Por que priorizar a agenda ESG mesmo em tempos de crise econômica

As empresas devem aprender com as crises passadas e impedir que a sustentabilidade seja deixada de lado

Crédito: Freepik

Dimitri Caudrelier 4 minutos de leitura

Com o temor de uma recessão global semelhante à crise financeira de 2008, aumenta a preocupação de que líderes empresariais possam cortar o orçamento para ações ESG.

Já vimos isso acontecer. Depois de apenas um mês de guerra na Ucrânia, fundos de investimento decidiram reverter suas políticas de sustentabilidade. A história nos mostra que este costuma ser o primeiro item a ser cortado quando as empresas precisam tomar decisões que podem afetar o retorno financeiro de curto prazo.

Para se tornarem mais resilientes, as empresas devem mitigar os riscos ao seu capital físico e humano.

Insistir nesse erro coloca toda sociedade em risco em um momento no qual precisamos de ações urgentes. A comunidade empresarial precisa encontrar formas de transformar a crise econômica em um motor para criar um modelo novo e resiliente no qual viver em equilíbrio com a natureza está no centro de todas as decisões.

Focar no longo prazo é o que realmente protegerá os negócios contra futuras crises ambientais que serão tão devastadoras quanto a recessão global.

As maiores empresas do mundo já reportam quase US$ 1 trilhão em risco devido aos impactos climáticos esperados para os próximos anos, sobretudo, eventos climáticos extremos, aumento da temperatura e custos associados às emissões de gases de efeito estufa (GEE).

PREPARAÇÃO PARA UM FUTURO NÃO TÃO DISTANTE

Embora as empresas possam sobreviver ao próximo trimestre mantendo o ESG em segundo plano, isso vai sabotar seu futuro, que nem está tão distante assim. Leis que obrigam a divulgação de informações de sustentabilidade já estão em vigor tanto na União Europeia quanto nos EUA. E, com as crescentes pressões dos consumidores e investidores, mais regulamentações devem forçar mudanças nas empresas.

A iminente recessão econômica representa uma oportunidade para os líderes empresariais reforçarem seus compromissos de sustentabilidade e saírem mais fortes e mais bem preparados para sobreviver a futuras crises.

Para se tornarem mais resilientes, as empresas devem mitigar os riscos ao capital físico e humano em suas operações globais. O primeiro passo é identificar o nível e a natureza dos riscos climáticos para encontrar a melhor forma de enfrentá-los.

As recessões econômicas, a pandemia de Covid-19 e a crise global da cadeia de suprimentos são ensaios para crises futuras.

Para empresas com risco físico associado a commodities agrícolas, pode ser necessário o envolvimento de fornecedores, cooperativas e governos para estabilizar rendimentos e preços, diante de condições climáticas severas.

Aquelas cujos riscos estão vinculados ao desenvolvimento de mecanismos de precificação de carbono podem definir estratégias climáticas agressivas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa em suas operações.

Para empresas que têm riscos associados a mercados downstream (refino e distribuição), a solução pode ser desenvolver planos de transformação de negócios que capturem mercados emergentes de baixo carbono.

As recessões econômicas, a pandemia de Covid-19 e a crise global da cadeia de suprimentos são ensaios para crises futuras. Com uma janela de oportunidade para mitigar a crise ambiental cada vez mais estreita, as empresas precisam reavaliar a maneira como conduzem seus negócios e implementar transformações radicais, porém necessárias, para respeitar os limites do planeta.

Líderes empresariais podem acelerar o progresso em direção a esse objetivo, impulsionando mudanças em áreas inexploradas. Uma maneira de fazer isso é alinhar as metas internas de sustentabilidade com o apoio externo das políticas públicas. Outra é repensar a própria ideia de demanda, em tudo, desde o consumo de tecnologias e alimentos até energia e moda.

Essas ações exigem uma profunda mudança de mentalidade, reconhecendo que a transformação sustentável é um investimento de longo prazo, ao contrário da forma como os negócios costumam ser conduzidos. Uma ação ousada hoje resultará em um futuro com vantagens que superam em muito os benefícios oferecidos por velhas práticas.

Em última análise, os líderes devem avaliar sua pegada corporativa, identificar as atividades que levam a um desalinhamento entre seu modelo de negócios e o ecossistema da Terra e mudar suas estratégias com base nisso.

PRIORIZANDO A SUSTENTABILIDADE

Quando ocorre uma crise, as empresas precisam trabalhar internamente para garantir que a sustentabilidade nunca deixe de ser uma prioridade. As lições do passado mostram que aquelas que têm um programa de sustentabilidade robusto se saem melhor do que as outras.

empresas que buscam a transformação sustentável tendem a ser mais inovadoras, competitivas e adaptáveis.

Seja olhando para o desempenho dos preços das ações em meio à pandemia ou para os resultados da crise financeira pós-2008, as evidências continuam a apontar que as empresas que investem em ESG superam aquelas que não o priorizam.

Por quê? Porque as empresas que buscam a transformação sustentável tendem a ser mais inovadoras, competitivas e adaptáveis – o que é fundamental para a resiliência. Isso não passa despercebido aos investidores, que acreditam cada vez mais que as empresas sustentáveis estão mais bem preparadas para lidar com condições climáticas adversas.

Organizações que enxergam momentos de instabilidade como uma oportunidade para transformar seus modelos de negócios podem contribuir para garantir um futuro para as pessoas e para o planeta. Enquanto o mundo se prepara para outra crise financeira, é fundamental que as empresas respondam a ela considerando o que está por vir e se recusem a voltar às velhas práticas depois de se recuperarem.


SOBRE O AUTOR

Dimitri Caudrelier é CEO da consultoria de sustentabilidade ambiental Quantis. saiba mais