A ansiedade de entender a geração Alpha sem ter se conectado com a GenZ

A geração Alpha é vista como a nova audiência chave das marcas, sendo a grande influenciadora do consumo das famílias

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Luiz Menezes 4 minutos de leitura

O que sabemos sobre a geração Alpha? São as pessoas nascidas de 2010 em diante, ou seja, os mais velhos têm 14 anos e os mais novos, quatro anos. E pelo fato de serem os mais jovens, as marcas não conseguem entender seus hábitos de consumo ou acessar via pesquisa direta, dada as restrições.

Foi o que busquei em uma das sessões do South by Southwest, no painel Introducing Gen Alpha: A Brand's New Key Audience (Apresentando a geração Alpha: a nova audiência chave das marcas), espaço bem disputado de conseguir um lugar, diante do tamanho da fila e da relevância do tema.

Durante a palestra da Joanna Piacenza, foi apresentado um estudo da Morning Consult, respondido pelos pais dessas crianças e adolescentes, para trazer dados e informações sobre a geração Alpha.

De início, o tema ter ganhado tanto destaque já é bastante vantajoso para a evolução das narrativas sobre essa geração aqui na América Latina. Alguns dados se conectam com as tendências mapeadas pela Trope, consultoria de geração Z, da qual sou fundador.

Joanna Piacenza (Crédito: Reprodução/ X

Segundo a pesquisa, 36% da geração Alpha dos Estados Unidos gasta pelo menos três horas por dia no celular. A rede social mais consumida por essa faixa etária é o YouTube – o que também é um reflexo de uma situação que já conhecemos, na qual os familiares vão trabalhar e, muitas vezes, deixam as crianças expostas e com acesso à plataformas de vídeos como maneira de entretenimento. O mesmo já ocorreu em outras gerações: as crianças millennials e as late GenZ consumiam mais TV, em lugar do YouTube.

No entanto, é como eu sempre digo: não devemos generalizar e, definitivamente, não podemos usar dados de institutos de pesquisa internacionais como verdade absoluta para o contexto socioeconômico do Brasil.

mesmo não pagando a fatura ou portando um cartão de crédito, aa crianças da geração Alpha são capazes de impactar na decisão de compra do contexto familiar.

Por exemplo, citaram que os óculos de realidade aumentada são populares para essa geração. Sabemos que isso não se aplica para a realidade brasileira. Além do que, notei a presença de muitos millennials, mas ninguém da geração Z e muito menos da Alpha.

Compreendo, diante do alto custo para estar no evento. Mas me intriga o fato de os millennials estarem tentando entender a geração Alpha sem nem mesmo terem dominado profundamente a GenZ.

Ainda é preciso muito estudo, especialmente para diferenciar essas duas gerações. A GenZ continua sendo colocada como as das pessoas “novinhas”, sendo que os mais velhos já estão com 27 anos e até com dívidas. Essa geração cresceu em um contexto em que só está vendo agora o futuro do mundo, criando uma ansiedade de mudança.

Isso fica evidente no relatório especial Edelman Trust Barometer, de 2022. O estudo mostra que 70% da GenZ em todo o mundo diz estar envolvida em causas sociais e políticas. Ou seja, é um desejo conseguir colocar em pauta assuntos relevantes e que precisam ser debatidos.

Crédito: Freepik

A geração Alpha, por sua vez, tem uma criação diferente. É mais  ouvida, o que faz com que seus sentimentos sejam validados. Cerca de 73% dos pais da geração Alpha são millennials, que deram mais prioridade para fazer terapia se comparado às gerações anteriores, e estão criando os seus filhos da maneira que gostariam de ter sido criados, zelando pelo crescimento em uma família estável, com honestidade e integridade.

Algumas conversas sobre questões sociais, culturais, climáticas e políticas também já são introduzidas, para conseguir preparar as crianças para o mundo que está por vir.

Me intriga o fato de os millennials estarem tentando entender a geração Alpha sem nem mesmo terem dominado profundamente a GenZ.

Diante deste cenário, a geração Alpha é vista como a nova audiência chave das marcas, sendo a grande influenciadora do consumo, pois, mesmo não pagando a fatura ou portando um cartão de crédito, são capazes de impactar na decisão de compra do contexto familiar, desde a comida ou o passeio do final de semana a uma viagem ou compras de bens materiais.

Porém, eu me questiono: como as marcas pretendem fazer um bom trabalho com esse público sendo que ainda não criaram conexão profunda com os consumidores da GenZ?

Não adianta pular uma geração, é preciso entender todo o ecossistema. E, para que funcione, será necessário que as empresas repensem e voltem alguns passos até compreender as particularidades de cada grupo.


SOBRE O AUTOR

Luiz Menezes é fundador da Trope, consultoria de geração Z que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócios. saiba mais