E se micróbios substituíssem os fertilizantes nas plantações?

Crédito: Fast Company Brasil

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

A invenção do fertilizante sintético tornou possível alimentar bilhões de pessoas. Também causou alguns problemas não intencionais: a produção de fertilizantes a partir de combustíveis fósseis é agora responsável por mais de 20% da enorme pegada de carbono da agricultura, e o produto que lava os campos polui a água e causa zonas mortas no oceano.

Fábricas de fertilizantes sintéticos usam grandes quantidades de energia e precisam de gás natural, usado para produzir amônia, outra forma de nitrogênio. A Kula Bio, uma startup que saiu de uma pesquisa em Harvard, levantou recentemente US$ 50 milhões para ajudar a trazer um produto alternativo ao mercado – fertilizante que usa micróbios, em vez de combustíveis fósseis, para dar às plantas o nitrogênio de que precisam para crescer rapidamente. “É uma bactéria que ocorre naturalmente e tem a capacidade de capturar nitrogênio do ar”, diz Bill Brady, CEO, fundador e diretor da Kula Bio. 

Normalmente, as bactérias que a empresa utiliza viveriam apenas horas. Mas a Kula Bio usa um processo que faz com que vivam por mais de duas semanas, para que possam capturar muito mais nitrogênio para a lavoura. A empresa começa cultivando os micróbios em um biorreator, de modo que o maior número possível esteja em um litro de seu fertilizante, alimentando-os com uma mistura nutricional. Em seguida, corta a fonte de alimento. “Como estão sob estresse e sentem que não têm mais comida, eles começam a armazenar e acumular energia”, explica Brady. “Então, pegam carbono, hidrogênio e oxigênio e começam a produzir esse material que armazena energia em sua estrutura celular”. Isso ajuda os micróbios a durarem no campo.

Bactérias cultivadas pela Kula Bio capturam mais nitrogênio para as plantas

A mistura é pulverizada nas plantações da mesma forma que o fertilizante sintético. O processo tradicional pode fazer com que o produto escorra dos campos, porque os agricultores pulverizam grandes quantidades de uma só vez e as plantas não podem usar tudo. Se chover, o líquido vai parar nos córregos e rios próximos. Mas os micróbios produzem nitrogênio sob demanda. “À medida que eles sentem um déficit de nitrogênio no solo ao seu redor, o mecanismo para fixá-lo entra em ação”, explica. “Quando enviarem nitrogênio em abundância ao seu redor, desligarão esse mecanismo.”

Os micróbios também capturam carbono e, quando morrem, esse carbono permanece no solo, ajudando a torná-lo mais saudável. Isso também auxilia na pegada de carbono do produto. A empresa ainda não concluiu uma análise do ciclo de vida, mas Brady diz que é provável que seja neutro ou até negativo em carbono. Ele pode ser usado em qualquer lugar, em qualquer cultura, ao contrário de um produto de outra startup, a Pivot Bio, que adapta micróbios para plantas específicas. A Kula também está obtendo certificação para que possa ser usada em fazendas orgânicas.

O produto pode substituir até 80% do uso de fertilizante sintético de uma fazenda e, eventualmente, deve ser capaz de substituí-lo totalmente. Por enquanto, quem aplica fertilizante duas vezes por ano pode pulverizar uma vez com Kula Bio e uma com o produto sintético. Mas Brady acredita que será possível substituir completamente o fertilizante sintético. “Os agricultores farão isso se funcionar e se for competitivo em termos de custo. Eles usarão porque isso ajuda a preservar seu maior patrimônio, que é o solo”.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais