Tarifaço de Trump vai encarecer carros elétricos para os americanos
Taxação sobre importados vai impactar no segmento de autopeças e veículos acabados; para alguns modelos importados, as tarifas podem aumentar os preços em até US$ 20 mil

As tarifas de 25% do governo Trump sobre carros importados e autopeças devem atrapalhar a indústria automobilística e aumentar os preços dos veículos vendidos nos Estados Unidos em milhares de dólares. Neste contexto, os modelos elétricos correm um risco particular.
As tarifas de Trump sobre importações de veículos entraram em vigor na quinta-feira, dia 3. Já as tarifas sobre autopeças importadas entrarão em vigor em 3 de maio. Para a indústria automobilística em geral, os carros americanos de menor preço podem ter custos adicionais de US$ 2.500 a US$ 5.000 devido às tarifas, publicou a consultoria Anderson Economic Group em um relatório esta semana.
Os SUVs, em particular, podem ser atingidos ainda mais duramente. Embora muitos sejam montados nos EUA, eles têm peças do Canadá, Europa e México. Portanto, podem ter aumentos de preço de US$ 10.000 a US$ 12.000. Os veículos elétricos também podem ter aumentos de preço que "excedam US$ 15.000", de acordo com o relatório.
IMPACTO DAS TARIFAS NOS IMPORTADOS
Para alguns modelos importados, as tarifas podem aumentar os preços em até US$ 20.000. No total, os consumidores dos EUA podem ver um aumento estimado de US$ 30 bilhões no custo dos carros no primeiro ano completo das tarifas.
Embora a lei de redução da inflação (Inflation Reduction Act, a IRA) tenha buscado estimular a fabricação doméstica de VEs, ainda há um punhado de modelos que são importados. Entre eles estão o Polestar 2 (da China), o Mustang Mach-E (do México), o Volkswagen ID.BUZZ (da Alemanha) e o Hyundai Ioniq 6 (da Coreia do Sul). Neste último caso, vale citar que a Hyundai acabou de abrir uma fábrica nos EUA para construir seus VEs Ioniq 5 e 9 na Geórgia.
Pra contextualizar, a IRA é uma política pública americana, proposta em 2021 pelo governo de Joe Biden e assinada como lei em agosto de 2023. A lei foi criada para atenuar a escalada da inflação no país, com a previsão de investimentos verdes para ampliação da oferta interna, o estímulo à produção de energia, ao aumento da capacidade industrial, à aquisição de suprimentos críticos e à realização de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias
BATERIA VEM DE FORA
Os VEs fabricados nos EUA ainda dependem de materiais importados, principalmente baterias e componentes de bateria. "O IRA levou ao estabelecimento de instalações de produção domésticas, mas a transição ainda está em andamento", diz Stephanie Valdez Streaty, diretora de insights do setor na Cox Automotive.
Até mesmo os Teslas, que são feitos nos EUA, têm cerca de 20% a 25% de seu valor em componentes originários do México. O próprio Elon Musk disse que o impacto de custo dessas tarifas "não é trivial".
Essas não são as únicas tarifas em jogo para EVs. "Embora veículos elétricos e veículos com motor de combustão interna sejam afetados por tarifas, EVs são mais impactados por tarifas de alumínio e materiais de bateria, o que pode aumentar significativamente os custos de produção", diz Valdez Streaty.
EVs usam mais alumínio do que carros movidos a gasolina como uma forma de reduzir o peso e torná-los mais eficientes. Ambos os tipos de veículos usam aproximadamente a mesma quantidade de aço, que também está enfrentando tarifas.
PODE SOBRAR ATÉ PARA O GRAFITE
Trump também pode impor tarifas ainda maiores sobre grafite, um componente-chave em ânodos e baterias em geral. A Comissão de Comércio Internacional dos EUA diz que a China tem exportado grafite artificialmente barato, o que suprimiu a própria indústria de grafite dos EUA.
Petições de produtores americanos de materiais de ânodo solicitaram que as tarifas sobre grafite chinês fossem aumentadas para até 920%. Os EUA não produzem grafite e, portanto, dependem de importações.
Isso poderia aumentar o custo do material de ânodo de grafite sintético de US$ 4.200 por tonelada métrica para aproximadamente US$ 42.672 por tonelada métrica, diz Valdez Streaty. O impacto levaria a um acréscimo no ao custo total das células NMC 811, um tipo de bateria de íons de lítio, em 51%. Tesla, Volkswagen e Ford usaram essas células de bateria.
DEMANDA SOB AMEAÇA
Os EUA já não têm VEs acessíveis, especialmente em comparação com a China, que fabricou modelos de VE por até US$ 10.000. As tarifas, combinadas com a potencial reversão do crédito fiscal para VEs, poderiam afundar a demanda doméstica por esses modelos, mesmo aqueles feitos por trabalhadores americanos.
O crédito tributário para veículos elétricos, parte da IRA, tinha como objetivo estimular a produção doméstica de veículos elétricos. Livrar-se dele poderia então eliminar a necessidade de futuras fábricas desses modelos ou baterias para veículos elétricos nos EUA, de acordo com um estudo da Universidade de Princeton, divulgado de março.
Esse estudo descobriu que se esse crédito tributário para veículos elétricos acabar (e também se as regulamentações de emissões de escapamento forem revertidas), então "até 100%" das fábricas planejadas de veículos elétricos podem correr o risco de serem canceladas ou fechadas.
Entre 29% e 72% das fábricas de baterias dos EUA operando até o final de 2025 também seriam "desnecessárias para atender à demanda automotiva e podem correr o risco de fechamento", observou o estudo.
Isso porque remover o crédito tributário pode fazer com que as vendas de veículos elétricos caiam cerca de 30% em 2027 e 40% em 2030, em comparação com um cenário em que essas políticas continuassem. O estudo descobriu que, cumulativamente, pode haver 8,3 milhões a menos de veículos elétricos e híbridos plug-in nas estradas dos EUA em 2030.