Muito mais que um festival

Crédito: Fast Company Brasil

Pâmela Carvalho 4 minutos de leitura

Podemos afirmar que o Brasil é um país feminino. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios(PNAD Contínua) de 2022, o contingente de mulheres no Brasil supera o de homens. Na composição da população brasileira, 48,9% são do sexo masculino, enquanto 51,1% são do sexo feminino.

A presença de mulheres na população tem superado a de homens desde o início da pesquisa contínua, em 2012. De acordo com dados do IBGE, a proporção é de 95,6 homens para cada 100 mulheres, padrão que se repete em quase todas as regiões do país. A exceção é a região Norte, onde a proporção é diferente: 102,3 homens para cada 100 mulheres.

Além dos dados demográficos, é importante pontuar que o papel das mulheres é fundamental para o desenvolvimento do país. Ao longo dos séculos, as mulheres desempenharam papéis em diversas esferas da sociedade, contribuindo para transformações sociais, culturais, políticas e econômicas.

O WOW - Festival Mulheres do Mundo propõe outras lógicas para o debate de gênero a partir da favela.

Ao contrário do que muitas vezes se diz, essas conquistas não contemplaram apenas mulheres. As pautas e direitos conquistados pelas mulheres são avanços para a sociedade como um todo. Porém, nem a expressiva população feminina e nem as inegáveis contribuições para políticas públicas e mobilização social garantiram a equidade de gênero.

Os dados comprovam. De acordo com a segunda edição das Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, em 2019, a taxa de ocupação para mulheres entre 25 e 49 anos que tinham crianças de até três anos de idade em casa era de 54,6%, enquanto para os homens era de 89,2%.

Nos lares sem crianças nessa faixa etária, o nível de ocupação era de 67,2% para mulheres e 83,4% para homens. Entre as mulheres pretas ou pardas com crianças de até três anos de idade em casa, o nível de ocupação foi ainda mais baixo, atingindo 49,7% em 2019.

DESIGULDADE E VIOLÊNCIA

Quanto às responsabilidades de cuidados com pessoas e afazeres domésticos, as mulheres dedicaram quase o dobro de tempo em comparação aos homens, com média de 21,4 horas por semana, enquanto os homens dedicaram 11 horas.

Na população com 25 anos ou mais, em 2019, 15,1% dos homens e 19,4% das mulheres tinham concluído o ensino superior. No entanto, as mulheres representavam menos da metade (46,8%) dos professores em instituições de ensino superior no país.

As pautas e direitos conquistados pelas mulheres são avanços para a sociedade como um todo.

Em cursos de graduação, as mulheres eram minoria nas áreas relacionadas às ciências exatas e à produção, com apenas 13,3% dos alunos matriculados em computação e tecnologia da informação e comunicação (TIC). Elas dominavam as matrículas na área de bem-estar (com 88,3% de participação), que abrangem cursos como serviço social.

Apesar de terem níveis educacionais mais elevados, as mulheres ocupavam apenas 37,4% dos cargos de gerência e recebiam 77,7% dos rendimentos dos homens.

Quando se trata de feminicídio (conforme definido na Lei nº 13.104/2015), a análise do local de ocorrência da violência, em 2018, mostrou que 30,4% dos homicídios de mulheres ocorreram em suas próprias residências, enquanto essa proporção foi de 11,2% para os homens.

Em 2019, apenas 7,5% dos municípios contavam com delegacias especializadas no atendimento a mulheres. Em 2019, 2,1% dos casamentos envolviam mulheres com idade inferior a 17 anos.

Crédito: Divulgação

Assim, surgem diferentes movimentos de luta e reivindicação dos direitos das mulheres ao longo da história. Um deles se chama WOW. O WOW - Festival Mulheres do Mundo é um movimento global concebido pela Fundação WOW, com o propósito de celebrar mulheres, meninas e pessoas não-binárias. No Brasil, a produção e curadoria são realizadas pela Redes da Maré.

A primeira edição ocorreu em 2018. Por conta da pandemia, em 2020 o festival aconteceu de forma remota. A terceira ocorre de hoje a domingo (27 a 29 de outubro).

Em 2018, foram cerca de 250 convidadas de diferentes partes do mundo, 200 empreendedoras, 30 coletivos e 40 parceiros movimentando o festival. Em um universo onde as mulheres são maioria em apenas 17% dos festivais, o WOW desponta como um movimento que articula música, empreendedorismo e ativismo.

E o que talvez seja mais rico de tudo isso: um festival que propõe outras lógicas para o debate de gênero a partir da favela.

Isso reforça a importância de valorizarmos os feminismos favelados, as mães solo, as mães de pessoas vitimadas pelo Estado e as demais microrrevoluções de gênero que têm emergido de mulheres periferizadas.

O avanço das mulheres faveladas é o avanço de todas as mulheres. Assim, é também o avanço da sociedade, no sentido de uma cidadania equânime para todas as pessoas.


SOBRE A AUTORA

Pamela Carvalho é gestora de negócios de impacto social e coordenadora na Redes da Maré. Pâmela Carvalho é historiadora, educadora, co... saiba mais