6 razões pelas quais o metaverso pode simplesmente não dar certo

A empolgação com o metaverso está diminuindo, mas ainda há espaço para um pouco de otimismo

Crédito: Yuuji/ iStock

Harry McCracken 4 minutos de leitura

E se o que chamamos de “a próxima grande novidade” nunca realmente se tornar real? 

Tenho refletido sobre essa questão ultimamente quando penso sobre o metaverso. Este foi o assunto mais comentado da tecnologia durante grande parte de 2021 e 2022 – de acordo com muitos, ele seria o futuro da computação e, quem sabe, da própria vida.

Recentemente, porém, o burburinho sobre o metaverso diminuiu. O Google Trends, que rastreia termos de busca ao longo do tempo, mostra que o interesse no tema atingiu seu ápice na época em que Mark Zuckerberg resolveu apostar na construção de um mundo 3D imersivo e passou a adotar uma nova identidade corporativa para a empresa, mudando seu nome de Facebook para Meta. Desde então, as buscas pelo termo metaverso caíram e atingiram os mesmos níveis de antes.

No entanto, a empolgação estar diminuindo não significa necessariamente que ele esteja fadado a desaparecer para sempre. O metaverso pode se recuperar. Mas, no momento, vale a pena considerar o que fez com que o hype diminuísse. Acredito que vários fatores estão em jogo.

A IA GENERATIVA ROUBOU OS HOLOFOTES

Desde o começo, muitos se recusaram a embarcar na empolgação irracional com o metaverso. Mas não consigo imaginar alguém passando alguns minutos brincando no ChatGPT ou o DALL-E 2 e concluindo que a IA generativa é sem graça ou algo que ainda precisa de muitas melhorias.

Ela pode não cumprir 90% do que promete. Pode criar mais problemas do que resolve. Mas terá um grande impacto nas nossas vidas a partir deste ano. Até Mark Zuckerberg diz que ela é uma das principais prioridades da Meta para 2023.

Crédito: OpenAI

O FATOR META

Em pelo menos um aspecto, o rebranding do Facebook foi um grande sucesso. O metaverso agora está tão associado à

Crédito: Meta

Meta que muitas pessoas o percebem como um projeto da empresa, não como algo que não pode ser dominado por alguém.

A Meta reuniu alguns parceiros para ajudá-la com sua visão. Mas a ideia de que esta próxima grande mudança na computação vai fazer com que a empresa se torne ainda mais poderosa não convence o resto da indústria. E não melhora a reputação do metaverso entre aqueles que. instintivamente, desconfiam de qualquer coisa em que Zuckerberg ponha a mão.

O HYPE PREJUDICIAL

Criar um hype tão cedo em torno do metaverso acabou fazendo com que as pessoas perdessem o interesse. Na conferência Meta Connect de 2021, Zuckerberg apresentou um vídeo exagerado sobre como poderia ser o futuro deste mundo virtual.

No vídeo, duas amigas assistiam a um show juntas: uma através de um headset e a outra (aparentemente) na vida real – sem diferença alguma entre as experiências.

Crédito: Meta

O conceito, pelo menos, parece um pouco mais realista do que, digamos, uma máquina do tempo ou um raio encolhedor. Mas o jeito como foi exaustivamente anunciado não poderia ter menos a ver com a estratégia da Apple de permanecer em silêncio até o dia em que finalmente apresentou o iPhone

A MAGNITUDE DO DESAFIO

O metaverso não estará verdadeiramente completo até que

Crédito: Meta

alguém incorpore a tecnologia 3D hiper-realista em um dispositivo semelhante a um par de óculos comum, que possa ser usado o dia inteiro sem precisar recarregar a bateria.

Avanços serão feitos, mas as tecnologias necessárias ainda não existem. Observe que até os porta-vozes da Meta agora estão falando sobre o metaverso como algo que poderá ser experimentado em 2D em um computador, smartphone ou tablet muito antes de poder ser acessado via headset. 

A WEB3 NÃO ESTÁ AJUDANDO

Muitas pessoas associam o metaverso à web3. E ela está ligada a tecnologias como criptomoedas e NFTs, que viram seus próprios hypes diminuírem.

Isso não é razão para descartar de vez o metaverso, que é um conceito grande o suficiente para se concretizar de maneiras que não têm nada a ver com elas. Mas os céticos que consideram a web3 um esquema de enriquecimento rápido que já está falindo podem acabar desistindo do metaverso também.

APLICATIVOS REVOLUCIONÁRIOS? QUAIS?

Desde o início da década de 1980, todas as mudanças importantes nas plataformas de computação foram impulsionadas por softwares que faziam algo visivelmente melhor do que os anteriores.

O aplicativo revolucionário do metaverso será um app para reuniões? Talvez algum dia, mas o começo já não foi muito bom. Um aplicativo de shows? Até o momento, eles são mais um exercício de branding do que uma experiência realmente transformadora.

Show do rapper Lil Nas X no Roblox (Crédito: Roblox)

Um aplicativo só pode ser considerado revolucionário quando há um amplo consenso do seu poder transformador. Até agora, nenhuma experiência nos proto-metaversos de hoje dá conta disso.

É ESPERAR PARA VER

Os avanços da tecnologia sempre tenderam para uma maior imersão e interatividade. É natural que caminhem para algo que se pareça mais como uma recriação do mundo físico e que esteja mais misturado com ele. 

Ainda é cedo para dizer se o metaverso vai ser exatamente como muitos – inclusive Mark Zuckerberg – imaginam. Ou se será criado por uma das gigantes de tecnologia atuais, em vez de alguma startup que ainda nem foi fundada. Nem mesmo sabemos se será realmente chamado de metaverso.

O que quer que nos aguarde pode ser incrível (ou distópico, ou ambos) de maneiras que ainda não entendemos. Mas até lá, por que desperdiçar tanto tempo especulando sobre um futuro que pode nunca chegar?


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais