Como o Blockchain pode se tornar o sistema financeiro que o mundo precisa

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 4 minutos de leitura

O início do sistema financeiro moderno normalmente é relacionado à Conferência de Bretton Woods, enquanto a Segunda Guerra Mundial chegava ao  fim. A Conferência resultou em um acordo entre potências cujo objetivo era fortalecer alianças e evitar outra grande guerra através de incentivos financeiros internacionais. Hoje, devido às crises econômicas de 2008 e de 2020, líderes globais estão sugerindo a necessidade de um novo acordo em moldes semelhantes. Mas, para indústria de blockchain, isso talvez já tenha ocorrido em 2008, com a publicação do “white paper” do Bitcoin escrita por Satoshi Nakamoto.

Se o objetivo é criar um novo sistema financeiro que contemple quem não têm acesso a bancos, que ignore fronteiras e que trate todos de forma justa, ele precisa ser criado do zero. Não podemos depender apenas das políticas de grandes potências – empresas e indivíduos devem ter acesso a um sistema aberto, com regras e lógicas claramente definidas, que sejam fáceis de compreender e em que se possa confiar.

Blockchains públicos, como o Bitcoin e o Ethereum, são o primeiro sistema financeiro global verdadeiramente justo e que provou ser seguro e eficaz, com transações de trilhões de dólares em todo o mundo. E o próximo passo serão as tecnologias de finanças descentralizadas (DeFi) – que reinventarão funções bancárias como empréstimo, financiamento e formação de mercado através de contratos inteligentes aos quais qualquer um poderá ter acesso.

O Blockchain fornece aos usuários as mesmas informações e o mesmo nível de acesso e velocidade, independentemente de onde estejam. Ao contrário da maioria dos serviços digitais, que funcionam melhor em certas regiões, como no Vale do Silício, a tecnologia blockchain funciona exatamente da mesma maneira quer você esteja na Califórnia ou no Afeganistão. O sistema financeiro moderno é baseado na falta de confiança e de transparência e isso encarece e retarda transações, além de exigir uma complexa rede de agentes, como bancos, órgãos reguladores, escritórios de advocacia, contadores e seguradoras. É um sistema que foi pensado apenas para as necessidades de quem tem mais dinheiro e que, na maioria das vezes, nega acesso a melhores investimentos e retornos a pessoas comuns.

Blockchains são registros públicos e confiáveis que qualquer um pode usar. E as criptomoedas estão na vanguarda de um novo sistema financeiro alternativo mais simples, seguro e eficiente. Ele oferece opções de investimentos, empréstimos, transações e pagamentos – e, no futuro, poderá possibilitar a inclusão financeira de bilhões de pessoas que não têm acesso pleno às instituições tradicionais. Ele foi criado pensando nas pessoas e no que queremos, independentemente de fronteiras, afiliações e sistema político.

DINHEIRO SEGURO NUM MUNDO INSEGURO

Há dois anos, eu conheci uma empresária do Afeganistão que me contou sobre o impacto do Bitcoin em seu país: “Foi a primeira vez que as mulheres puderam ter seu próprio dinheiro sem que os homens de suas famílias soubessem”. A ideia de ter uma moeda digital que só elas poderiam usar, em uma carteira que elas não precisavam da permissão de ninguém para ter acesso, foi revolucionária.

Um tempo depois, conheci refugiados sírios em Londres através de uma instituição de caridade chamada Refugees at Home. Eu os ajudei a abrir suas primeiras carteiras de Bitcoin e os alertei para protegerem suas seed phrases (12 palavras aleatórias que servem como senha para acessar a conta) porque qualquer um que as descobrisse poderia roubar as criptomoedas.

Poucos segundos depois, um deles me perguntou: “Se eu contasse à minha família na Síria a minha seed phrase, eles teriam acesso aos Bitcoins?” Respondi que sim. Esta é provavelmente a forma mais fácil e segura de enviar dinheiro para um país em guerra.

Esses são exemplos drásticos e que provavelmente não serão muito relevantes para a maioria das pessoas que lerem este artigo, mas, por outro lado, o DeFi também tem muito a oferecer a países ricos (e também a pessoas ricas). Ele oferece melhores taxas de juros, compensação e liquidez de ações mais rápidas, acesso a investimentos para não credenciados, mais transparência e regras claras que podem beneficiar a todos. No sistema financeiro tradicional, por exemplo, se você deposita US$ 10 mil na poupança, a uma risível taxa de 0,01%, o banco usará esse dinheiro para conceder empréstimos e terá um lucro de 5% a 6% com os juros. Já no DeFi, o contrato inteligente fica com apenas uma pequena parte, permitindo que investidores (como você) lucrem mais, com rendimentos que chegam a ser centenas de vezes maiores do que o de uma conta poupança convencional.

O CAMINHO PELA FRENTE

Os blockchains e a tecnologia DeFi têm o poder de transformar vidas, mas ainda há um longo caminho pela frente para o setor. Hoje, a experiência do usuário ainda é um tanto confusa e intimidadora, e há uma enorme quantidade de armadilhas nas quais os mais inexperientes podem cair. É comum que usuários novos esqueçam suas seed phrases, se exponham a hackers, ou até mesmo acabem sendo vítimas de esquemas fraudulentos. Para que isso não ocorra, precisamos que os líderes do setor integrem essas novas tecnologias a aplicativos previamente testados e que os usuários já estão familiarizados. Com isso, esses aplicativos poderão promover curadorias de projetos aprovados, gerenciar chaves de segurança e redefinir senhas. Assim esses problemas forem resolvidos, conseguiremos levar a bilhões de pessoas ao redor do mundo as oportunidades financeiras que elas nunca tiveram antes.

 


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais