2023 foi um ano ruim para a imprensa e a mídia. 2024 pode ser ainda pior

Relatório do Instituto Reuters aponta redução do tráfego gerado por redes sociais para sites de jornalismo

Crédito: pinnacleanimates/ Freepik

Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

A indústria de mídia encerrou 2023 em péssimas condições, com uma série de demissões que resultaram na perda de emprego de mais de 20 mil profissionais. O que os próximos 12 meses reservam para o jornalismo e o setor em geral?

Todos os anos, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, divulga suas previsões para o próximo ano, cortesia do pesquisador associado Nic Newman.

A previsão de Newman, baseada em uma pesquisa com 314 líderes de mídia de 56 países, não é muito otimista. Aqui estão algumas das principais tendências e previsões, baseadas nas respostas dos entrevistados na pesquisa:

  • Colapso no tráfego via redes sociais

Várias organizações de mídia saíram do X/ Twitter, devido a incertezas sobre o futuro da plataforma sob a propriedade de Elon Musk. Quando a NPR (National Public Radio, rede pública de emissoras de rádio dos EUA) saiu do X em abril de 2023, viu uma diminuição de um ponto percentual no tráfego para seu site.

Dados coletados pelo Instituto Reuters por meio do Chartbeat sugerem que a indústria de mídia em geral sofreu um impacto mais significativo: as referências de tráfego do X/ Twitter caíram 27% no ano passado, enquanto o tráfego do Facebook caiu 48%.

Fonte: Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo
Fonte: Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo

"O grande temor é que o tráfego de busca pode ser o próximo, à medida que os resultados alimentados por IA fornecem respostas diretamente na interface, em vez de oferecer links para sites de notícias", escreve Newman.

  • Receitas de IA não vão salvar o jornalismo

O "The New York Times" entrou com um processo contra a OpenAI por supostamente violar seus direitos autorais ao usar material de origem jornalística para treinar seus grandes modelos de linguagem.

Mas a verdade é que os editores acham que as receitas provenientes da concessão de direitos a empresas de inteligência artificial para usar legalmente seus dados para treinamento não serão a tábua de salvação que alguns esperam.

Fonte: Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo

Cerca de metade dos líderes de mídia questionados pelo Instituto Reuters acham que haverá "muito pouco" dinheiro para os publishers que fazem acordos de licenciamento com plataformas de IA. Segundo o "The Information", a OpenAI está oferecendo quantias tão baixas quanto US$1 milhão por ano pelos dados. Ou seja, os editores podem estar certos.

  • Empresas de mídia vão apostar suas fichas na Meta

Embora o tráfego do Facebook tenha caído em 2023, os veículos de jornalismo ainda estão interessados em abraçar outras oportunidades oferecidas pela Meta (empresa-mãe do Facebook) para conectar audiências ao seu trabalho.

O tempo e o esforço que os editores estão deixando de empregar no X/ Twitter e no Facebook serão investidos no WhatsApp e no Instagram, graças à decisão da Meta de abrir canais de transmissão para os editores.

Fonte: Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo
  • Assinaturas vão se tornar mais comuns

Barreiras de pagamento (os chamados paywalls) que muitos veículos colocam para monetizar seu conteúdo são uma fonte importante de receita à medida que outros métodos de financiamento do jornalismo dão pouco resultado.

Oito em cada 10 entrevistados para a pesquisa acreditam que o paywall é importante. No entanto, menos da metade diz estar confiante nas perspectivas do jornalismo em 2024, e um em cada oito é totalmente pessimista em relação ao futuro.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais