Em meio ao tarifaço de Trump e instabilidade global, há oportunidades na bolsa?
Cautela, diversificação e estratégia são as premissas para os investidores que estão de olho em ações de empresas em tempos de guerra tarifária

Com a economia global enfrentando um período de instabilidade — marcada por tensões geopolíticas, juros elevados e incertezas fiscais —, muitos investidores se perguntam se ainda vale a pena buscar oportunidades na bolsa.
A resposta, segundo especialistas ouvidos pela Fast Company Brasil, é sim. Mas com cautela, diversificação e estratégia.
O QUE ESPERAR NO ATUAL CENÁRIO?
Agora, apesar de ser um momento turbulento, pode ser ideal para encontrar ativos com desconto na bolsa, de acordo com Silas Nunes, head de Renda Variável da Barsi Investimentos. O especialista se refere aos ativos financeiros que estão sendo negociados a um preço inferior ao seu valor real.
Antes de investir, é bom levar em consideração o tempo que se pretende manter o dinheiro nesse tipo de ativo. “É muito importante estar alinhado a uma expectativa de médio a longo prazo e buscar empresas que pagam bons dividendos. Esse ambiente permite pagar 'barato' por ações, algo que todo investidor busca”, afirma.
GASTOS PÚBLICOS ELEVADOS
Já Guilherme Gomes, CEO da 1 Time Invest, chama a atenção para uma combinação de condições - tanto no mercado externo quanto no doméstico. Ele cita a chamada “guerra comercial 2.0” provocada por novas medidas protecionistas do governo Trump, além do cenário fiscal brasileiro, com gastos públicos acima da arrecadação, como fatores que aumentam o sentimento de desconfiança nos mercados.
“Esse ambiente afeta diretamente os ativos de risco, fazendo a bolsa cair e os juros futuros subirem. Mas também abre espaço para oportunidades, tanto na renda variável quanto na renda fixa”, explica Gomes.
PAPÉIS OU FUNDOS: O QUE FAZ MAIS SENTIDO?
A dúvida entre investir diretamente em ações de empresas ou por meio de fundos de investimento também é recorrente. Nunes defende a gestão ativa e a compra direta de papéis para, segundo o CEO da 1 Time Invest, “fugir do famoso 2 com 20 (2% de taxa de administração, 20% de taxa de performance) que a maioria dos fundos cobra”.
A estratégia, segundo Gomes, é a melhor forma de evitar as taxas de administração e performance cobradas pelos fundos. O investidor também tem total transparência sobre a carteira e maior liquidez, com liquidação D+2 [dois dias úteis] na B3, contra D+30 [30 dias úteis] ou mais em alguns fundos”, diz.
No entanto, Gomes reconhece que os fundos podem ser úteis em situações específicas, como restrições regulatórias que impeçam o investidor de adquirir certos ativos.
O especialista acrescenta que, para quem busca mais praticidade ou diversificação com custos menores, os ETFs (Exchange Traded Fund ou fundo negociado em bolsa, em português) são uma alternativa.
“É possível montar uma carteira equilibrada com fundos ou ETFs, escolhendo ativos de setores mais resilientes”, orienta.
SETORES COM POTENCIAL DE VALORIZAÇÃO
Com o Ibovespa mostrando desempenho tímido desde o pós-pandemia e sendo negociado abaixo da média histórica do indicador P/L (preço/lucro) – usado para avaliar o preço das ações de uma empresa –, o momento pode ser estratégico para comprar ações.
“Historicamente, o índice P/L do Ibovespa gira em torno de 11. Hoje está em 9, o que mostra que há espaço para valorização”, destaca Gomes.
Em termos de setores, ele aponta que, em cenários de juros e inflação altos, empresas dos segmentos de bancos, instituições financeiras, energia elétrica e saneamento básico tendem a se sair melhor e trazem boas oportunidades para o investidor.
EMPRESAS SÓLIDAS AJUDAM A DIVERSIFICAR
Já Nunes reforça que o foco deve estar em empresas sólidas, com histórico de pagamento de dividendos, e com uma perspectiva de crescimento sustentável no médio e longo prazo.
Ambos os especialistas destacam a importância da diversificação. “O ideal é não concentrar os investimentos em um único setor ou ativo. O investidor que deseja ingressar ou se manter na bolsa pode, por exemplo, escolher duas empresas consolidadas de cada setor resiliente, com um limite de 1% a 3% do patrimônio alocado em cada um”, orienta Gomes.
Ainda que haja uma série de condições favoráveis a esses ativos, o investidor não deve perder de vista o fato de se tratar de uma renda variável. Portanto, não há como cravar que haverá ganho. Além disso, o desempenho passado não deve servir de garantia de valorização futura.