Estudando para o Enem? Veja como usar IA com sabedoria para tirar uma boa nota

Ferramentas como ChatGPT e Bard ganham espaço na preparação dos estudantes, mas exigem uso crítico e verificação constante

Imagem de mão humanoide digitando no teclado de computador, dividida pela tela deste computador. No outro lado, mão humana escrevendo com caneta em papel.
Ferramentas como ChatGPT e Google Bard podem ajudar na preparação para o Enem, mas exigem uso crítico e cuidado com informações falsas. Crédito: Google DeepMind/ Pexels/ Robert Hyrons/ Getty Images

Flávio Oliveira 3 minutos de leitura

Desde o início do ano, é comum que milhares de estudantes intensifiquem os preparativos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesse contexto, as ferramentas de Inteligência Artificial (IA) — como ChatGPT, Google Bard e LuzIA — têm se tornado aliadas populares para revisar conteúdos, tirar dúvidas e gerar resumos.

Mas o uso desses recursos requer atenção: embora ofereçam praticidade e agilidade, também apresentam limitações que podem comprometer o aprendizado se não forem utilizados com discernimento.

De acordo com Cláudio Miceli, professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas e Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para compreender como funcionam essas tecnologias, em que contextos elas podem ser eficazes e quais os riscos envolvidos em confiar cegamente nos resultados. As informações são da Agência Brasil.

“A questão é: ela não está ali para substituir o docente, substituir o professor, substitui um cursinho ou um livro. É uma ferramenta extra”, alerta Miceli.

Duas categorias de IA: preditiva e generativa

O professor explica que, de modo geral, os estudantes têm contato com dois tipos principais de inteligência artificial: as plataformas preditivas e as IAs generativas.

As plataformas preditivas são utilizadas há mais tempo, principalmente em simulados e aplicativos que identificam as áreas em que o aluno tem maior ou menor desempenho. Ao responder a um conjunto de questões, a IA analisa padrões e sugere novos exercícios focados nas deficiências detectadas.

“Isso é muito comum, várias páginas para concurso usam isso”, diz Miceli. “É um uso bem tradicional dessa IA e que já vem antes da IA generativa. A gente já vinha utilizando isso, só não era muito falado. É um uso muito legal e que funciona.”

Já as IAs generativas, como o ChatGPT, são mais recentes e vêm ganhando popularidade por gerar textos completos a partir de comandos simples. Elas funcionam a partir de grandes bases de dados e utilizam probabilidades estatísticas para formular respostas.

“Digamos que eu pergunte: o que é IA? Ele vai buscar, dentro da grande base de textos, todos os textos que falam de IA. Ele vai começar a construir o texto assim: ‘IA é’. E vai buscar nas bases de texto qual a próxima palavra, qual o próximo conjunto de texto mais provável a aparecer dado esse conjunto de palavras-chave”, explica.

Bases de dados e limites da confiança

Apesar da utilidade, essas ferramentas não estão livres de falhas. Como dependem da qualidade dos dados com os quais foram treinadas, podem apresentar erros, desatualizações ou enviesamentos.

“Um elemento de IA é tão bom quanto os dados que ele tem. Então, quando a gente fala de dados enviesados, quando a gente fala em dados incorretos, se alimenta a base de dados com esses elementos, você pode ter resposta errada, com coisas que são muito atualizadas”, esclarece Miceli.

Além disso, muitas vezes os usuários não têm acesso às fontes utilizadas pelas IAs, o que dificulta a verificação da origem da informação apresentada. Por isso, é fundamental cruzar dados e consultar materiais confiáveis.

IA não substitui professor, nem livros

Miceli reforça que, embora práticas, as ferramentas de IA não devem ser o único recurso de estudo. Seu uso mais recomendado é como ponto de partida para aprofundar temas ou estruturar a organização dos estudos.

Confiar cegamente como se fosse o oráculo da verdade é o problema. Mas, como guia de estudos, como um começo, é muito interessante”, observa.

"Quando o aluno trabalha, ele tem que ser obrigado a se confrontar com mais de uma fonte. Isso o obriga simplesmente a não aceitar aquela resposta como a única verdade do universo. A questão é justamente isso, obrigar o aluno a pensar”, conclui.

A comparação feita pelo professor com o Google é ilustrativa. Quando o buscador se popularizou, também gerou discussões sobre seu impacto nos métodos de estudo. Hoje, é ferramenta cotidiana. A tendência, segundo Miceli, é que aconteça o mesmo com as IAs generativas — desde que os estudantes aprendam a usá-las de forma crítica e consciente.


SOBRE O AUTOR

Jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco e mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Com passagem pel... saiba mais