Como a Geração Z está redesenhando a lógica financeira
O teor exclusivista de produtos e serviços que seduziam os boomers e os X já não surte efeito com a Geração Z, mais ligada ao senso de comunidade e ao ativismo. E, diferentemente dos predecessores millennials, interessados em viajar o mundo e abrir mão do carro, os nascidos após 1995 são mais pragmáticos.
Ao mesmo tempo em que crescem sentindo os impactos de crises econômicas, financeiras e ambientais, são os mais autodidatas no ambiente digital e os que melhor transitam entre as conversas sobre gênero, equidade e sexualidade.
E essas nuances comportamentais devem estar atreladas ao desenvolvimento da experiência com finanças daqui para frente, de acordo com a fintech Z1, fundada no ano passado por quatro jovens da Geração Y: João Pedro Thompson (ex-Vereda Educação), Thiago Achatz (ex-Yellow e Rappi), Sophie Secaf (ex-BOX 1824) e Mateus Craveiro (ex-Pagar.me).
Hoje, a Geração Z já representa 33% da população global e a projeção do Bank of America é que eles ultrapassem os millennials em poder de compra até 2031. No Brasil, são 50 milhões de pessoas que movimentam cerca de R$ 84 bilhões. Mas a Z1 não gosta de se definir como um banco exclusivamente voltado para esse público – prefere apostar na lógica que perpassa gerações de que dificilmente um cliente muda de banco ao longo da vida. “Não somos um banco para adolescentes, a Z1 é uma coisa jovem, vamos nos mover com esse público e criar outros produtos à medida que fiquem mais velhos, para crescer com eles”, afirma Sophie.
Buscando aliar educação financeira aos formatos rápidos aos quais esses teens já estão habituados, a startup aposta em conteúdos no TikTok com microinfluenciadores, que abordam conceitos básicos, como a diferença entre débito e crédito, a explicações sobre criptomoeda. A proposta é entregar informações que não subestimem esse público e de forma a inseri-los, cada vez mais, na economia digital.
“Para nós, era irônico que essa geração digital savy ainda tinha de mexer com dinheiro. Óbvio que ainda precisamos da autorização dos pais, mas digitalizamos e facilitamos esse processo para os adolescentes terem mais autonomia, que é outro código dessa geração”, explica Sophie. Hoje, o banco oferece um cartão de “crébito” (qualquer semelhança com o vídeo do Porta dos Fundos é mera coincidência, afirma a empresa), que une o pré-pago à função de crédito, além de viabilizar o PIX. De acordo com a empresa, a minoria dos clientes da Z1 pertence à classe A e ao eixo Rio-São Paulo, e muitos dos jovens trabalham e até empreendem.
DIVERSIDADE E INCLUSÃO
Acesso, democratização e diversidade são critérios que pautam a escolha dos embaixadores e o tom da comunicação da startup, que utiliza a linguagem neutra, algo que atrai haters e questionamentos de alguns pais. Cientes de que estas reações poderiam ocorrer, a empresa pretende fincar o pé nesses valores para fazer mudanças de dentro para fora.
Uma das principais metas no que diz respeito à política de diversidade da Z1 é a empregabilidade de pessoas minorizadas. “Vejo empresas gigantes que tentam mudar retroativamente. E, no nosso caso, se existe a possibilidade de começar a pensar diversidade do zero, não existe desculpa”, afirma Sophie.
De janeiro a março, a Z1 foi acelerada pelo YC, que preza pela diversidade e, no início de maio, a fintech recebeu R$ 14 milhões em uma rodada seed capitaneada pelo fundo norte-americano Homebrew. Entre os participantes esteve o Gaingels, fundo de investimento reconhecido pelo apoio à comunidade LGBTQIA+.