de origem mineira com foco em material para reforma e construção e mais peças para carros e itens para agropecuária, a empresa protocolou seu pedido de IPO em dezembro. A Tambasa, que vem obtendo um crescimento de faturamento na ordem de 20% nos últimos três anos, tem a expectativa de levantar mais de R$ 2 bilhões. Sua receita líquida em 2020 foi de R$ 3,6 bilhões.

Entre os rumores do mercado sobre possíveis IPOs estão Hotmat, plataforma de educação, e Ebanx, plataforma de pagamentos online. A primeira, fundada em 2011, se tornou unicórnio em 2020. Com escritórios abertos fora do Brasil, a expectativa é que faça sua listagem no exterior, o que também é esperado da Ebanx, que surgiu em 2012 em Curitiba. Em dezembro, comprou a fintech Remessa Online por R$ 1,2 bilhão.

(Este texto foi adaptado da reportagem The 10 most highly anticipated IPOs of the next 12 months, de Chris Morris, da Fast Company.)


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais