O que são gêmeos digitais e por que eles entraram na mira das empresas

Empresas como BMW estão desenvolvendo gêmeos digitais, e, um dia, as pessoas poderão ter seu próprio. É hora de entender do que se trata

Créditos: Milad Fakurian/ Diego PH/ Unsplash

Michael Grothaus 4 minutos de leitura

Se você trabalha nos setores de manufatura, logística, aviação ou planejamento urbano, é provável que já tenha ouvido o termo “gêmeo digital”. Se atua na área da saúde, previsão de mudanças climáticas ou em diversas outras indústrias, provavelmente começará a ouvir falar dele cada vez mais ao longo da década.

O mercado de gêmeos digitais, avaliado em apenas US$ 11,6 bilhões em 2022, deve se tornar uma indústria de meio trilhão de dólares até 2032. Empresas como Amazon Web Services, GE, IBM, Microsoft, SAP e Siemens já estão liderando o caminho.

O QUE É UM GÊMEO DIGITAL?

De forma simplificada, é um modelo virtual de algo que existe no mundo físico, como um avião ou uma fábrica de automóveis. Mas, em vez de apenas uma representação 3D bonita e detalhada, é possível realizar simulações de processos ou eventos com ele, oferecendo ao usuário uma prévia de como esses cenários poderiam afetar o “gêmeo do mundo real” caso realmente ocorressem.

Isso é possível, em grande parte, graças à Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês): sensores, câmeras, scanners e outros dispositivos inteligentes conectados à internet.

é quase certo que a criação de gêmeos digitais se tornará mais acessível para empresas, pesquisadores e governos de todos os tamanhos.

Esses aparelhos podem detectar e transmitir grandes quantidades de dados sobre objetos e áreas – como fluxos de tráfego, temperatura ou mesmo vibrações em máquinas – para o gêmeo digital, permitindo que um usuário remoto veja como o objeto físico está se comportando em tempo real, mesmo que esteja a milhares de quilômetros de distância.

Por exemplo, um gêmeo digital de um avião 777 poderia mostrar aos engenheiros da Boeing como a aeronave se comportaria se fosse forçada a voar perto de um furacão em uma situação de emergência. Em outras palavras, ele permite saber como um evento afetará o objeto físico sem precisar simulá-lo na vida real, o que pode ser financeira ou logisticamente inviável.

COMO SÃO USADOS ATUALMENTE?

O uso mais comum é na manufatura. A BMW e a Nvidia recentemente se uniram para construir um gêmeo digital de uma das fábricas da montadora. Com ele, é possível ver como diferentes cenários afetariam a fábrica como um todo.

Mas os gêmeos digitais não se limitam apenas à otimização de fábricas. Também estão sendo usados no design aeroespacial, permitindo que os fabricantes de aviões construam aeronaves mais eficientes e seguras, graças à capacidade de simular desde decolagens até padrões climáticos.

Crédito: Freepik/ Envato Elements

Além disso, estão sendo aplicados no planejamento urbano, oferecendo aos designers a oportunidade de avaliar uma variedade de cenários em uma réplica digital completa do local. Assim, os urbanistas podem testar desde novas configurações de fluxo nas ruas (para ver como o tráfego é afetado) até edifícios mais altos (para avaliar como isso pode afetar a iluminação natural no local).

À medida que os processadores gráficos e aplicativos de IA capazes de simular realisticamente condições do mundo real se tornam cada vez mais poderosos e comuns, é quase certo que a criação de gêmeos digitais se tornará mais acessível para empresas, pesquisadores e governos de todos os tamanhos.

Até o final da década, é provável que as pessoas possam criar um gêmeo digital de suas casas para reorganizar virtualmente os móveis ou redecorar as paredes antes de realizar qualquer trabalho físico no mundo real.

PESSOAS PODERÃO TER SEU PRÓPRIO GÊMEO DIGITAL?

É muito possível que isso aconteça, especialmente com os avanços da tecnologia de saúde, dos biossensores e da capacidade preditiva da IA. Não é difícil imaginar um futuro no qual todos teremos nosso próprio gêmeo digital, que espelha nossa condição física e genética, bem como nosso estilo de vida. Um modelo de nós mesmo com o qual podemos testar situações hipotéticas e ver quais efeitos podem ter.

A tecnologia está sendo usada no design aeroespacial, permitindo que fabricantes construam aeronaves mais eficientes e seguras.

Por exemplo, poderíamos usá-lo para ver como nosso corpo reagiria se aderíssemos a uma dieta vegana ao longo dos próximos 20 anos. Ou para descobrir o efeito que o estresse físico terá conforme envelhecemos – como mais 10 anos sentados em nossa estação de trabalho afetariam nossa coluna, por exemplo.

Poderíamos inclusive usá-lo para avaliar a melhor opção de tratamento para uma determinada doença, revelando como nosso corpo reagiria se escolhêssemos um plano de tratamento em vez de outro, como medicamentos versus cirurgia.

Tudo isso parece distante, mas a criação de gêmeos digitais de órgãos e corpos inteiros já está surgindo na indústria da saúde. É apenas uma questão de tempo até que a tecnologia também possa ser aplicada a cada indivíduo.


SOBRE O AUTOR

Michael Grothaus é escritor, jornalista, ex-roteirista e autor do romance "Epiphany Jones". saiba mais