SXSW 2025: Ian Beacraft e o novo jogo do trabalho – você está pronto?

O SXSW 2025 trouxe uma enxurrada de painéis sobre inteligência artificial, mas poucos tão provocativos e pragmáticos quanto a sessão de Ian Beacraft, CEO e futurista chefe da Signal & Cipher.
Em sua palestra, "Como não sabotar as transformações de IA enquanto molda o futuro da sua empresa", Beacraft falou sobre por que tantas empresas falham ao adotar a inteligência artificial e quais estratégias podem aumentar as chances de sucesso.
Ele começou desmistificando o medo de que a IA irá substituir humanos indiscriminadamente. Para o futurista, estamos vivendo um momento semelhante ao que os trabalhadores enfrentaram na Revolução Industrial: o instinto inicial é temer a tecnologia, mas a história prova que aqueles que souberam se adaptar, prosperaram.
Em vez de otimizar processos antigos com IA, as empresas precisam pensar em transformação real, reimaginando como trabalham, aprendem e criam valor.
O DESAFIO DO "SKILL FLUX"
Um dos conceitos mais impactantes da apresentação foi o de skill flux, a rápida obsolescência das habilidades. Se antes um conhecimento técnico tinha validade de 30 anos, hoje essa longevidade caiu para cerca de dois anos – e a tendência é que esse ciclo continue encurtando.
Um exemplo disso pode ser visto em uma recente pesquisa lançada pelo LinkedIn, que mostra que, até 2030, 75% das habilidades necessárias para diversas funções no Brasil serão diferentes das atuais.
Para Ian Beatcraft, o futuro do trabalho não será dominado por especialistas em um único tema, mas por aqueles que conseguem adquirir e aplicar novas habilidades rapidamente, em um modelo que ele chama de surge skilling (algo como "capacitação acelerada" ou "aprendizado ágil").
Isso me fez refletir sobre a forma como valorizamos talentos nas empresas. Tradicionalmente, buscamos profundidade em um campo específico, mas, no cenário atual, a capacidade de aprender rápido pode ser mais valiosa do que a experiência acumulada.
Isso exige uma mudança de mentalidade tanto para empresas quanto para profissionais: em vez de “eu sou o que sei”, passamos para “eu sou o quanto consigo me adaptar”.
O PARADOXO DOS DADOS: MENOS PODE SER MAIS
Outro ponto crucial foi a transição do conceito de big data para small data. No passado, o foco era acumular grandes volumes de informações; agora, o valor está na curadoria e estruturação do conhecimento interno de uma empresa.
Modelos de IA treinados com informações altamente refinadas e específicas para um negócio podem gerar vantagem competitiva real, enquanto o uso genérico de grandes modelos de linguagem apenas torna as empresas medianas.
Se não dedicarmos tempo e recursos para ensinar nossas equipes a integrar IA ao dia a dia, corremos o risco de ter ferramentas poderosas, mas subutilizadas.
CRIANDO EQUIPES AUMENTADAS, NÃO SUBSTITUÍDAS
Ian Beacraft também introduziu o conceito de creative generalists e equipes aumentadas. Ele defende que a combinação entre especialistas e generalistas aumentados por IA será o diferencial das empresas mais inovadoras.

O futuro não é sobre máquinas contra humanos, mas sobre humanos potencializados por IA, capazes de reconfigurar rapidamente suas funções e atribuições.
Olhando para o mercado, percebo que ainda estamos presos a estruturas rígidas de trabalho. Mas e se, em vez de definirmos funções fixas, projetássemos times de forma dinâmica, baseados nos desafios em tempo real? Com IA, esse modelo é não só possível, mas necessário.
IA AMPLIFICA TUDO, O BOM E O RUIM
Talvez o insight mais poderoso da palestra tenha sido o alerta de que IA não é inerentemente boa ou ruim – ela apenas amplifica nossas intenções. Se usada corretamente, pode criar oportunidades sem precedentes; se mal gerenciada, pode reforçar desigualdades e vieses. O verdadeiro desafio não é apenas técnico, mas ético e cultural.
Ian Beacraft encerrou sua fala com um chamado à ação: precisamos incluir mais pessoas na conversa sobre IA, especialmente aquelas que ainda resistem à tecnologia. O futuro não será moldado por quem já está convencido, mas por aqueles a quem ajudarmos a enxergar novas possibilidades.
O QUE ISSO SIGNIFICA PARA AS EMPRESAS?
A palestra de Ian Beacraft reforçou algo em que acredito profundamente: inteligência artificial não pode ser apenas um projeto tecnológico, ela deve ser uma transformação organizacional. O sucesso não virá de quem apenas adotar ferramentas de IA, mas de quem souber redefinir como trabalha, aprende e toma decisões.
Empresas que tratarem IA apenas como uma forma de cortar custos perderão espaço para aquelas que a utilizarem para expandir seu potencial humano. A questão não é se a IA vai mudar sua empresa, mas como você quer que essa mudança aconteça. E a resposta precisa começar agora