O mercado da influência brasileiro precisa de uma reforma

Crédito: Fast Company Brasil

Nayara Ruiz 4 minutos de leitura

Na economia dos criadores, os criadores são marcas. Os criadores são empresas. Os criadores são donos de um negócio. Sim, isso tudo é verdade. E precisa ser cada vez mais real.

Mas antes disso, não podemos esquecer: os criadores são pessoas. Pessoas que desencadearam o nascimento de uma indústria bilionária que deve ser responsável por ferramentar, educar e profissionalizar essas pessoas. Esse é o papel da creators economy.

(Um aviso: ao longo desse artigo, apenas usaremos o termo influenciadores acompanhado por aspas)

Essas “marcas” são construídas com base na credibilidade de pessoas que decidiram expor suas verdades, suas realidades, suas crenças, suas vidas. Este é o capital sobre o qual essas “marcas” prosperam. É a capacidade de construir e criar algo que inspira as pessoas a se unirem em torno disso.

E, por mais que muitos agenciadores e especialistas defendam essa autenticidade, na prática do dia a dia, do "show me the money", não é bem assim que funciona. Ela está constantemente sendo colocada em xeque.

Lembro de, em 2013, participar de uma discussão com uma agência de publicidade e dizer a seguinte frase: "criadores não são banners, não são um veículo de mídia em que nós, empresas e agências, decidimos um copy e distribuímos por meio de e-mails genéricos esperando que todos publiquem no formato e horário que decidirmos".

De lá para cá muita coisa aconteceu, é verdade. Mas em benefício de quem? E capitaneado por quem?

Precisamos urgentemente fazer uma reforma no modelo de negócio entre marcas, anunciantes, agências de publicidade e agências de “influenciadores”

A profissionalização do marketing de influência possibilitou o surgimento das "agências de influenciadores", as agências de publicidade criaram novos departamentos e as marcas assinaram contratos milionários com "influencers" dos mais variados nichos.

Enlouquecemos no início dos anos 2010, quando vimos um verdadeiro bombardeio dos então "influenciadores" protagonizando campanhas publicitárias televisivas, digitais e até impressas. Mas a verdade é que esse modelo de usar suas imagens para vender produtos (e só) não é e nem nunca foi sustentável. 

Os criadores se esgotaram. Se perderam de suas verdades em meio a briefings, refações e frustrações por não atingirem os resultados esperados (pelas marcas) e, pior, pela falta de novos trabalhos.

Os seguidores e consumidores se cansaram dessa dinâmica, já prontos para deslizar o dedo na tela do celular assim que uma "publi" se apresentasse, como se estivessem clicando naquele “x” que aparece nos pop-ups das telas de notebooks e computadores de mesa. 

Crédito: George Milton/ Pexels

As marcas não deixam de investir. De acordo com a pesquisa ROI & Influência de 2023, da Youpix, dobrou o número de marcas dispostas a investir mais de R$ 1,5 milhão em marketing de influência. Mas são poucos aqueles que criaram marcas em torno do seu campo de atuação.

As criadoras de maquiagem e moda foram as precursoras por aqui. Mas ainda não vemos criadores brasileiros criando seus próprios fundos e acelerando iniciativas, se unindo a soluções tecnológicas que impulsionam a indústria da qual fazem parte.

INVESTIMENTO EM ALTA

Se a creators economy existe e já alcança um movimento financeiro na casa de bilhões, é porque realmente essa indústria tem sua potência. Precisamos urgentemente fazer uma reforma no modelo de negócio entre marcas, anunciantes, agências de publicidade e agências de “influenciadores” (que não param de multiplicar seus "castings de talentos"). Não devem ser elas as protagonistas, mas os criadores.

"Só fica de pé quem é real". Mas como ser real se não são eles quem decidem qual rumo devem tomar? E nem são instruídos a isso?

De um lado, o monopólio das plataformas e suas constantes novidades algorítmicas. De outro, agências e agenciadores que perpetuam os contratos tradicionais de publicidade e se perdem na quantidade de agenciados em vez de investir em ferramentas, parcerias e até criação de novos ambientes de distribuição, venda e construção de comunidade.

Onde estão os que ensinam as regras do jogo, provocam e conduzem para o desenvolvimento de novos negócios?

os criadores são pessoas que desencadearam o nascimento de uma indústria bilionária e que deve ser responsável por ferramentar, educar e profissionalizar essas pessoas.

Globalmente, nos últimos anos, tem surgido uma nova safra de startups para atender às diversas necessidades dessas "estrelas digitais". Empresas que estão reimaginando a forma como os “influenciadores” se conectam aos fãs, produzem conteúdo e administram seus negócios.

Elas chamaram a atenção de investidores de capital de risco, que investiram centenas de milhões de dólares em startups de criação de conteúdo no ano passado, segundo dados da Crunchbase. 

A Era da Publi está chegando ao fim. Se os criadores vivem de suas conexões, precisam se lembrar que nossas relações nos compõem, mas também podem nos adoecer.

Quando isso acontece, você pode e é seu direito refundá-las, resgatar seu propósito inicial e cercar-se do que promove seu bem estar e seu bem-viver. 

Todos nós somos a invenção de alguém. São as relações que inventam o outro.

Chegou a hora de os responsáveis pela creators economy se darem o direito de se inventar.


SOBRE A AUTORA

Nayara Ruiz é comunicadora social especialista em marketing digital e sócia da nAÇÃO, que atua em projetos de impacto social. saiba mais