Investimentos em tecnologia de produção de alimentos estão em alta. Brasil é exceção

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Os investimentos internacionais em tecnologia para produção de alimentos, agrifoodtech que é a somatória dos investimentos em foodtech, agtech e farmtech, nunca tiveram crescimento tão expressivo. As startups de tecnologia do setor arrecadaram perto de US$ 30 bilhões em 2020. Isso representa um crescimento expressivo de 34,5% em relação a 2019. 

O setor conta com mais de 2700 investidores individuais, e esse número tende a crescer substancialmente. Estes dados fazem parte do estudo “AgFunder AgriFoodTech Investment Report 2021”, desenvolvido pela AgFunder, empresa de venture capital norte-americana com presença internacional. 

Grande parte do aumento deveu-se a um crescimento significativo e negócios em estágio final. Os investidores dobraram os aportes em suas carteiras e na primeira onda de inovações em foodtech. As rodadas de US$ 500 milhões e US$ 200 milhões da Impossible Foods são um bom exemplo. Mas, positivamente, também vimos os negócios em estágio inicial ficarem maiores à medida que a segunda onda de inovadores em tecnologia agroalimentar desfrutam de um reconhecimento cada vez maior do setor por um espectro cada vez maior de investidores de capital de risco.

Os investimentos em farmtech dispararam para US$ 7,9 bilhões em 2020, superando os investimentos de 2019 em US$ 2,3 trilhões, ou 41%, de acordo com o último “FarmTech Investment Report”, também da AgFunder.

Para colocar isso em perspectiva, a aceleração de farmtech foi cerca de seis pontos percentuais maior do que a agroalimentar em geral — isto é, foodtech e farm tech combinados — e 37 pontos percentuais maior do que o aumento ano a ano global de VC em 2020 (que a Crunchbase fixou em apenas 4%).

Grande parte da atividade de investimento foi liderada por dois setores: Ag Biotechnology, que se propõe a melhorar a produtividade no campo e na criação de animais por meio de genética, microbioma e saúde animal, e Novel Farming Systems, principalmente para a agricultura indoor e vertical de plantações e insetos. Os investidores injetaram mais de US$ 1,5 bilhão em cada categoria. As empresas AgBiotech atraíram particular interesse dos investidores: 173 negócios fechados, representando um crescimento de 58% em relação a 2019. A atividade de negócios da Novel Farming Systems cresceu 47% ano a ano.

(Crédito: AgFunder) 

EFEITOS POSITIVOS DA PANDEMIA PARA O SETOR 

A cadeia de produção e toda a logística de distribuição de alimentos tiveram que acelerar os investimentos para poder atender os novos desafios para fazer com que os alimentos chegassem aos consumidores em tempos de restrições de mobilidade. Produzir, colher, transportar e vender alimentos, garantindo quantidade e qualidade, foi um grande desafio para o setor.

Consumidores passaram a questionar a variedade, a qualidade e impactos ambientais dos alimentos que consomem, buscando opções de consumo principalmente quanto a proteína animal. Esse fato reforçou a necessidade de as indústrias investirem em novas opções saudáveis de alimentos processados a partir de grãos – plant based, compondo com as múltiplas opções de alimentos frescos e processados.

Dark kitchens, estrutura de delivery para consumidor final, plataformas de vendas online de alimentos e pratos prontos, entre outros, compõem o rol de negócios que tiveram que agilizar nos investimentos em inovações e melhoria dos serviços para atender as novas demandas.

PARA ONDE ESTÃO INDO ESSES INVESTIMENTOS?

No geral, o maior volume de investimentos foi concentrado em tecnologias para segurança alimentar, rastreabilidade, logística e processamento (Midstream Technologies). Com valores equivalentes, os investidores buscaram também opções de negócios de vendas online e logística de alimentos frescos e processados (eGrocer). Ambas as áreas estão bem relacionadas ao momento da pandemia que demandou inovações para atender a demanda de pessoas em quarentena.

Os Estados Unidos dominam os investimentos efetivados em quantidade de deals e de valor para agrifoodtech. As startups americanas, com inovações em soluções para a produção de alimentos no campo, receberam a maior parte dos investimentos no período. China segue como segundo destino desses investimentos, porém mais concentrados em soluções de e-commerce e logística. 

E o Brasil, onde se situa neste cenário de investimentos? Seja em quantidade de deals ou em valores investidos em agrifoodtech, o país não está entre os 20 maiores destinos de capital no mundo. Entre os países latino-americanos, apenas Rappi aparece por conta de investimentos recebidos no período.

Isso parece um contrassenso se considerarmos a força do agronegócio nacional, com as maiores áreas agricultáveis do planeta, produtividade elevada e crescente ano a ano, quantidade de alimentos que produz e abastece o mundo todo. No entanto, o Brasil já consegue se posicionar no ranking mundial entre os destinos de investimentos somente em farmtech, na 11ª posição, com 18 deals e US$ 67 milhões investidos.

(Crédito: AgFunder) 

“O Brasil tem ótima tração para investimentos em agrifoodtech comparado com outros mercados internacionais. O potencial de crescimento, a qualidade de ativos e valuation, além de pessoal muito especializado, certamente atrairão volumes crescentes de capital para o setor”, comenta Francisco Jardim, CEO da SP Ventures, uma das empresas nacionais mais atuantes em investimentos no agronegócio. Na visão dele, num curto prazo de tempo, o país receberá expressivos aportes de capital de empresas de venture capital, impulsionando todo o ecossistema de produção e distribuição de alimentos. “Certamente a posição do país no ranking mundial melhorará muito” complemente Francisco.

Ainda segundo ele, os investidores ponderam a sustentabilidade como importante parâmetro nas decisões de investimentos. Fato positivo para o produtor rural brasileiro que convive com rígidas regras para a produção de alimentos, porém mal percebido principalmente por falta de comunicação adequada no mercado nacional e internacional.

Outros elementos impulsionarão os aportes de capital nas tecnologias aplicadas no agronegócio nacional. Além do potencial de rentabilidade próprio do setor, o mercado conta com diversas opções digitais de acesso a captação de recursos e investimentos. Blockchain, por exemplo, terá expressivo crescimento de uso para amarrar as operações de financiamento e de investimentos, reunindo também garantias e certificados de carbono neutro. Outras tecnologias usadas para securitização já em uso no exterior tal como STO – security token offering, um dia chegará ao país. E SPACs para as empresas em fase late stage serão facilitadoras para abertura de capital e crescimento das empresas de foodtech no mercado.

O país conta também com a abertura para investidores internacionais, que podem buscar ativos para investimentos em agrifoodtech em outras moedas além do real. Bem mais atraentes principalmente em mercados que operam com juros negativos.

Algumas empresas nacionais já se destacam como alvos de investidores. A AgroSmart e a Solinftec, por exemplo, são as duas startups brasileiras no ranking “Thrive Top 50” da SVG Venture, que aponta as 50 agtechs com melhor potencial de crescimento no mundo.

As oportunidades são muitas para o crescimento dos investimentos em tecnologia de produção de alimentos no Brasil. Uma ótima tendência que será positiva para todo o ecossistema de alimentos.


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