Como o trabalho de cuidar da família impacta a carreira das mulheres
Se cultivarmos um ecossistema de mudanças, as mulheres conseguirão atravessar os períodos como cuidadoras mantendo a saúde e a dignidade
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Atualmente, muitas mulheres equilibram as demandas da carreira com o peso das responsabilidades de cuidar. Conforme elas adentram as chamadas “décadas de cuidado”, a trajetória passa da criação dos filhos para a manutenção da casa e, por fim, para o cuidado com os pais idosos.
Essa complexa travessia se estende por décadas, durante as quais os principais momentos da vida são marcados por uma mistura de resiliência e heroísmo. No entanto, por trás dessa narrativa romantizada, há uma verdade não dita: existe todo um trabalho não remunerado que sustenta esses cuidados.
Dados do Bureau of Labor Statistics mostram um contraste muito claro: as mulheres dedicam às tarefas domésticas não remuneradas quase o dobro do tempo dos homens. Desde a logística dos cuidados com os filhos até o apoio aos idosos da família, as mulheres fazem malabarismos com papéis multifacetados, muitas vezes sem receber o mínimo de consideração ou reconhecimento por isso.
Esse trabalho oculto cobra um preço, afetando a saúde física, o equilíbrio emocional e o bem-estar psíquico. A luta para equilibrar esses papéis aprisiona inúmeras mulheres em uma situação difícil, com consequências que vão muito além do que se pode perceber na superfície.
MENOS SALÁRIO E MENOS SAÚDE
O grande impacto desse período como cuidadoras sobre a saúde das mulheres fica evidente quando analisamos as estatísticas. Pesquisas demonstram que o estresse cumulativo de cuidar dos outros aumenta o risco de problemas crônicos de saúde, inclusive doenças cardíacas e depressão.
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Os impactos financeiros e na vida profissional causados por décadas de prestação de cuidados também são imensos. Em uma análise conduzida pelo National Women’s Law Center, constatou-se que a média de ganhos ao longo da vida das mulheres que têm responsabilidades como cuidadoras é quase 30% menor do que a das que não têm essas responsabilidades.
A dura realidade é que a carga de cuidados amplia a diferença salarial entre os gêneros, perpetuando as disparidades financeiras ao longo da carreira das mulheres e até a aposentadoria.
embora 70% a 90% dos homens se sintam igualmente responsáveis pelo cuidado com os filhos, as mulheres ainda realizam até sete vezes mais trabalho de cuidado não remunerado.
Além disso, o crescimento profissional é profundamente influenciado pelo tempo dedicado aos cuidados. Um estudo da LeanIn.Org e da McKinsey descobriu que as mulheres têm uma probabilidade 1,5 vez maior do que os homens de pensar em se afastar ou em deixar o emprego devido às responsabilidades de cuidar dos outros.
Essa saída, geralmente vista como uma escolha necessária, restringe a ascensão das mulheres na carreira e priva o mercado de trabalho de diversos talentos.
Mas há maneiras de mudar essa narrativa. As estratégias para mitigar os riscos de saúde, financeiros e de carreira relacionados às “décadas de cuidados” incluem priorizar o autocuidado e o gerenciamento do estresse. Contar com infraestrutura de cuidados em casa e no trabalho pode ajudar a percorrer essa jornada tortuosa e, ao mesmo tempo, proteger o bem-estar de quem cuida.
O PAPEL DOS HOMENS
Atualmente, mais homens do que nunca estão se dedicando aos cuidados, mas isso não basta. Pelo mundo afora, homens têm expressado o desejo de ampliar suas responsabilidades de cuidado em casa, mas as expectativas sociais com relação ao papel deles na família e na sociedade, além da falta de apoio, frustram essas intenções.
Um relatório intitulado "State of the World’s Fathers" (Estado dos Pais do Mundo) revela que, embora 70% a 90% dos homens nos países pesquisados se sintam igualmente responsáveis pelo cuidado com os filhos, as mulheres ainda realizam até sete vezes mais trabalho de cuidado não remunerado em algumas regiões.
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"Em média, os salários dos homens em todo o mundo são um quinto mais altos do que os das mulheres", observa Gary Barker, CEO da Equimundo. "Muitas famílias tomam a decisão de que o trabalho remunerado do homem traz mais benefícios."
Mesmo com uma parte dos homens se esforçando para preencher a lacuna do cuidado, os modelos ultrapassados de trabalho e sociedade apresentam obstáculos consideráveis.
Reconhecendo essa dinâmica, as empresas com visão de futuro podem desempenhar um papel fundamental para tornar a década de cuidados menos assustadora para as mulheres.
MUDANÇA SOCIAL E CULTURAL
Oferecer políticas robustas de licença familiar que englobem licença parental, licença para cuidar dos filhos e licença médica pode aliviar a tensão de equilibrar o trabalho e as responsabilidades de cuidar de crianças.
Em média, os salários dos homens em todo o mundo são um quinto mais altos do que os das mulheres.
O acesso a creches acessíveis e de alta qualidade pode permitir que as mulheres continuem engajadas na carreira sem comprometer suas funções de cuidadoras. Além disso, a implementação de arranjos flexíveis – como trabalho remoto, horários flexíveis e semanas de quatro dias – pode permitir que as mulheres gerenciem suas responsabilidades com mais eficiência.
Em meio a esses esforços, os homens também têm um papel fundamental. Conforme eles aumentam sua participação nas responsabilidades de cuidar dos filhos em casa, o estigma que envolve o cuidado masculino vai sendo derrubado.
Os locais de trabalho podem promover a inclusão, incentivando os funcionários do sexo masculino a assumir as funções de cuidador sem medo de serem prejudicados profissionalmente.
Ao cultivarmos coletivamente um ecossistema de mudança que defenda o bem-estar e apoie o cuidado equitativo, daremos às mulheres a chance de atravessar o período em que cuidam dos outros mantendo sua própria saúde e dignidade preservadas.