Como fazer com que adolescentes fiquem menos tempo grudados no celular

Ter um estilo de vida equilibrado na era digital significa encontrar prazer em atividades como se conectar com outras pessoas e explorar o mundo off-line

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David Rosenberg e Natalia Szura 4 minutos de leitura

Pense nos seus dispositivos favoritos – smartphone, tablet, computador ou console –, nos aparelhos que você usa para jogar, assistir a vídeos engraçados e se conectar e conversar com amigos.

Os jovens passam uma parcela considerável do seu tempo neles. Em média, adolescentes gastam 8,5 horas do seu dia na frente de uma tela, e os pré-adolescentes – de oito a 12 anos – não ficam muito atrás, com 5,5 horas diárias.

Esses números se referem apenas às redes sociais, jogos e aplicativos de mensagens. Não incluem, por exemplo, o tempo que passam usando dispositivos para fazer a lição de casa ou trabalhos escolares.

Além disso, grande parte do tempo gasto em redes sociais e em aplicativos de mensagem, aparentemente, nem sequer é agradável, quanto mais produtivo.

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Um estudo de 2017, com adolescentes de 13 a 18 anos, sugere que eles passam a maior parte dessas horas isolados em seus quartos, no celular, se sentindo sozinhos e angustiados. Esses sentimentos de solidão estão relacionados ao aumento do uso de mídias digitais.

Nossa equipe de psiquiatras que trata jovens com vício em aparelhos eletrônicos atende muitos pacientes que passam mais de 40 horas por semana na frente de telas – alguns, até 80 horas.

Pare para pensar: se um adolescente gasta “apenas” uma média de 50 horas por semana usando algum dispositivo dos 13 aos 18 anos, seu tempo total de tela equivale a mais de 12 anos de escola!

ENCONTRANDO O EQUILÍBRIO CERTO

Isso não significa que a tecnologia seja algo ruim. Vivemos na era digital e as pessoas embarcam em jornadas emocionantes por meio de seus celulares e de outros aparelhos. Mas passar muito tempo na frente de uma tela pode causar problemas. Como seres humanos, funcionamos melhor quando estamos em equilíbrio.

se um adolescente gasta 50 horas por semana usando algum dispositivo dos 13 aos 18 anos, seu tempo total de tela equivale a mais de 12 anos de escola.

Usar dispositivos digitais por muito tempo pode afetar a forma como pensamos e nos comportamos. Muitos adolescentes desenvolvem o chamado “medo de estar perdendo algo” – conhecido como “FOMO”(sigla para fear of missing out).

Algumas pessoas desenvolvem nomofobia, que é o medo de ficar sem o celular, ou de se sentir ansioso quando não pode usá-lo. Além disso, o vício digital durante o ensino médio pode contribuir para quadros de depressão, ansiedade e distúrbios do sono na faculdade.

Esses índices estão aumentando vertiginosamente entre os universitários. Hoje, o FOMO é generalizado, o que leva a distúrbios do sono. Muitos estudantes dormem com o celular ao lado cama e acordam para responder a mensagens e notificações durante a noite. O próprio distúrbio do sono é um sintoma central tanto da depressão quanto da ansiedade.

COMO EVITAR O VÍCIO EM DISPOSITIVOS

O vício em telas implica deixar de lado atividades saudáveis. Para alcançar um melhor equilíbrio, alguns especialistas recomendam às crianças e adolescentes o seguinte:

1. Desligue todos os aparelhos durante as refeições em família e passeios

2. Não reclame quando seus pais limitarem seu tempo de uso de telas

3. Apague todas as telas em seu quarto de 30 a 60 minutos antes de dormir.

Além disso, fazer atividades físicas– andar de bicicleta, praticar esportes, levantar pesos ou fazer uma corrida ou caminhada – mantém o cérebro saudável e protege contra depressão e ansiedade, sem contar a redução do tempo de tela.

Outra maneira de ser mais feliz e saudável é passar tempo com outras pessoas – cara a cara, não por intermédio de uma tela. Interagir ao vivo e a cores é a melhor forma de se conectar com os outros e pode ser até melhor para a expectativa de vida do que se exercitar.

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Hobbies que envolvem criatividade também são ótimos para se afastar da tela. Cozinhar, tocar um instrumento, dançar, fazer qualquer tipo de arte ou artesanato e milhares de outras atividades divertidas deixam as pessoas mais felizes e mais criativas. Nossos hobbies nos tornam mais interessantes e atraentes, o que leva a mais interações sociais.

É fundamental que os pais também adotem hábitos saudáveis. No entanto, cerca de um terço dos adultos diz que usa dispositivos “constantemente”. Isso não é um bom exemplo para as crianças. Quando os adultos assumem a responsabilidade de reduzir seu próprio tempo de tela, isso tem um impacto em toda a família.

grande parte do tempo gasto em redes sociais e em apps de mensagem, aparentemente, nem sequer é agradável, quanto mais produtivo.

Nossa equipe de pesquisa usou ressonância magnética para analisar o cérebro de adolescentes com vício em dispositivos eletrônicos. Encontramos prejuízos nas áreas do cérebro relacionadas à tomada de decisão, processamento e recompensa. Mas, depois de um “jejum” digital de duas semanas, as anormalidades se revertem e o dano é reparado.

Nosso estudo também mostra que crianças que buscavam superar o vício digital se saíram melhor com o “jejum” do que aquelas que estavam menos dispostas ou que negavam o vício.

Ter um estilo de vida equilibrado na era digital significa encontrar prazer em atividades como se conectar com outras pessoas e explorar interesses no mundo off-line.


SOBRE O AUTOR

David Rosenberg é professor de psiquiatria e neurociência e Natalia Szura é pesquisadora assistente, ambos na Wayne State University. saiba mais