Psicólogos desmontam 4 mitos sobre a inteligência emocional

“Inteligência emocional” é uma expressão banalizada, mas há uma série de equívocos por aí

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Art Markman 4 minutos de leitura

Desde que o livro "Inteligência Emocional", de Daniel Goleman, foi lançado (em 1995), essa expressão entrou na moda em quase todas as áreas. Mas, apesar do número de vezes que esse conceito é evocado em reuniões, artigos e treinamentos, há uma série de equívocos sobre a inteligência emocional. A começar pelo emprego das palavras “emoção” e “inteligência”.

A seguir, desfazemos quatro mitos muito comuns:

1. Inteligência emocional não é exatamente uma inteligência

A maioria dos testes de inteligência se concentra na velocidade, capacidade e coordenação de um indivíduo, medindo aquilo que é chamado de “inteligência fluida”. Na década de 1980, alguns pesquisadores desenvolveram teorias sugerindo que não existe uma única inteligência subjacente, mas sim várias delas que levam às diferenças entre as pessoas em sua capacidade de navegar pelo mundo. O surgimento do conceito de “inteligência emocional” foi uma consequência desse movimento.

O termo inteligência emocional passa a falsa ideia de que lidar bem com as pessoas é uma habilidade que alguns têm naturalmente e outros não.

O que chamamos de inteligência emocional não é um fator geneticamente determinado, que crie diferenças individuais em como as pessoas respondem aos outros ao seu redor. É realmente um conjunto de conhecimentos e habilidades que se desenvolvem ao longo do tempo. Eles permitem que as pessoas sejam mais conscientes e sensíveis aos outros e interajam com seus pares com mais sucesso.

Ao usar o termo inteligência, passamos a false ideia de que lidar de forma eficaz com as pessoas é uma habilidade que alguns têm e outros não. Prefiro utilizar o termo “habilidades interpessoais”, por dois motivos: em primeiro lugar, porque enfatiza que todos podemos aprender a ser mais eficazes ao lidar com os outros. Em segundo, porque aquilo que costuma ser chamado de inteligência emocional não tem nada a ver com emoção.

2. Inteligência emocional não é realmente sobre emoções

As emoções são o resultado das interações entre as pessoas. As habilidades pessoais têm menos a ver com a emoção e muito mais a ver com a capacidade de ler, compreender e, finalmente, influenciar a motivação dos outros.

aquilo que costuma ser chamado de inteligência emocional não tem nada a ver com emoção.

Para entender as motivações das pessoas, você certamente precisa estar sintonizado com suas próprias emoções, pois isso lhe dará informações sobre quais objetivos elas têm em mente e se estão obtendo sucesso ou falhando no que se propõem a fazer.

Mas você também precisa prestar atenção à situação em que as outras pessoas estão. Os papéis que as pessoas desempenham afetam os objetivos que elas abraçam. Precisa ainda conhecer seus próprios objetivos e motivações. Assim, você pode encontrar maneiras de alinhar suas motivações com as dos outros, para criar mais oportunidades de cooperação e colaboração.

3. A inteligência emocional não vai necessariamente fazê-lo feliz 

Pessoas com grandes habilidades interpessoais geralmente estão sintonizadas não apenas com as emoções negativas dos outros, mas também com os fatores que trazem alegria ou alívio. Prestar atenção à gama de emoções das outras pessoas é crucial para realmente saber o que as motiva. 

Dito isso, ter uma grande compreensão das emoções positivas não é sinônimo de ser feliz o tempo todo. Na verdade, quanto mais você aprende sobre motivação e emoção, mais percebe como é crucial experimentar toda a gama de emoções para que todas elas sejam reais.

As habilidades pessoais têm mais a ver com a capacidade de ler, compreender e influenciar a motivação dos outros.

Quando você tenta evitar uma experiência emocional específica, faz isso desviando dos seus objetivos para não ser mais afetado por algo que está levando a essa experiência. Por exemplo, muitas pessoas não gostam de ficar tristes. Para evitar a tristeza ou evitar mostrar sua tristeza para os outros, elas se desviam de situações em que se sentem tristes.

No entanto, a tristeza é uma emoção que qualquer um experimenta quando está motivado a conseguir um resultado mas não consegue. Se você reprime a tristeza, precisa se livrar desse mecanismo de defesa.

Alcançar objetivos que trazem angústia leva à alegria, felicidade e satisfação. Portanto, paradoxalmente, tentar evitar a tristeza significa que você se desvincula dos próprios objetivos que, em última análise, também constroem a sua felicidade.

4. Inteligência emocional é importante, mas o conhecimento profissional também é

Não há dúvida de que ter boas habilidades interpessoais permite que os líderes gerenciem com mais eficiência. Mas é perigoso priorizar a inteligência emocional em detrimento de uma verdadeira compreensão do domínio em que o negócio opera.

Para entender as motivações das pessoas, você precisa estar sintonizado com suas próprias emoções.

O currículo de negócios moderno isolou o gerenciamento como uma habilidade e função essencial, o que pode levar à crença de que alguém que é um bom líder em um contexto provavelmente também será eficaz em outros. Só que um bom líder precisa conhecer muito bem o negócio em que está operando.

Suas habilidades interpessoais permitirão que você influencie o comportamento de outras pessoas. Mas saber o que você está tentando levá-los a fazer requer entender muito sobre as táticas que provavelmente tornarão o seu negócio bem-sucedido. E isso não pode ser feito se não houver uma compreensão profunda e ampla de como ele funciona.


SOBRE O AUTOR

Art Markman é PhD e professor de psicologia e marketing na Universidade do Texas e diretor-fundador do Programa nas Dimensões Humanas ... saiba mais