Estes vírus gigantes podem evitar que o gelo do Polo Norte vire água

A proliferação de algas pode acelerar o derretimento do gelo no Ártico, mas um vírus recém-descoberto pode impedir a sua propagação

Créditos: cokada/ iStock/ Jeremy Goldberg/ Unsplash

Jessica Hullinger 2 minutos de leitura

Nos últimos anos, muitas ideias aparentemente absurdas foram propostas como maneiras de resfriar o planeta, que está aquecendo rapidamente. Clareamento de nuvens? Pode funcionar. Instalar 10 milhões de bombas no Ártico para ajudar a formar mais gelo marinho? Parece exagerado.

Colocar espelhos gigantes no espaço para refletir a luz solar? Provavelmente muito caro, mas quem sabe? E agora podemos adicionar mais uma à lista: vírus gigantes.

Pesquisadores do Departamento de Ciência Ambiental da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, descobriram sinais de grandes vírus vivendo na neve e no gelo da Groenlândia. Esses vírus “gigantes” são realmente enormes, pelo menos relativamente.

Comparados aos seus primos de tamanho médio, eles podem ser até 1,5 mil vezes maiores. Mas não é o tamanho que torna esses organismos potencialmente importantes para os cientistas, e sim o que eles gostam de infectar.

A camada de gelo da Groenlândia é a maior do hemisfério norte e está derretendo. Dados recentes sugerem que a perda chega a 30 milhões de toneladas por hora. Se derretesse totalmente, o nível global do oceano subiria mais de seis metros.

Crédito: Sepp Friedhuber/ iStock

Um dos fatores que contribui para a taxa de derretimento é um tipo de alga que cresce no gelo marinho do Ártico e torna a superfície vermelha escura ou preta durante a primavera e o verão.

Superfícies escuras absorvem mais calor, acelerando o derretimento. É aí que entram os vírus gigantes: os pesquisadores suspeitam que eles infectam e destroem essas algas. Se puderem ser estrategicamente usados para atacá-las, talvez possam ajudar a resfriar a região.

Mas existem algumas ressalvas a considerar. Não é 100% certo que estes vírus gigantes infectam algas, apenas que suas assinaturas genéticas foram encontradas em amostras de gelo que exibiam tons escuros devido à proliferação de microalgas.

Crédito: Laura Perini/ Universidade Aarhus

Pesquisas anteriores confirmaram que os vírus gigantes encontrados no oceano realmente infectam e matam algas. Mas, além disso, pouco se sabe sobre como se comportam na camada de gelo ou como poderiam ser usados para controlar a proliferação de microalgas.

“Ainda não sabemos o quão específicos eles são e o quão eficientes seriam”, afirma Laura Perini, uma das pesquisadoras e coautora do estudo publicado na revista “Microbiome”. Ela e sua equipe continuam as investigações sobre os vírus e mais pesquisas serão publicadas em breve.

Se a camada de gelo da Groenlândia derretesse totalmente, o nível global do oceano subiria mais de seis metros.

Além disso, há muito que ainda não se sabe sobre a proliferação de algas. Sabemos que, às veze,s são grandes o suficiente para serem vistas do espaço no verão e podem aumentar o derretimento do gelo superficial em cerca de 10%. Mas o que faz com que proliferem? E quais consequências não intencionais poderiam ocorrer ao modificar seu ecossistema?

Esta é uma questão com a qual todos os projetos que buscam mexer com o clima da Terra precisam lidar. Trabalhar com vírus e algas pode parecer um pouco mais “natural” do que lançar espelhos no espaço ou clarear as nuvens, mas toda ação tem um efeito indireto.

Ainda assim, com o aumento das emissões globais de gases de efeito estufa e da temperatura do planeta, estamos entrando em um território assustador e desconhecido, e os cientistas estão considerando propostas de resfriamento do planeta que antes eram totalmente impensáveis.


SOBRE A AUTORA

Jessica Hullinger é jornalista especializada em mudanças climáticas, inovação e ciência. saiba mais