Quando a incerteza pode ser motivadora, de acordo com a ciência

Crédito: Fast Company Brasil

Stephanie Vozza 3 minutos de leitura

Quase dois anos após a eclosão da Covid-19, e continuamos a lidar com muita incerteza. Estamos caminhando para o fim da pandemia ou precisaremos descobrir uma maneira de conviver com ela indefinidamente? Podemos planejar um retorno ao escritório ou devemos continuar trabalhando em casa?

Viver rodeado por incertezas pode criar um declínio acentuado na motivação, especialmente se você sente que não está no controle de nada, diz Ayelet Fishbach, autora de Get it Done: Surprising Lessons from the Science of Motivation (Apenas Faça: As Surpreendentes Lições da Ciência da Motivação, em tradução livre).

“Para algumas pessoas, a pandemia parece algo fora do nosso controle, embora possamos controlar a probabilidade de ficarmos doentes”, diz ela. “Usamos a palavra ‘desamparo’ para entender por que as pessoas podem, às vezes, sequer tentar mudar suas circunstâncias. Elas não pensam que podem escapar de seu destino. Este é o lado sombrio da incerteza. Há menos ação.”

QUANDO A INCERTEZA É BOA

Embora as pessoas geralmente não gostem da incerteza, quando ela é transformada em incentivo, pode ter o efeito inverso, a acabar realmente aumentando a motivação, ressalta Fishbach. “Nós tendemos a trabalhar mais quando as recompensas são incertas”, diz ela.

No passado, os adeptos da teoria behaviorista testaram o impacto de incentivos incertos com animais, criando dois esquemas de recompensa: um esquema contínuo, em que o animal recebia a recompensa após todas as respostas corretas, e um esquema intermitente, em que o animal recebia a recompensa apenas em alguns dos casos em que realizava o comportamento esperado.

“Surpreendentemente, os esquemas intermitentes funcionam melhor”, diz Fishbach. “Quando os animais não conseguem descobrir quando a recompensa virá, eles permanecem esperançosos, e continuam a fazer o que você demandar – sentar, ficar quieto, caminhar até você – mesmo quando não houver mais guloseimas para serem distribuídas.”

Recompensas incertas também motivam os humanos. Fishbach, que é professor de ciência comportamental e de marketing na Booth School of Business, da Universidade de Chicago, realizou um experimento com colegas para testar o impacto dos incentivos incertos. Os participantes foram convidados a beber cerca de um litro e meio de água em dois minutos. Algumas das pessoas receberam uma recompensa fixa de US$ 2, e outras foram informadas de que receberiam uma recompensa incerta de US$ 1 ou US$ 2, que seria determinada por um sorteio. Mais pessoas no grupo que recebeu a recompensa incerta beberam a água dentro do limite de tempo.

“Não saber se seus esforços vão valer a pena deixa você curioso para descobrir”, diz Fishbach. “A incerteza por si só não é divertida; ninguém gosta de ficar no escuro. Mas a ideia de superar a incerteza, de apreender a recompensa por meio de seus esforços e de, assim, atravessar da escuridão para a luz, é psicologicamente recompensadora. Os atletas ficam motivados por causa, e não apesar, do fato de que a vitória nunca é uma coisa certa.”

COMO APROVEITAR A INCERTEZA

Felizmente, incentivos incertos são comuns. Por exemplo, ao se candidatar a empregos ou a vagas em escolas, você não sabe se sua inscrição será bem-sucedida e, por isso, você se sente motivado a se preparar bastante. Também é possível usar a incerteza para se motivar a realizar sonhos e alcançar objetivos, definindo metas que você não tem certeza de que pode cumprir completamente.

Por exemplo: um estudo que analisou maratonistas descobriu que há mais pessoas que terminam em pouco menos de quatro horas do que apenas após quatro horas. “A razão é que as pessoas estão se desafiando e estabelecendo uma meta de terminar em menos de quatro horas”, diz Fishbach. “Muitos deles não têm certeza de que são capazes de fazer isso. Isso é empolgante e motivador e faz com que muitas pessoas cumpram a meta oi fiquem logo abaixo dela.”

Algumas vezes você não conseguirá cumprir sua meta; você não tem certeza sobre quando isso vai acontecer, e isso mantém as coisas desafiadoras e emocionantes. “No futuro, tente abraçar a incerteza”, aconselha Fishbach. “Isso também te mantém motivado.”


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais