Como a publicidade afastou uma geração de mulheres da indústria de tecnologia
Nos últimos 18 meses, a participação das mulheres no mercado de trabalho, tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá, vem sofrendo consideravelmente com a pandemia. Muitas foram demitidas ou tiveram que reduzir a jornadas de trabalho devido a outras responsabilidades e acúmulo de funções domésticas. Como CIO de uma das maiores empresas de software do Canadá, sei muito bem como a diversidade nas equipes e organizações nos tornam melhores, tanto como indivíduos quanto como empresa.
Esse impacto foi sentido em todos os setores, mas, sobretudo, no de tecnologia, onde as mulheres são historicamente subrepresentadas. Em 2020, elas representavam apenas 28,8% dos cargos técnicos nos Estados Unidos; no ano anterior, somente 20% no Canadá.
Nem sempre foi assim. Nas décadas de 1980 e de 1990, houve aumento no número de mulheres em áreas técnicas: entre 1983 e 1984, elas ocupavam 37% das vagas de graduação em ciência da computação nos EUA e, em 1992, representavam 35% do graduandos nos cursos superiores de matemática, computação e ciências da informação no Canadá. Mas, à medida que nos aproximávamos dos anos 2000, a quantidade de mulheres nessas áreas, bem como em cargos técnicos, começou a diminuir.
A que se deve esse declínio?
O MITO DA RELAÇÃO ENTRE GÊNERO E TECNOLOGIA
Pesquisas apontam um momento específico no qual as mulheres começaram a se desinteressar ou se a sentirem menos confortáveis com computadores e tecnologia. Nas décadas de 1970 e 1980, os PCs começaram a se popularizar na América do Norte. Para incentivar os consumidores a comprá-los, as empresas e varejistas os anunciavam como uma ferramenta educacional para crianças (especificamente meninos), ou como uma plataforma de entretenimento ou de jogos predominantemente para homens.
PRECISAMOS DE PROGRAMAS NAS ESCOLAS PARA ESTIMULAR MENINAS A SE INTERESSAREM POR TECNOLOGIA E COMPUTAÇÃO.
Foi nessa época que o mito da relação entre gênero e tecnologia – a suposição de que os homens são mais aptos e mais interessados por produtos tecnológicos – se tornou amplamente aceito. Uma década depois, vemos uma tendência de queda no número de mulheres em áreas como computação e tecnologia, que continua ao longo da década de 1990.
Como combater esse mito publicitário e contratar mais mulheres para cargos técnicos? É tudo uma questão de incentivo e retenção.
INCENTIVO
Quando há menos mulheres nos cursos de graduação e pós-graduação em computação, é lógico que teremos menos delas entrando no mercado de trabalho neste setor. Embora pesquisas mostrem que hoje as adolescentes usam computadores e outros dispositivos de tecnologia na mesma proporção que meninos, eles ainda são muito mais propensos a assumir uma carreira relacionada à tecnologia. Então, o que fazer?
Precisamos de programas nas escolas, sobretudo no ensino fundamental e médio, para estimular meninas a se interessarem por tecnologia e computação. Temos que encontrar novas maneiras de tornar a tecnologia divertida, através de jogos ou incentivando a programação, e ajudar professores a se sentirem mais confortáveis com o assunto, ou mesmo disponibilizar a eles ajuda de especialistas. Devemos garantir que os adolescentes que entram no ensino médio tenham aulas de computação e programação, além de acesso à tecnologia nas escolas.
O ensino superior também é uma ótima oportunidade para isso. A maioria das pessoas que vão ingressar nas universidades ainda está decidindo qual curso escolher e precisamos mostrar que a computação contribui para as mais diversas carreiras. Isso requer mais orientação vocacional feminina e mais exemplos de mulheres na área para mostrar que programação e computação são áreas nas quais as jovens podem ingressar na graduação.
RETENÇÃO
Mesmo que as mulheres passem a ocupar mais cargos técnicos ou em setores de tecnologia, ainda há um problema de retenção que precisa ser resolvido. As estatísticas mostram que um número significativo de mulheres que entram em cargos de computação muda de carreira. Ou seja, não é que elas estejam abandonando o mercado de trabalho, e sim, que estão deixando funções e empresas focadas em tecnologia.
NÃO É QUE ELAS ESTEJAM ABANDONANDO O MERCADO DE TRABALHO, E SIM, QUE ESTÃO DEIXANDO FUNÇÕES E EMPRESAS FOCADAS EM TECNOLOGIA.
Isso significa que ainda há muito a ser feito para reter esses talentos. Na OpenText, temos o compromisso de promover e apoiar as mulheres no trabalho. Por exemplo, temos um grupo ativo chamado “Women in Technology Affinity” (Afinidade de Mulheres na Tecnologia) que oferece um fórum para mulheres e aliados se conectarem, aprenderem e contribuírem para o crescimento e o desenvolvimento na carreira.
Também reconhecemos a importância de garantir que os gerentes desenvolvam as habilidades necessárias para dar suporte e ajudar no crescimento profissional dos funcionários, e oferecemos treinamentos para ajudar a promover a diversidade e a inclusão na empresa.
Na OpenText World de 2021, nossa conferência anual de tecnologia, o CEO e CTO, Mark Barrenechea, anunciou a Iniciativa OpenText ZERO. Além do compromisso de zerar a emissão líquida de gases de efeito estufa até 2040, a iniciativa inclui a promoção da diversidade, a equidade e a inclusão para que atinjamos um quadro de funcionários diverso até 2030.
Por meio de novas estratégias para tornar as funções técnicas atraentes – com treinamento, orientação e oportunidades de crescimento – e de reavaliar preconceitos individuais e micro desigualdades na indústria, acabaremos com o mito da relação entre gênero e tecnologia e tornaremos o setor mais diverso e inclusivo para mulheres.