É hora de priorizar tecnologias voltadas a auxiliar pessoas neurodivergentes

A IA tornou muito mais barato construir ferramentas para pessoas cujos estilos de aprendizagem não se encaixam na categoria neurotípica

Crédito: Google DeepMind

Rahul Rao 4 minutos de leitura

Apesar de representarem 20% da população, grande parte das pessoas neurodivergentes ainda continua sem acesso a ferramentas e recursos para auxiliá-las tanto no ambiente de trabalho quanto em casa.

No entanto, quando observamos os avanços recentes da tecnologia, especialmente da IA generativa, fica claro que agora temos uma oportunidade incrível de construir soluções que capacitam e promovem um senso de pertencimento e inclusão para milhões de pessoas.

Grandes modelos de linguagem (LLMs, na sigla em inglês), como o ChatGPT, da OpenAI, e o Gemini, do Google, tornaram muito mais barato construir ferramentas para aqueles cujos estilos de aprendizagem não se encaixam na categoria neurotípica.

A natureza inerentemente adaptativa dessas tecnologias – seja através da reformatação e simplificação de textos complexos ou da geração de imagens informativas – demonstra o potencial da inteligência artificial em ajudar a tecnologia a aproveitar os pontos fortes de pessoas neurodivergentes.

Crédito: iStock

Embora a IA esteja democratizando a acessibilidade em grande escala, não poderemos aproveitar verdadeiramente seu potencial até aumentarmos a conscientização e acabarmos com os estigmas em torno deste tema.

Além de cumprir uma obrigação ética de levar equidade para pessoas desatendidas, desenvolvedores e líderes empresariais precisam reconhecer que atender às necessidades da população neurodivergente levará a uma sociedade mais inclusiva, mais produtiva e, em geral, mais saudável.

A MUDANÇA COMEÇA COM CONSCIENTIZAÇÃO

A falta de conscientização generalizada sobre a neurodivergência e os estigmas em torno dela têm prejudicado o progresso. Uma pesquisa realizada pelo Understood.org mostra que cerca de 60% dos norte-americanos sequer têm uma compreensão clara do que são as diferenças de aprendizagem e pensamento, muito menos da motivação para construir tecnologias que beneficiem a vida profissional e o bem-estar geral das pessoas com essas diferenças.

Essa falta de conhecimento fica ainda mais evidente quando olhamos para o estado atual dos LLMs e do desenvolvimento da IA de forma mais ampla. Ferramentas como ChatGPT e DALL-E são benéficas, mas não foram projetadas para ajudar e capacitar indivíduos neurodivergentes – este foi um benefício adicional. Isso destaca o enorme potencial não explorado de desenvolver tecnologias de uma forma que auxilie e beneficie especificamente este grupo.

LLMs tornaram muito mais barato construir ferramentas para pessoas cujo estilo de aprendizagem não se encaixa na categoria neurotípica.

Pessoas neurodivergentes têm sido historicamente discriminadas e injustamente sub-representadas na sociedade e na força de trabalho. Continuam a ser severamente subvalorizadas, tanto em nível individual quanto organizacional. E isso apesar de haver um conjunto claro e crescente de evidências de que suas contribuições são realmente valiosas.

Por exemplo, um estudo realizado pela empresa de consultoria Gartner mostra que 75% das organizações cujas equipes de tomada de decisão refletem uma cultura diversa e inclusiva, com ênfase na diversidade cognitiva, tiveram maior produtividade, mais inovação e resultados financeiros positivos.

Da mesma forma, um relatório recente publicado pela McKinsey revela uma correlação entre o aumento da diversidade e a probabilidade de uma organização superar seus concorrentes.

IMPACTO SOCIAL E PROFISSIONAL

Existem várias razões para isso, duas das quais são particularmente relevantes para o tema da neurodiversidade. Em primeiro lugar, a realidade simples e intuitiva de que, quando uma equipe é composta por indivíduos com perspectivas e estilos de pensamento e aprendizagem variados, ela produzirá resultados mais criativos e inesperados.

Em segundo lugar, indivíduos neurodivergentes muitas vezes têm habilidades e talentos altamente distintos, muitos dos quais os tornam especialmente capazes de contribuir para a inovação na era da IA, conforme destacado em um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

No entanto, por mais convincentes que esses fatos possam ser, nenhum deles fará diferença se não forem reconhecidos. Para que isso aconteça, precisamos lutar para que a acessibilidade faça parte do debate mais amplo sobre diversidade, equidade e inclusão e fornecer orientações práticas para o desenvolvimento e implementação de tecnologias assistivas.

Crédito: Understood.org

Para responder à necessidade urgente desse tipo de tecnologia, estamos testando internamente o assistente de IA para neuroequidade do Understood.org, um chatbot que oferece aos usuários respostas e direcionamento para uma ampla gama de recursos virtuais avaliados por especialistas.

Os avanços tecnológicos recentes, como os LLMs, têm o potencial de melhorar a experiência de famílias neurodivergentes ao utilizar a biblioteca de recursos do Understood.org. Além disso, também podem beneficiar funcionários quando integrados às ferramentas no ambiente profissional.

O impacto potencial disso nos inspira e estimula. Essas soluções simples não apenas ajudaram nossos funcionários a concluir tarefas com mais facilidade, mas também podem ser um grande avanço em direção a um futuro mais inclusivo.


SOBRE O AUTOR

Rahul Rao é co-presidente e diretor de tecnologia da Understood.org . saiba mais