Por que Hollywood adotou blockchain, criptomoedas e NFTs

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Fast Company Brasil 6 minutos de leitura

Adiado três vezes desde a primavera de 2020, o 25º filme do James Bond, “007: Sem tempo para morrer” [No Time to Die, no original], finalmente foi lançado em Londres no início de outubro, arrecadando US$ 119 milhões em sua estreia internacional. O lançamento não só representou o retorno dos espectadores às salas de cinema em várias partes do mundo, como também deu uma pista de como será o papel da tecnologia na distribuição da cultura e do entretenimento no futuro.

De publicidade a captação de recursos, o uso da tecnologia de criptoativos e blockchain pelos estúdios pode garantir a satisfação dos cineastas, varejistas e espectadores, ao modernizar o modelo de produção e distribuição de filmes. “007: Sem tempo para morrer” é a primeira grande produção de Hollywood a receber tamanho apoio, mas estender o financiamento baseado em criptoativos a outros projetos de Hollywood pode transformar drasticamente a indústria do entretenimento.

A MGM ocupa uma posição de vanguarda nesse setor. A empresa (comprada pela Amazon em maio deste ano por US$ 8,45 bilhões) já trabalha em parceria com grandes nomes da tecnologia para atingir um público mais amplo e monetizar seus produtos. No início de 2021, ela anunciou uma colaboração com a Eluvio e sua plataforma Content Fabric para financiar as exibições, pré-lançamentos em dispositivos locais, campanhas de marketing e suporte de licenciamento da MGM. Os avanços recentes da Eluvio na área da segurança de blockchain para conteúdo de streaming estão permitindo que as empresas de mídia expandam ainda mais as iniciativas de monetização, com maiores níveis de personalização e garantia de direitos. A MGM também é uma das várias empresas de mídia da atualidade a explorar a viabilidade de distribuir tokens não fungíveis [NFTs, na sigla em inglês] para proteger seus IPs [Intellectual Property, na sigla em inglês]. Essa distribuição de colecionáveis digitais está sendo feita em parceria com a VeVe para o filme “007: Sem tempo para morrer”.

De acordo com um relatório recente da Industry Research sobre o impacto do blockchain no setor de mídia e entretenimento, a tecnologia blockchain pode transformar “métodos usados pela indústria, relacionados a segurança de conteúdo, gerenciamento de licenças e direitos, publicidade digital e distribuição de royalties”. Com os criptoativos e o blockchain, a indústria do cinema está prestes a reinventar seus negócios, garantindo transações seguras, transparentes e rastreáveis ​​em todo o mercado.

As maiores empresas de mídia do mundo vêm enfrentando uma série de dificuldades nos últimos anos, entre elas o aumento da pirataria, a crise das bilheterias (por causa da covid-19) e o desafio de monetizar plenamente as plataformas de streaming. De acordo com o relatório da Industry Research, “graças à tecnologia blockchain, empresas de mídia e de publicidade conseguem evitar fraudes, reduzir custos e aumentar a transparência em negociações complexas e demoradas. Além disso, a tecnologia blockchain ajuda as empresas de mídia e entretenimento a assegurar os direitos relacionados a propriedade intelectual.”

A pirataria e questões ligadas ao acesso a serviços ainda são as maiores ameaças para a indústria do entretenimento. A tecnologia blockchain, que permite a transmissão segura de conteúdo, e os investimentos em criptoativos, que financiam o trabalho de cineastas independentes, vêm para transformar a maneira como uma produção é criada e distribuída. Assim, espera-se que o mercado global de criptoativos e blockchain na indústria de mídia e entretenimento movimente Us$ 1.596.300  até 2027, ultrapassando os US$ 466 milhões de 2020.

MUITO POTENCIAL, MUITO DINHEIRO

Sou sócio-gerente da Parkpine Capital, um fundo de capital de risco, e já vejo os efeitos do interesse crescente em investimento em entretenimento baseado em ativos digitais. Nosso fundo de US$ 175 milhões destinado a startups nos estágios Seed e Série A está prestes a ser concluído, e vamos lançar uma plataforma de investimento privado com capacidade de investimento de mais de US$ 3 bilhões, para financiar a indústria de entretenimento de base tecnológica.

Percebemos que os executivos dos estúdios e os gerentes de fundos tecnológicos estão dispostos a investir em startups de entretenimento com base em blockchain/criptoativos que irão ampliar a distribuição internacional de filmes e produtos. No mercado dos filmes independentes, o financiamento é escasso e os investidores geralmente ficam receosos, por causa do alto risco desses projetos. A implementação de NFTs e a democratização da produção de projetos por meio do crowdfunding é uma oportunidade para todos os artistas, mas especialmente para o cenário do cinema independente. Tanto para os grandes estúdios quanto para os cineastas independentes, os investimentos em criptoativos/blockchain permitem mais flexibilidade, custos de mão de obra mais baixos e processos de produção eficientes. Ao reduzir o risco dos investimentos, os criptoativos estão ampliando as oportunidades para todo o setor.

No que se refere ao consumidor, a AMC anunciou recentemente que passará a aceitar pagamentos em Bitcoin, Ethereum, Litecoin e Bitcoin Cash. À medida que diversas empresas mergulham de cabeça nos ativos digitais, algumas delas, como a DraftKings, a Funko e a Liquid Media, exploram a aplicação de NFTs no âmbito da cultura pop e dos esportes. O aumento da adoção de criptotransações pela indústria provavelmente fortalecerá a relação entre estúdios, investidores e realizadores.


Essa ânsia pelo financiamento baseado em ativos digitais tende a aumentar mais, ainda que a China – o maior mercado cinematográfico mundial – esteja impondo restrições a transações de criptomoedas e à própria indústria do entretenimento. Recentemente, o país baniu os criptoativos em seu território, medida que faz parte de uma série de proibições que se estendem a filmes de super-heróis, videogames e à composição de certos personagens. Embora a restrições da China a determinados conteúdos e à moeda possam parecer um obstáculo em potencial para a ampla implementação dos criptoativos (e o país se tornará cada vez mais rígido nesse sentido), a questão se mostra mais complexa que isso. A reação contra os ativos digitais é parte de um conjunto de medidas mais abrangentes que a China vem implementando no sistema financeiro do país como um todo, numa tentativa de reduzir os riscos e estabilizar o crescimento, que tem sido exponencial nos últimos anos. No entanto, há limites para o alcance dessas restrições (estamos identificando certa flexibilidade), já que o país permitiu o lançamento, em 29 de outubro, de “007: Sem tempo para morrer”, fruto de financiamento baseado em blockchain.

Apesar da recente turbulência nos mercados, que provavelmente sofreram o impacto, ao menos em parte, das medidas regulatórias da China, os criptoativos e a tecnologia revolucionária do blockchain que estão por trás de tudo vieram para ficar. Os eventos atuais podem até adiar o que virá em seguida, mas a mudança é inevitável. Assim como as tecnologias de áudio inauguraram a Idade de Ouro de Hollywood, os criptoativos e o blockchain estão só esperando para entusiasmar e arrebatar cineastas e espectadores.


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