Proteção comestível em frutas e legumes reduz desperdício e uso de plástico

Crédito: Fast Company Brasil

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

Quando os clientes da Trader Joe começaram a reclamar que a loja estava vendendo pepinos embalados individualmente em plástico – prática que muitos supermercados adotam para reduzir o desperdício de alimentos -, o varejista começou a usar embalagens compostáveis ​​à base de plantas. Na Suíça, a rede de supermercados Lidl aborda a questão de um ângulo diferente, procurando fazer com que os produtos durem mais graças a um revestimento feito de vegetais, que é invisível – e comestível.

Em princípio, alimentos com casca não precisariam de embalagens especiais. Uma banana embrulhada em plástico pode parecer desnecessário. Mas, a menos que todos consumissem alimentos locais logo após serem colhidos (o que significaria nada de bananas para muita gente pelo mundo afora), a embalagem pode realmente proporcionar alguns benefícios. Gasta-se muito para produzir alimentos e o desperdício pode responder por até 10% das emissões globais de CO2.

A França se tornou o primeiro país a proibir embalagens plásticas em pepinos embalados individualmente e em 30 outros tipos de frutas e vegetais. A lei acaba de entrar em vigor e prevê o banimento total, até 2026, das embalagens plásticas de outros produtos. O governo estima que mais de um bilhão de unidades serão eliminadas por ano.

A banana de baixo tem 10 dias e é protegida por um revestimento de celulose. (Crédito: Manifesto Films, Lidl Schweiz)

Pesquisadores dos Laboratórios Federais Suíços de Ciência e Tecnologia de Materiais (Empa) calcularam que o filme plástico que envolve um pepino que sai da Espanha para a Suíça representa 1% da pegada ambiental total do legume. Como o plástico aumenta o tempo de duração do alimento, o benefício total de evitar o desperdício é cinco vezes maior que o impacto ambiental. No entanto, nem sempre a conta é essa. Laranjas, por exemplo, duram bastante naturalmente, mas às vezes aparecem em embalagens plásticas. Mesmo quando o plástico ajuda, o fato de acabar no lixo é um problema.

“É um grande desafio reduzir, tanto quanto possível, o desperdício de alimentos. O plástico pode fazer um bom trabalho nesse sentido, mas estamos preocupados com o que não é reciclado adequadamente”, diz Gustav Nyström, chefe do laboratório de celulose e materiais de madeira da Empa, que está colaborando com o Lidl na nova solução. “Trata-se de materiais extremamente estáveis. Isso faz parte do problema que enfrentamos em relação ao meio ambiente, tanto nos oceanos quanto nos aterros, onde esses plásticos e microplásticos estão se acumulando.”

Para desenvolver o novo revestimento, os pesquisadores começaram com o “bagaço”, aquela massa que sobra quando frutas e vegetais são batidos para virar suco. O material, normalmente, seria desperdiçado. “Desenvolvemos um processo no qual podemos extrair a celulose contida naturalmente nesses vegetais que não podem ser vendidos de outra forma”, diz Nyström. Ao revestir ou pulverizar a celulose em pepinos ou bananas, por exemplo, cria-se uma camada extra de proteção, para que a umidade não escape do produto.

O mesmo tipo de abordagem é adotado pela Apeel, uma startup sediada nos EUA que produz revestimentos invisíveis e comestíveis para produtos –– embora Nyström garanta que a tecnologia da Empa é mais simples. Também é provável que seja mais barata, já que é usado um material de baixíssimo custo e só uma pequena quantidade é necessária em cada fruta ou vegetal. Como a matéria-prima são resíduos de alimentos, é também uma solução circular.

Em testes de laboratório, os produtos tratados com o novo revestimento duraram significativamente mais. As bananas, por exemplo, aguentaram  uma semana a mais do que teriam durado sem ele. Em frutas ou vegetais cuja casca pode ser consumida, o revestimento pode ser lavado e sua ingestão é segura.

Os pesquisadores não compararam a solução diretamente com embalagens plásticas, embora admitam que elas protegem melhor as frutas. “O plástico cria uma barreira quase perfeita, difícil de replicar com um material natural, biodegradável ou comestível como o que temos”, diz Nyström. “Portanto, não é realmente uma comparação justa.” Ainda assim, é uma maneira de ajudar a reduzir o desperdício de alimentos e, ao mesmo tempo, diminuir o lixo plástico. De fato, à medida que novas leis sobre plásticos de uso único entrem em vigor, os varejistas poderão não ter escolha.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais