Comunicação, o recurso que falta para zerar as emissões de carbono

A CTO da National Grid defende que o mais urgente é facilitar conversas e compartilhar ainda mais as lições aprendidas

Crédito: Jitendra Jjadhav/ iStock

Lisa Lambert 4 minutos de leitura

Há um ditado no setor de energia que capta como as concessionárias pensam sobre uma mudança sistêmica: “todo mundo quer ser o primeiro a ser o segundo”.

E com razão. Por mais de 300 anos, elas foram recompensadas (pelos acionistas, conselheiros, legisladores) por serem avessas ao risco. Só fazem novos investimentos após um estudo cuidadoso, longas deliberações e com foco principal em segurança, viabilidade financeira e confiabilidade. Mentalidade completamente diferente da maioria das startups, com sua abordagem faça-já-lance-rápido-depois-a-gente-conserta.

Nos últimos cinco anos, acompanhei de perto o estado da transição energética e dos desafios de atingir emissões líquidas zero. Existem duas questões que, se não forem abordadas, terão um impacto significativo nos esforços mundiais para combater as mudanças climáticas.

1. Melhorar o sistema

Empresas que prestam serviços públicos, em virtude de seu tamanho e alcance, têm um papel enorme a desempenhar na redução das emissões de gases de efeito estufa. Só que elas precisam ver a tecnologia em ação para acreditar que vale a pena adotá-la.

devemos nos concentrar em tornar mais fácil a colaboração entre as empresas e compartilhar resultados com a indústria toda o mais rápido possível.

Mesmo que se gaste todo o dinheiro do mundo ou se invista no desenvolvimento de tecnologias inovadoras, não adiantará de nada se não conseguirmos demonstrar seu impacto passo a passo, sob as condições do mundo real.

A melhor maneira de mostrar às concessionárias o valor das novas tecnologias é por meio de projetos de demonstração. Eles podem fornecer os pontos de prova necessários para que elas expandam a aplicação por toda a empresa.

Uma aceleradora que está dando grandes passos nessa área é a Incubatenergy Labs. Entre seus projetos está a colaboração da PG&E com a Dryad, startup que desenvolveu uma solução de rede IoT em grande escala para detectar precocemente incêndios florestais.

Mas as demonstrações só serão bem-sucedidas se aceitarmos que empresas de serviços públicos e startups operam de maneira própria e que precisamos superar essas diferenças. Portanto, devemos nos concentrar em duas coisas que realmente importam: tornar mais fácil a colaboração entre elas e compartilhar os resultados com a indústria toda o mais rápido possível.

2. Derrubar obstáculos

Um dos primeiros obstáculos para a adoção de tecnologias de descarbonização é iniciar uma conversa. A maioria das startups não sabe para quem ligar em uma concessionária, e a maioria dos gerentes não tem ideia de como trabalhar com uma startup – supondo que retornem a ligação.

O primeiro passo é sentar com as unidades de negócios da empresa, ouvir seus problemas e buscar soluções. Um exemplo é a LineVision, que instala sensores de classificação dinâmica de linha (DLR) em torres de transmissão e os monitora em busca de oportunidades para aumentar sua capacidade com segurança.

Um dos primeiros obstáculos para a adoção de tecnologias de descarbonização é iniciar uma conversa.

Depois de identificar uma necessidade, a startup criou um projeto-piloto com a Duquesne Light Company (DLC), por meio do qual a LineVision foi capaz de identificar o potencial para aumentar a capacidade em 25%. O sucesso do projeto resultou na implementação dos sensores pela DLC em outras linhas de transmissão.

Essa abordagem – ouvir problemas e procurar soluções, quer existam em nosso portfólio de investimentos ou em outro lugar – nos ajudou a lançar dezenas de provas de conceito fundamentais e pode fazer maravilhas para qualquer empresa de serviços públicos.

COMPARTILHAR AS LIÇÕES AMPLA E RAPIDAMENTE

Ainda ouço muitas histórias de empresas que ficam sem saber o que fazer ou dizer quando uma startup apresenta seu trabalho.

Mas há como resolver esse problema por meio de alianças. As pessoas que já trabalharam nas duas pontas sabem como tornar a comunicação mais clara. Esses "tradutores", por assim dizer, são fundamentais para os investidores que desejam fazer a diferença na descarbonização global.

Alianças globais serão cruciais para desenvolver tecnologias que combatam, de forma ampla, as mudanças climáticas.

Essas alianças precisam incluir membros de empresas de serviços públicos de todo o mundo, promover fóruns para compartilhar ideias e melhores práticas e fazer parcerias em projetos para atingir emissões líquidas zero o mais rápido possível. Também precisam fazer a ponte entre startups e executivos seniores do setor de energia.

Modelos semelhantes já foram testados e bem-sucedidos na indústria de telecomunicações, como o 5G Consortium e o MITRE Engenuity Open Generation 5G Consortium. Ao reunir os ecossistemas de fornecedores, esses dois grupos estão aproveitando o poder da colaboração e trabalhando de maneira mais inteligente e rápida do que se lidassem com novas tecnologias sozinhos.

Da mesma forma, alianças industriais globais serão cruciais para desenvolver e implementar tecnologias de energia transformadoras para combater de forma mais ampla as mudanças climáticas. Já existe uma iniciativa como essa em operação, a NextGrid Alliance, associação com quase 100 concessionárias em todo o mundo, que está aproximando startups e empresas de serviços públicos.

É isso que precisamos fazer o quanto antes: facilitar conversas, patrocinar mais demonstrações de prova de conceito e compartilhar ainda mais as lições aprendidas sobre o que funciona e o que ainda precisa ser pensado.

Sendo nós os primeiros, damos às concessionárias de energia a confiança de que precisam para serem os segundos.


SOBRE A AUTORA

Lisa Lambert é diretora de tecnologia e inovação da National Grid. saiba mais