AGCO: coleta de dados impulsiona a produtividade no agronegócio

Crédito: Fast Company Brasil

Fábio Cardo 11 minutos de leitura

No disputado e crescente mercado de máquinas agrícolas modernas e conectadas, a AGCO tem presença relevante com suas marcas de reconhecimento internacional. Challenger, Fendt, GSI, Massey Ferguson e Valtra pertencem ao seu portfólio de equipamentos híbridos, sistemas de monitoramento com base em telemetria e tecnologias adaptáveis que respondem a variações regionais da agricultura.

Dentro da série de conteúdo sobre a aplicação de tecnologias no agronegócio, conversamos com Alexandre Assis, diretor de vendas da Valtra, e com Diego Ibarra, gerente de agricultura de precisão da AGCO América do Sul, para conhecer as iniciativas da empresa no sentido de melhorar a produtividade e sustentabilidade no campo com a captação e uso de dados.

MERCADO DE EQUIPAMENTOS CONECTADOS NO BRASIL

Diego Ibarra, gerente de agricultura de precisão da AGCO América do Sul (Crédito: AGCO)

“Já vimos trabalhando no campo, com equipamentos interligados a sistemas inteligentes que, em tempo real, leem dados e fornecem informações para orientar o produtor a tirar o melhor potencial daquela área, por exemplo”, afirma Diego. A agricultura conectada é uma das principais soluções para uma produção sustentável, capaz de fornecer alimentos e fibras para uma população mundial crescente. E já é realidade nas lavouras do Brasil, que, aliás, tem os agricultores mais interessados em adoção de tecnologias.

A maioria das máquinas agrícolas têm uma tecnologia que permite que sua operação seja baseada em dados e direcionada para a maior produtividade, considerando a análise do relevo, a cultura e até características climáticas. O uso de piloto automático, orientado por mapas de plantio, é cada vez maior e mais disseminado em diferentes lavouras.

E o bom momento do agronegócio brasileiro, com a alta dos preços das commodities, safras recordes e o impacto positivo do câmbio, anima o produtor a fazer investimentos em máquinas e equipamentos para ter cada vez mais eficiência e produtividade.

Alexandre Assis, diretor de vendas da Valtra (Crédito: AGCO)

Na visão de Alexandre, “Não há mais dúvidas sobre os ganhos associados à agricultura digital, que viabiliza o gerenciamento de todo o sistema de produção da fazenda desde a previsão meteorológica até a identificação de áreas menos produtivas, passando pela produção e pelo compartilhamento imediato de dados estratégicos sobre desempenho da máquina, aplicação de defensivos e insumos, entre outros.

Com tudo isso, o produtor rural brasileiro é um dos mais interessados em tecnologia do mundo, o que justifica o consistente aumento da demanda por equipamentos conectados. Pesquisa realizada pela Embrapa, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), revelou que 84% dos agricultores brasileiros utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio à produção agrícola.

O estudo mostra que a facilidade de comunicação e de acesso à informação, proporcionada pela internet, são a porta de entrada, hoje, para introduzir o agricultor no “mundo” das novas tecnologias, gerando cada vez mais demanda por serviços digitais conectados ao campo.

“Por esse motivo, desenhamos uma estratégia de tecnologia aberta e 360° capaz de atender todo o ciclo produtivo agrícola com o Farm Solutions Valtra, que permite o planejamento para uma operação inteligente em todas as etapas de cultivo; por meio de tecnologias que irão extrair o máximo de cada metro quadrado da lavoura, possibilitando praticar uma agricultura de alto desempenho e baixo custo (econômico e ambiental)”, reforça Alexandre. Todos os processos podem se tornar ainda mais rentáveis e produtivos. 

PERSPECTIVAS DE USO DE EQUIPAMENTOS CONECTADOS

Estima-se que 53% dos agricultores já utilizam pelo menos uma tecnologia ou estão dispostos a adotar pelo menos uma nas próximas duas safras. Segundo pesquisa da McKinsey, 40% dos agricultores reinvestem seus lucros em novos maquinários. 

Na visão de Alexandre, quando olhamos mais profundamente para os fatores de decisão na compra de equipamentos, o mesmo levantamento aponta que 36% de todos os produtores se baseiam em critérios como performance no campo e custos potenciais relacionados à manutenção e pós-venda.

Diego traz outras informações sobre as perspectivas de uso dos equipamentos conectados, reforçando a tendência de adoção dos equipamentos: a agricultura de precisão é utilizada por 29% dos agricultores e, para os próximos cinco anos, mais da metade dos produtores que ainda não usam a tecnologia, poderá implementá-la em sua propriedade, segundo a “8ª Pesquisa ABMRA Hábitos do Produtor Rural.

O QUE OS PRODUTORES NACIONAIS MAIS DEMANDAM EM EQUIPAMENTOS CONECTADOS

Diego entende que a nova geração de agricultores busca o que há de mais tecnológico em máquinas para obter maior produtividade, redução de consumo de combustível e menor tempo para execução das atividades agrícolas. Hoje, praticamente todos os dispositivos usados no campo utilizam a tecnologia como aliada na tomada da melhor decisão ao produtor, no monitoramento e controle da máquina e das operações, garantindo o melhor em termos de eficiência.

“Existe um processo acelerado de incorporação das tecnologias digitais na agricultura. Além de liderar o ritmo de geração de empregos, o agronegócio também está ficando mais jovem e escolarizado, o que demanda do mercado mais soluções digitais para a agricultura familiar, principalmente”, comenta Alexandre.

Em um primeiro momento, a procura é por tecnologias que ajudem em uma gestão baseada na coleta de dados, reunindo e processando uma série de informações e características da área produtiva. Depois, entram as soluções para melhorar a gestão dos insumos, com base em padrões e requisitos estabelecidos pelo próprio produtor – aqui podem ser aplicados em diferentes sistemas e soluções, incluindo câmeras, sensores, drones, dispositivos de georreferenciamento, piloto automático das máquinas agrícolas, barras de luz, monitores de colheitas, semeadoras e controle bico a bico dos pulverizadores.

Anualmente, a Valtra amplia seu portfólio de soluções tecnológicas para que o agricultor tenha opções que se adequem às necessidades de suas propriedades. Como exemplo, além do maquinário, a empresa oferece o piloto automático, que oferece alta precisão em direcionamento automático nas mais diversas operações e condições de terreno. 

Na linha de melhorar a sustentabilidade, conta com transmissão CVT, gerando aumento no rendimento de 30% sem mexer nos custos. O motor eletrônico traz o melhor controle da potência e velocidade para garantir 25% menos consumo de combustível. Além disso, a maior eficiência de combustão combinada com a transmissão CVT permite a execução em rotações mais baixas e aumenta a durabilidade do óleo do sistema hidráulico em até 80%. Essa série de tratores inteligentes, oferecem tecnologia de pilotos automáticos para gerar ganhos de produtividade de até R$ 200/hectare, destaca Alexandre.

(Crédito: Divulgação Massey Ferguson)

CONECTIVIDADE DANDO SUPORTE À MELHOR PRODUTIVIDADE NO BRASIL

Com a adoção de tecnologia no campo, a produtividade brasileira aumentou, reduzindo a necessidade de exploração de novas áreas. A produção de grãos no país cresceu mais de 300% entre 1997 e 2020, enquanto a área plantada avançou cerca de 60%, de acordo com a Conab. A participação do Brasil no mercado global de alimentos saltou de US$ 21 bilhões para US$ 100 bilhões nos últimos 10 anos, principalmente com a venda de carne bovina, soja, milho, algodão e produtos florestais.

Na visão de Diego, foi a tecnologia que trouxe a agricultura brasileira para a posição de maior exportador e quarto maior produtor mundial de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo), atrás dos Estados Unidos, China e Índia, com 7,8% da produção global. Hoje o país é líder na produção de café e açúcar, 2º maior exportador de milho em 2020, se destaca também como o maior rebanho bovino do mundo e maior exportador dessa carne e o 3º maior produtor de frutas do mundo.

Segundo a Embrapa, em 2050 a produção brasileira de grãos poderá ultrapassar 500 milhões de toneladas, tendo um papel ainda mais importante na segurança alimentar mundial. “O que estamos dizendo aqui é que a produção brasileira de grãos dobrará em 30 anos, graças à tecnologia aplicada ao campo”, reforça Alexandre.

De acordo com as apurações da empresa, na prática, a conectividade traz resultados mensuráveis aos negócios, como o aumento de eficiência do plantio conectado em até 5% e a redução do uso de insumos de pulverização em até 15%.

“Importante dizer que o Brasil só se tornou a superpotência agrícola nas últimas décadas, devido a uma série de transformações e investimentos em pesquisa e desenvolvimento que geraram tecnologia para aumentar a produtividade, a gestão profissional da fazenda e a digitalização”, ressalta Alexandre.

CONECTIVIDADE NO CAMPO BRASIL X OUTROS PAÍSES: ESTAMOS MUITO DEFASADOS?

“A agricultura brasileira é uma das mais tecnológicas do globo, e os produtores locais têm acesso a todas as inovações relevantes do setor. Porém, é importante salientar que as realidades das lavouras são distintas em cada país. Por exemplo, aqui a agricultura é em larga escala e cultivada em grandes áreas, exigindo equipamentos robustos com desempenho maximizado. Já países da Ásia, por exemplo, precisam de equipamentos de menor porte e especificações”, comenta Alexandre.

Quando existem cultivos intensivos como uvas, frutas, hortaliças e vegetais, é preciso equipamentos com baixa potência. No Brasil, onde também temos esse perfil de produtor, se olharmos para o Cerrado brasileiro, vemos agricultores que antes trabalhavam tradicionalmente como pequenos no sul do Brasil e agora se tornam grandes produtores, que necessitam de tratores de mais alta potência.

Um exemplo interessante é o da plantadeira dobrável Momentum, que revolucionou o plantio, em especial nas grandes propriedades. O implemento é o primeiro projeto global da Massey Ferguson desenvolvido 100% no Brasil, trazendo a melhor qualidade de plantio do mundo para as lavouras brasileiras e oferecendo maior versatilidade para transporte e agilidade ao agricultor. O modelo é um marco na linha do tempo da mecanização agrícola no país e no mundo.

Diego complementa com sua visão sobre a conectividade no país e no exterior: “Mesmo que tenhamos algumas diferenças de uso ou de implantação, as técnicas em si, são as mesmas dentro e fora do País. Em outros países, onde a conectividade é maior, os produtores conseguem utilizar mais recursos para gestão das operações em tempo real”.

De todo modo, há forte adoção de tecnologia e agricultura de precisão no Brasil, assim como nos Estados Unidos, em cultivos de larga escala e de maior valor, principalmente em propriedades administradas por pessoas mais jovens.

(Crédito: Divulgação Massey Ferguson)

O FUTURO DOS EQUIPAMENTOS CONECTADOS

“O grande desafio é a conectividade no campo. Ainda hoje, mais de 70% das propriedades rurais no Brasil não têm acesso à internet. Apenas a melhoria do sinal 4G, 3G e 2G na conectividade rural poderia incrementar em 4,5% o Valor Bruto de Produção (VBP) da agropecuária brasileira – equivalente a cerca de R$ 47,5 bilhões a mais no VBP de 2021, projetado pelo MAPA em R$ 1 trilhão”. destaca Alexandre.

Quando a máquina está na lavoura, em geral, não há sinal de telecomunicação para permitir sua conectividade com a central de operações da fazenda, por exemplo. Segundo ele, “problemas simples de paradas de máquinas poderiam ser resolvidos à distância por uma chamada de vídeo do operador para nossas concessionárias. E ainda, nos falta um passo importante: o acompanhamento das operações que estão sendo desenvolvidas e a integração das máquinas com outras “coisas” em tempo real, de modo a permitir melhor administração do processo produtivo. Por exemplo: uma plantadeira integrada a uma estação pluviométrica poderia ser levada à suspensão de uma operação em função de chuva”. 

Para acelerar essa a revolução digital e levar conectividade acessível aos produtores de todo país, a AGCO é uma das fundadoras do ConectarAGRO, uma associação civil sem fins lucrativos que visa fomentar a expansão da internet nas áreas remotas do Brasil, para conectar pessoas, máquinas e instrumentos, viabilizando a Internet das Coisas (IoT) na agricultura.

A associação já levou conectividade para 6 milhões de hectares e para mais 25 mil quilômetros de estradas e rodovias, 280 cidades diferentes do Brasil se beneficiaram pelo projeto. O desafio ainda é grande, mas a oportunidade é ainda maior porque podemos ampliar significativamente a produção agrícola brasileira somente pelo uso de tecnologias habilitadas pela conectividade.

Na visão de Diego, com a implantação do 5G, haverá investimento em todas as estradas do País, levando conectividade para muitas propriedades. Possibilidade de o agricultor conectar as suas máquinas para tomar melhores decisões, ter mais produtividade e gerir melhor os recursos naturais. Traz mais praticidade e leva o desenvolvimento para o campo.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais