Qual o real objetivo das iniciativas ESG das empresas, afinal?

Estudiosos de negócios explicam o que realmente é governança ambiental, social e corporativa

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Luciana Echazú e Diego Nocetti 3 minutos de leitura

A governança ambiental, social e corporativa – conhecida pelo acrônimo ESG, do inglês environmental, social, and corporate governance – está se tornando uma tendência cada vez mais comum e mais discutida. 

Mas o que ESG realmente quer dizer?

A expressão resume uma abordagem empresarial baseada na crença de que a sobrevivência dos negócios a longo prazo – sua capacidade de gerar lucros – exige que a chefia considere o impacto que suas decisões e ações têm sobre o meio ambiente, sobre a sociedade como um todo e sobre a força de trabalho.

As práticas de ESG surgiram a partir de esforços de longa data para tornar as empresas mais responsáveis ambientalmente, respondendo pelas suas pegadas na sociedade e na natureza. O investimento em ESG, às vezes chamado de investimento sustentável, também considera essas questões.

Segundo a PwC, até 2026 o valor total investido globalmente em ESG chegará a US$ 34 trilhões.

As prioridades ESG variam muito, mas existem alguns temas comuns. Essas prioridades enfatizam a sustentabilidade ambiental – o E (environmental) – com foco em contribuir com os esforços para diminuir o ritmo das mudanças climáticas.

Há também um esforço para manter altos padrões éticos por meio de políticas corporativas. Essas preocupações sociais – o S – podem incluir, por exemplo, garantir que uma empresa não compre bens e serviços de fornecedores que explorem ou tratem mal seus funcionários. Ou podem envolver o cuidado de contratar e reter uma força de trabalho diversificada e tomar medidas para reduzir as injustiças sociais nas comunidades onde a empresa opera.

As organizações que adotam os princípios ESG também precisam ter governança de alta qualidade – o G. Governança inclui supervisão (conduzida por um conselho de administração competente e qualificado) em relação à contratação e demissão dos principais líderes corporativos, remuneração executiva e quaisquer dividendos pagos aos acionistas.

Governança também se refere a se a liderança de uma empresa opera de forma justa e responsável, com transparência e responsabilidade.

POR QUE ESG IMPORTA

Segundo uma estimativa da empresa de contabilidade PwC, até 2026 o valor total investido globalmente de acordo com esses princípios quase dobrará – de US$ 18,4 trilhões, em 2021, para US$ 34 trilhões. No entanto, o crescente escrutínio de quais investimentos realmente se qualificam como ESG pode significar que levará mais tempo para atingir esse volume.

Esse conceito corporativo está se tornando uma pedra de toque política nos EUA porque alguns estados, como Flórida e Kentucky – argumentando que essas práticas desviam o foco da maximização de lucros e podem prejudicar os investidores ao priorizar outras questões – proibiram seus fundos de pensão de incluir os princípios ESG como parte das alternativas de investimento. Alguns grandes gestores de ativos, incluindo a BlackRock, não podem mais trabalhar com esses fundos de pensão.

o que conta ou que como ESG tem sido uma discussão de longa data e dificulta a avaliação do desempenho desses investimentos.

Muitos dos argumentos contra a adoção desses princípios sustentam que eles reduzem os lucros ao levar em consideração outros fatores. Mas como as práticas ESG afetam o desempenho financeiro?

Uma equipe de estudiosos da Universidade de Nova York analisou os resultados de mil estudos diferentes que tentaram responder a essa pergunta. Eles encontraram resultados mistos: alguns concluíram que os princípios ESG aumentaram o retorno; outros descobriram que eles enfraqueceram o desempenho. Um terceiro grupo determinou que esses princípios não faziam nenhuma diferença.

É possível que as disparidades entre os resultados se devam, em grande parte, à falta de clareza sobre o que conta e o que não conta como ESG, o que tem sido uma discussão de longa data e dificulta a avaliação do desempenho dos investimentos ESG.

Mas os estudiosos da NYU também encontraram dois resultados consistentes em relação às estratégias ESG. Primeiro, eles ajudam a proteger os investidores contra riscos, como, por exemplo, perdas resultantes da falha de uma cadeia de suprimentos devido a questões ambientais ou geopolíticas.

A abordagem ESG também pode proteger as organizações da volatilidade durante períodos de instabilidade econômica e desacelerações. Além disso, investidores e empresas se beneficiam mais das estratégias ESG no longo prazo do que no curto prazo.


SOBRE O AUTOR

Luciana Echazú é reitora associada de graduação e professora associada de economia na Universidade de New Hampshire. Diego Nocetti é r... saiba mais