Meta planeja usar a mesma IA para recomendar vídeos em todas as suas redes

Cada serviço da Meta possui seu próprio algoritmo de recomendação, mas agora a empresa pretende unificá-los

Crédito: Muhammad Asyfaul/ Unsplash

Chris Stokel-Walker 4 minutos de leitura

Tom Alison, diretor do Facebook, anunciou recentemente em uma conferência que a empresa planeja utilizar IA para reformular seu sistema de recomendação de vídeos em todas as suas plataformas. A notícia não chegou a gerar muito alarde.

Cada serviço da Meta possui seu próprio algoritmo de recomendação, porém, agora ela pretende unificá-los. “Se fizermos isso direito, não apenas as recomendações serão mais envolventes e relevantes, mas também acreditamos que a resposta a elas pode melhorar”, disse Alison na época.

Mas nessa declaração está escondida uma verdade subliminar e potencialmente inquietante: as plataformas da Meta – onde, apesar dos esforços da empresa, a desinformação se espalha rapidamente e a moderação de conteúdo frequentemente falha – podem agora se tornar ainda mais difíceis de monitorar, graças aos avanços na IA.

“Em vez de ser apenas uma forma de manter as pessoas engajadas, as IAs de recomendação agora são vistas como parte do produto oferecido pelas plataformas aos usuários finais”, explica Liam McLoughlin, professor da Universidade de Liverpool especializado em moderação de conteúdo e mídia social.

Para ser claro, a Meta já usa inteligência artificial na recomendação de vídeos. A mudança seria na eficiência. Antes, a empresa tinha algoritmos de recomendação diferentes para cada produto. Agora, ela espera utilizar os mesmos em muitos de seus aplicativos.

“Em termos de tecnologia e de construção e engenharia, faz sentido que, uma vez totalmente testados, eles sejam espalhados por todas as suas plataformas e recursos”, observa o analista de mídia social Matt Navarra.

Os testes realizados no ano passado no Reels mostraram melhorias significativas na retenção de usuários, segundo Alison. A média de tempo gasto assistindo aos vídeos teve um aumento de 8% a 10% – dados que mostram que o novo modelo funcionou.

No entanto, McLoughlin ressalta que a Meta terá que ser cautelosa. “Os usuários se comportam de maneira diferente em cada plataforma e podem preferir sistemas de recomendação separados”, diz ele.

Uma preocupação como esta – a ideia de que sua persona do Instagram pode ser bastante diferente da do Facebook – foi levantada quando a empresa anunciou sua rede social semelhante ao Twitter, a Threads.

INSTAGRAM x TIKTOK

“Estão tentando copiar o TikTok”, sugere Carolina Are, pesquisadora de inovação na Universidade de Northumbria, no Reino Unido, que estuda moderação de conteúdo online e censura. Ela se preocupa com a superespecificação – às vezes chamada de sobreajuste, na terminologia de IA – nos sistemas de recomendação em toda a família de aplicativos da Meta.

“Eles estão se baseando nos resultados do Reels para definir toda estratégia de recomendação dos outros serviços”, afirma a pesquisadora.

Essa abordagem não faz sentido para Are porque, como ela aponta, isso poderia significar que assistir a uma apresentação ao vivo de um cantor por um longo período poderia resultar em um usuário receber recomendações de conteúdos relacionados a esse artista em todos os aplicativos da Meta.

Crédito: rawpixel.com/ Brooke Cagle/ Unsplash

Há outra questão interessante nas mudanças no algoritmo de IA – e uma que colocará à prova a declaração de Mark Zuckerberg de que sua empresa “eventualmente vai querer tender para o código aberto” quando se trata de desenvolver algoritmos de inteligência artificial. Mas, como observa Are, “eles certamente não fariam isso, já que lucram bastante com segredos comerciais. Não vejo isso acontecendo.”  

Parte do motivo pelo qual levou mais de três anos para que o Reels ajudasse o Instagram a superar o TikTok em número de

A Meta está se baseando nos resultados do Reels para definir toda estratégia de recomendação dos outros serviços.

downloads é porque o algoritmo da rede rival ajudava a manter os usuários engajados, enquanto o serviço da Meta oferecia uma experiência menos satisfatória. Esse algoritmo é também o motivo pelo qual as pessoas passam 50% mais tempo no TikTok que no Instagram.

Se a Meta realmente conseguiu encontrar o segredo do sucesso para manter os usuários no Reels, abri-lo para os concorrentes seria um erro – sem mencionar o risco de criadores começarem a burlar o sistema se foram capazes de decifrar o que torna o conteúdo mais propenso a se tornar viral no aplicativo.

Mas também existem algumas armadilhas que vêm com os algoritmos de IA – incluindo mantê-los sob controle, caso falhem. “O ideal é que pessoas de origens diversas tenham voz nas recomendações de conteúdo e reduzam o viés atual representado pela visão de mundo masculina, heterossexual, cis e ocidental da Meta”, diz Are. “Mas como policiar isso?”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais