Comi o frango de micélio do chef David Chang. É incrivelmente bom

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 3 minutos de leitura

Não me impressiono ao olhar para costeleta à milanesa. Não posso ignorar sua forma fabricada, um triângulo de bordas macias que parece uma palheta de guitarra, uma novidade no tamanho do meu prato. Acontece que as palhetas de guitarra não fazem exatamente os sucos estomacais funcionarem. E enquanto eu considero o que me espera dentro do pão – micélio (ou a base não frutífera de um cogumelo) –, não tenho certeza se quero experimentá-lo, afinal.

Mas cortei e dei a primeira mordida. Fico agradavelmente surpreso. Minha mente vai para uma costeleta de porco Shake’n Bake, que comi pela última vez aos nove anos. A textura é muito mais leve que a da carne de porco, mais parecida com um hambúrguer de frango. Esta é Meati, a mais recente proteína vegetal que chega diretamente ao consumidor. A empresa arrecadou US$ 50 milhões e atraiu a atenção de algumas das principais mentes em alimentos e sustentabilidade, tendo contratado o chef David Chang para ser seu embaixador.

Créditos: Meati/ Divulgação

Enquanto a maioria dos substitutos de carne obtém proteína de soja, trigo e ervilha, a Meati é a primeira a usar micélio. O micélio não é um cogumelo em si. É a parte da rede fúngica de um cogumelo que vive abaixo do solo, conectando as raízes como uma linha telefônica, para ajudá-los a se comunicar, coordenar e compartilhar recursos. A Meati cultiva seu micélio em grandes tanques que lembram uma cervejaria, usando fermentação.

A conversão eficiente do carbono do micélio em açúcares dentro de proteína e fibra “atinge os máximos teóricos da natureza”, de acordo com Tyler Huggins, CEO e cofundador da Meati Foods. No entanto, por si só, o micélio é praticamente insípido. Huggins explica que o segredo está em grande parte na forma como é tratada a proteína, usando máquinas de pão e queijo para reorganizar a direção das fibras do micélio de modo a imitar fibras musculares. O Meati é notavelmente parecido com a textura da carne.

ENSINAR A PREPARAR

Aprecio o Meati não apenas como uma alternativa à carne, mas como uma alternativa às alternativas à carne. Vejo como uma maneira de evitar comer outra refeição de tofu ou grão de bico. Por ser micélio, o Meati evita o padrão soja- trigo-ervilha, a trinca das proteínas vegetais – até a crosta de frango do Meati é isenta de glúten.

Huggins admite que o produto é “incrivelmente polarizador” e que eles ainda estão trabalhando no sabor. reconhece ainda que é preciso melhorar a divulgação sobre como essas proteínas devem ser preparadas: não como algo pronto para comer, mas como um ingrediente que deve ser marinado, fatiado, refogado ou qualquer outra coisa que você queira. “É um tipo totalmente novo de comida, então queremos dar às pessoas pelo menos uma ideia de como será a experiência”, diz o executivo.

Não sei como será o futuro do Meati ou como o cenário competitivo de frango com micélio versus carne bovina com proteína de soja. (O ingrediente principal do Impossible ainda é a soja.) Mas sei que é gostoso o suficiente, sustentável o suficiente, e que enquanto comia aquela costeleta de frango Meati, me fiz uma pergunta séria: “Como posso justificar comer frango, quando não comer frango pode ser tão bom?”

E então me lembrei do Popeye’s e do apelo de um frango perfeitamente assado. Ok, acho que ainda vou ceder de vez em quando.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais