Este vestido da marca de luxo Mara Hoffman pode ser reciclado para sempre

A peça de roupa é feita a partir de resíduos de tecido reciclados. Essa é a prova de que a moda circular já é uma realidade

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Já estamos nos acostumando a jogar caixas de papelão e latinhas de alumínio no lixo reciclável, onde elas podem ser infinitamente reaproveitadas e transformadas em novas caixas ou novas latas. Mas, quando uma camiseta velha chega ao final de sua vida útil, não já outra opção a não ser jogá-la no lixo comum, de onde ela vai acabar se acumulando em um aterro sanitário.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Mas a estilista Mara Hoffman propõe uma alternativa para o futuro. Ela lançou um novo vestido laranja, batizado de This Dress Changes Everything (Este vestido muda tudo), que é feito de resíduos têxteis, mas tem a aparência e o toque de uma seda de alta qualidade. 

No final de sua vida útil, a peça será recolhida e reciclada em um novo vestido, e assim sucessivamente. "O tecido é feito com materiais que já existem no planeta e não requer a extração de novos recursos", explica Hoffman.

O vestido foi criado em parceria com a Circ, uma startup que desenvolve tecidos a partir de materiais descartados e também criou a infraestrutura para reciclar esses tecidos e transformá-los em novos.

Hoffman produziu apenas 35 exemplares desse vestido laranja (cada um custa US$ 1.195), mas promete fazer a transição de todo o seu liocel virgem (tecido natural, produzido a partir da celulose ou da pasta de madeira) para o liocel reciclado da Circ dentro dos próximos três anos.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Os esforços da Circ fazem parte de um movimento para desenvolver novos sistemas que reduzam o forte impacto da indústria da moda sobre o planeta. Mas, para que plataformas como a Circ se expandam, os consumidores e as marcas precisam estar dispostos a mudar radicalmente seu comportamento.

O PROBLEMA DA MODA DESCARTÁVEL

Neste momento de capitalismo em estágio avançado, o consumo excessivo e desenfreado está levando o planeta à catástrofe. São necessárias enormes quantidades de água para cultivar algodão e de petróleo para fabricar fibras sintéticas. Ainda assim, o setor de vestuário continua produzindo mais de 100 bilhões de peças por ano para apenas oito bilhões de pessoas.

O setor é responsável por 10% das emissões globais de carbono e consome 4% de toda a água doce. E ainda assim, os consumidores usam suas roupas uma média de apenas sete vezes antes de jogá-las fora.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Para encerrar esse ciclo, são necessárias muitas soluções, sendo a mais óbvia o fato de que as pessoas deveriam comprar menos roupas e usá-las por mais tempo.

Mas, quando uma peça de roupa finalmente chega ao fim de sua vida útil, precisamos ser capazes de reaproveitar os tecidos nela contidos e transformá-los em novas peças. Isso evitaria a necessidade de extrair novos recursos naturais, o que reduziria as emissões de carbono da indústria têxtil.

TECIDOS FEITOS DE RESÍDUOS TÊXTEIS

É aí que entra a Circ. A empresa foi fundada em 2010 por Peter Majeranowski com foco em biocombustíveis. Mas, em 2018, sua equipe de engenheiros descobriu que a tecnologia poderia ser usada para quebrar os tecidos em suas moléculas principais e, em seguida, reconstituí-los para criar tecidos reciclados.

A tecnologia da Circ se destaca no mercado porque é capaz de decompor tecidos que são uma mistura de algodão e poliéster, enquanto empresas semelhantes trabalham apenas com fibras de origem vegetal.

"As misturas de poliéster e algodão são a maior parte dos tecidos produzidos atualmente e têm pouquíssimo uso alternativo, de modo que a maior parte vai parar em aterros sanitários e em incineradores", explica Majeranowski.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Nos últimos cinco anos, a Circ vem tentando demonstrar ao setor que seus tecidos têm a mesma qualidade do algodão e do poliéster tradicionais, embora sejam feitos de resíduos de pano. É por isso que é tão importante que a Mara Hoffman, uma marca conhecida por suas peças de alta qualidade, tenha adotado esse material.

Hoffman ficou impressionada com a qualidade do liocel reciclado da Circ. Mas também acredita que o objetivo mais abrangente da Circ de reciclar tecidos poderia transformar a indústria da moda. "Percebemos que isso é algo que pode gerar impacto. Se essa iniciativa pudesse dominar o setor, seria um grande avanço", diz Hoffman.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

O QUE É NECESSÁRIO PARA EXPANDIR

Mas, para que a reciclagem têxtil decole, ela precisa ser amplamente adotada. A Circ levantou US$ 70 milhões em financiamento de risco para construir uma instalação de porte industrial na Carolina do Norte, com capacidade para processar tecido suficiente para sua lista atual de clientes e muito mais.

Crédito: Mara Hoffman/ Divulgação

Majeranowski afirma que a Circ está pronta para trabalhar em uma escala muito maior. A empresa gostaria de construir uma instalação 20 vezes maior do que a atual até a metade desta década. Isso também permitirá que a empresa reduza o custo de produção, para que seu liocel e poliéster reciclados consigam concorrer com as fibras virgens.

Ainda há muito caminho pela frente para que a moda circular e a reciclagem de tecidos se tornem uma tendência. Mas Majeranowski acredita que a mudança pode acontecer rapidamente. "A colaboração com Mara Hoffman aponta que a solução está ao nosso alcance", afirma. "Agora é hora de aumentar a escala".


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais