Crianças vão aprender a ler em braille com novo kit de tijolinhos de Lego

Os relevos em cada peça formam as letras e números do alfabeto braille

Crédito: Lego

Adele Peters 3 minutos de leitura

Há cerca de uma década, ainda no início de sua carreira como médico traumatologista, Amit Patel perdeu a visão devido a uma doença. Ele teve muita dificuldade em aprender braille com as ferramentas tradicionais. Então, desenvolveu um sistema improvisado com bolinhas de pingue-pongue em uma caixa de ovos para criar a forma das letras enquanto estudava.

Agora, seus filhos pequenos, que têm visão normal, mas querem aprender braille para se conectar com o pai, têm em mãos uma outra opção: um novo conjunto de Lego chamado “Braille Bricks”, com peças com relevos que reproduzem o sistema de escrita tátil.

Antes de o kit existir, quando seus filhos se sentavam para tentar aprender braille, “eles ficavam entediados”, conta Patel, cuja família é uma das primeiras a experimentar o novo produto. “Agora, podem brincar e aprender ao mesmo tempo. E podemos fazer isso em família.”

Há alguns anos, a Fundação Lego desenvolveu peças similares que foram distribuídas para professores em escolas para crianças com deficiência visual. Após receber feedback de famílias que queriam poder usar o kit de forma independente – em alguns casos, porque as crianças frequentavam escolas regulares e tinham pouco ou nenhum acesso a aulas de braille –, a empresa começou a trabalhar em uma versão para uso doméstico.

Crédito: Lego

“Estabelecemos alguns princípios de design: tinha que ser algo fácil para todos e, ao mesmo tempo, divertido”, explica o designer da Lego, Rasmus Løgstrup.

“Nosso objetivo era unir a família. Todos deveriam estar em pé de igualdade, para ser o mais inclusivo possível. Desenvolvemos um produto com o qual é possível brincar sempre, em vez ficar esquecido na prateleira após ser usado apenas uma vez.”

O design das peças é o mesmo da versão utilizada nas escolas, com “pinos” em cada uma representando uma letra ou número em braille. Mas os designers da Lego passaram mais de um ano criando jogos que tornassem o conjunto divertido mesmo antes de a criança começar a reconhecer letras específicas.

Crédito: Lego

Em um deles, por exemplo, um jogador assume o papel de um gigante adormecido, enquanto os outros usam peças com três ou mais pinos para construir uma muralha e proteger sua vila sem acordá-lo. A Lego disponibiliza vídeos curtos explicando cada jogo através de um código QR na embalagem.

“Tínhamos como ponto de partida a ideia de que esses jogos deveriam ser totalmente funcionais, para que pessoas com deficiência visual pudessem jogá-los mesmo quando estivessem sozinhas”, explica Løgstrup.

Depois de ensinar o jogo, o vídeo encoraja a criatividade. Na família de Patel, seus filhos rapidamente começaram a usar as peças para criar placas em sua vila, para que seu pai pudesse ler.

Crédito: Lego

O conjunto foi projetado para crianças e famílias com uma variedade de deficiências visuais. Visto que alguns jogadores possuem visão limitada, mas ainda enxergam, as peças vêm em cores contrastantes e a ilustração na caixa foi elaborada para torná-la mais legível. A empresa trabalhou em conjunto com organizações de apoio a deficientes visuais em todo o mundo para testar o produto.

“Eu adorava voltar para casa depois do trabalho e ler um livro”, diz Patel. “Hoje, as pessoas me dizem: ‘você não precisa aprender braille, existem diversas tecnologias  assistivas disponíveis’ – leitores de tela, audiobooks –, mas isso não funciona para mim.” Existem razões práticas para ler com os dedos em vez de ouvir algo, seja no metrô ou ao fazer um pedido em um restaurante.

Crédito: Lego

Brincar com as peças de Lego, segundo ele, é uma forma divertida de aprender o alfabeto. Ele sempre gostou de brincar com seus filhos, mesmo antes de terem acesso aos Braille Blocks.

“Apesar da deficiência visual, ainda é possível se divertir com Lego”, observa. “É uma atividade que envolve todo o cérebro, na qual, de maneira estranha, você não precisa da visão para brincar. A imaginação entra em ação. É tudo sobre o toque, sobre sentir. É satisfatório ouvir o clique quando as coisas se encaixam.”

O conjunto estará disponível em versões em inglês e francês.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais