Em breve, sua salada será feita com verduras editadas geneticamente

A edição genética é uma vitória tanto para agricultores quanto para consumidores

Crédito: Aydinozon/ iStock

Juergen Eckhardt 4 minutos de leitura

Se eu pedisse para você citar algumas de suas guloseimas naturais favoritas, é provável que café, chocolate e frutas estariam na lista. Agora pense em algo saudável que você sabe que deveria comer mais, mas cujo sabor não agrada muito. Talvez folhas venham à sua mente.

Tenho boas e más notícias sobre este pequeno experimento, e esses dois cenários díspares não são tão diferentes quanto parecem, graças a uma inovação tecnológica que pode revolucionar a agricultura.

O CRISPR funciona como um conjunto de “tesouras moleculares” capazes de cortar o DNA de uma planta com grande precisão.

Primeiro, as más notícias: alguns de nossos cultivos preferidos estão atualmente sob ameaça. Café, cacau, banana e frutas cítricas se enquadram nessa categoria. O café arábica, por exemplo, depende de uma certa quantidade de chuva e de temperaturas amenas para crescer. Mas a volatilidade do clima está forçando alguns agricultores ao longo do “cinturão dos grãos” em regiões equatoriais a abandonar completamente o cultivo de café.

O cacaueiro, a árvore tropical que produz a matéria-prima do chocolate, tem uma diversidade genética limitada e é suscetível a doenças fúngicas, que destroem de 20% a 30% das vagens de cacau antes de poderem ser colhidas.

A principal variedade comercial de banana, chamada Cavendish (mais conhecida no Brasil como banana nanica ou d’água), corre o risco de entrar em extinção devido a um fungo mortal que invadiu as Américas, onde a maioria é cultivada.

Mas há boas notícias: graças a uma inovação tecnológica revolucionária, podemos proteger – e até melhorar – as colheitas. Trata-se do CRISPR (sigla em inglês para repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente espaçadas), que funciona como um conjunto de “tesouras moleculares” capazes de cortar o DNA de uma planta com grande precisão para produzir a mudança desejada.

MAIS SABOR E VALOR NUTRICIONAL

As duas cientistas responsáveis pelo seu desenvolvimento, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, receberam o Prêmio Nobel em 2020, e a técnica ganhou destaque por sua aplicação em doenças humanas. Os primeiros medicamentos CRISPR, para tratar a doença falciforme, devem receber aprovação da FDA (agência norte-americana que autoriza a venda de alimentos e medicamentos) ainda este ano.

a primeira safra de produtos editados com o CRISPR – uma salada com alto teor nutricional – chegará ao mercado nos EUA no segundo semestre.

Por outro lado, relativamente poucas pessoas estão cientes de sua crescente relevância para o setor agrícola. Diferentemente do cruzamento genético tradicional, que leva de sete a 10 anos para alcançar características desejáveis, a edição de genes pode produzir variedades em apenas uma fração desse tempo.

Universidades e o setor privado já realizaram avanços importantes no melhoramento genético de plantas utilizando o CRISPR. A empresa de biotecnologia Elo Life Systems, por exemplo, está desenvolvendo uma variedade de banana resistente a fungos a partir dessa técnica. Também já foram relatadas melhorias na resistência a doenças em culturas como cacau, arroz, milho, batata e mandioca.

Além disso, é possível utilizá-lo para melhorar o sabor e o valor nutricional de frutas e verduras. Lembra daquelas folhas ricas em nutrientes que deveríamos consumir mais? Pois bem, a primeira safra de produtos editados com o CRISPR chegará ao mercado norte-americano no segundo semestre – uma salada chamada Conscious Greens, com alto teor nutricional e sabor mais agradável.

DNA EDITADO É DIFERENTE DE MODIFICADO

As vantagens da edição genética para a produção agrícola vão além do sabor, valor nutricional e resistência a doenças. Ela também pode contribuir para a redução do impacto ambiental da produção de alimentos ao tornar as culturas mais eficientes e produtivas, além de introduzir diversidade genética para melhorar a resistência às mudanças climáticas.

Para agricultores, ferramentas de reprodução de precisão

O CRISPR permite que o genoma da planta seja editado de forma direta e precisa, portanto, ela não é geneticamente modificada.

como o CRISPR são essenciais para aumentar a produtividade, reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas, diminuir a quantidade de terra necessária para plantar e tornar as culturas mais resistentes a condições adversas, como seca ou excesso de água.

Os consumidores também têm muito a ganhar, embora muitos ainda não saibam como a técnica difere dos organismos geneticamente modificados (OGMs), que têm sido objeto de debate desde a década de 1990. Os OGMs são criados a partir da inserção de um gene desejável de outra espécie em uma cultura – como um gene de uma bactéria do solo que produz um inseticida natural, por exemplo.

A edição de genes, por outro lado, não requer a inserção do DNA de uma espécie estranha. As “tesouras moleculares” do CRISPR permitem que o genoma da planta seja editado de forma direta e precisa. Portanto, estes alimentos não são geneticamente modificados.

As vantagens ambientais, econômicas e para a saúde da edição genética na agricultura são históricas. No futuro, talvez vejamos culturas editadas que podem crescer em água salgada, sobreviver a inundações e secas extremas e armazenar mais carbono em suas raízes.


SOBRE O AUTOR

Juergen Eckhardt é vice-presidente sênior e diretor da Leaps by Bayer, a unidade de investimento de impacto da Bayer. saiba mais