Precisamos falar sobre um tema que impacta metade dos trabalhadores do mundo

O tema da menopausa permaneceu um tabu. É assim que a conversa está tomando forma

Créditos: Olena Koliesnik/ iStock/ pngegg

Anne Marie Squeo 4 minutos de leitura

Muitos anos atrás, durante a minha primeira reunião com a equipe de liderança, um chefe fez uma “brincadeirinha” sobre as ondas de calor da sua esposa. Naquela sala estavam presentes muitas mulheres em idade de menopausa – inclusive eu.

Embora já tenham se passado 25 anos desde que o primeiro anúncio de TV sobre disfunção erétil foi veiculado na TV nos Estados Unidos, o tema da menopausa insiste em permanecer tabu ou motivo de piada. Mas isso está prestes a mudar. 

Embora os sintomas e a gravidade variem de pessoa para pessoa, essa transição tende a afetar bastante o trabalho e a vida.

Acontece que a menopausa é um grande negócio. À medida que as pessoas vivem mais e que as taxas de natalidade caem, homens e mulheres estão trabalhando mais do que nunca. O que significa que muitas pessoas trabalharão por décadas depois da menopausa.

A menopausa, ou a época na vida de uma mulher quando os níveis de estrogênio caem e ela para de menstruar, geralmente ocorre entre os 45 e os 55 anos. Os sintomas podem durar até os 60 anos.

Na verdade, a população mundial de mulheres na menopausa e na pós-menopausa – que não inclui aquelas na pré-menopausa – deve chegar a 1,2 bilhão até 2030, com 47 milhões de novas mulheres a cada ano, de acordo com o National Institutes of Health.

À medida que essa população cresce, as empresas precisam abordar as reais implicações dessa transição natural, se elas realmente quiserem reter e aproveitar ao máximo seus talentos. No entanto, a maioria está muito atrasada e apenas começando a reconhecer essa necessidade.

TEMA AINDA É TABU

Há tanto estigma em torno da menopausa que as pessoas literalmente evitam a palavra, muitas vezes referindo-se a ela como “aquela fase” ou “as ondas de calor”. As mulheres evitam o assunto por medo de perder oportunidades e de serem marginalizadas por serem vistas como velhas. Como se não bastasse, alguns homens (e até mulheres mais jovens) se sentem à vontade para fazer piadas sobre isso no local de trabalho.

Mesmo os profissionais de recursos humanos, encarregados justamente de lidar com os problemas dos funcionários, ficam desconfortáveis em discutir o assunto, deixando a maioria das mulheres adiar silenciosamente a hora de falar sobre sintomas que estejam afetando sua vida e trabalho.

“Tudo remonta à relação entre trabalho e envelhecimento”, analisa Jaqueline Oliveira-Cella, líder global em saúde e seguros que trabalhou em empresas como Kyndryl e Colgate-Palmolive. Mas isso está começando a mudar.

As mulheres evitam o assunto por medo de perder oportunidades e de serem marginalizadas por serem vistas como velhas.

“A demografia do trabalho está mudando. As mulheres estão ficando nos empregos por mais tempo. Quando é o ponto da carreira ideal quando nos tornamos candidatas à liderança? É exatamente quando a menopausa chega."

Embora os sintomas e a gravidade variem de pessoa para pessoa, essa transição tende a afetar bastante o trabalho e a vida. Entre os sintomas mais comuns estão insônia crônica e distúrbios do sono, sudorese, confusão mental, micção frequente, depressão, irritabilidade e sangramento intenso.

Apesar disso, o  estudo do estado da menopausa feito em 2021 pela Bonafide descobriu que 73% das mulheres não estão tratando os sintomas, que podem durar em média 7,4 anos ou até uma década.

“Quase todas as células do corpo humano têm receptores de estrogênio, de modo que todos os sistemas de órgãos podem ser afetados pela perda desse hormônio”, explica Mary Jane Minkin, ginecologista e professora clínica de obstetrícia e ginecologia na Escola de Medicina da Universidade de Yale.

O QUE AS EMPRESAS PODEM FAZER

Mais da metade das mulheres experimenta pelo menos um sintoma grave da menopausa, o que aumenta a probabilidade de deixarem o emprego ou de reduzirem as horas de trabalho, de acordo com um estudo de 2020 realizado por pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido.

Em abril, a Mayo Clinic divulgou um estudo, o maior do gênero nos EUA, que descobriu que a economia do país perde US$ 26,6 bilhões por ano devido à perda de produtividade e às despesas com saúde resultantes de funcionárias com sintomas de menopausa.

A população mundial de mulheres na menopausa e na pós-menopausa deve chegar a 1,2 bilhão até 2030, com 47 milhões de novas mulheres a cada ano.

Especialistas em saúde da mulher dizem que há muitas maneiras pelas quais os empregadores podem facilitar a vida de quem apresenta sintomas da menopausa – desde tornar o assunto mais confortável, aumentar a proximidade do banheiro ou permitir que elas controlem a temperatura ambiente, para citar alguns exemplos. 

Oliveira-Cella e Sarah Ahmad, líder em saúde e bem-estar com passagem por organizações como Humana e Shoppers Drug Mart, entre outras, escreveram recentemente um artigo no LinkedIn intitulado "Menopausa no trabalho: o assassino silencioso da carreira que os empregadores não podem ignorar".

No texto, elas sugerem maneiras pelas quais as empresas podem apoiar funcionárias vivendo essa fase, incluindo tratar a menopausa como uma condição de saúde, confrontar o preconceito de idade e a enorme lacuna de conhecimento entre homens e mulheres, promover iniciativas de conscientização sobre saúde e negociar descontos para produtos de alívio dos sintomas da menopausa.

“Este é um grupo de pessoas muito produtivo, com muita experiência”, alerta Minkin. “Nenhuma empresa deveria arriscar perder essas profissionais.”


SOBRE A AUTORA

Anne Marie Squeo é fundadora e CEO da butique de marketing e comunicação Proof Point Communications.  saiba mais