“Faça o que você ama” não é o melhor conselho para escolher sua carreira

Por que esse conselho tão comum pode diminuir suas oportunidades

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Stephanie Vozza 3 minutos de leitura

Seja nas conversas com a família ou no discurso dos oradores das cerimônias de formatura, os universitários sempre ouvem o seguinte conselho: "dedique sua carreira à sua paixão". Tem até aquela frase clássica "trabalhe com o que ama e você nunca mais vai precisar trabalhar na vida".

Embora isso seja lindo na teoria, John W. Mitchell, autor de Fire Your Hiring Habits: Building an Environment That Attracts Top Talent in Today's Workforce ("Demita suas regras de contratação: construindo um ambiente que atraia os melhores talentos da força de trabalho atual", em tradução livre) , conclui que esse conselho é uma "besteira".

"A maioria das pessoas tem mais de uma paixão", ressalta. "Saber qual delas seguir pode ser difícil. Ao mesmo tempo, muitos recém-formados talvez nem consigam responder à pergunta 'qual é a sua paixão?'. Muitos estão levando de seis a oito anos para se formar justamente porque não sabem o que querem fazer. Se você não sabe o que quer fazer, como pode saber qual é a sua paixão?"

Se essa paixão se tornar a única forma de ganhar dinheiro, pode se tornar uma obrigação chata e se parecer mais com trabalho do que com um momento de prazer.

Além de não ser específico o suficiente para ser útil, esse conselho pode levar a pessoa ao fracasso. Paixão não é sinônimo de competência. O resultado disso é que a paixão por algo pode acabar impondo limites às oportunidades de carreira.

"Digamos que eu seja apaixonado por ginástica", explica Mitchell. "Bom, tenho 1,80m. Fazer ginástica provavelmente não é uma boa ideia, mesmo que eu seja apaixonado por isso."

Fazer de sua paixão seu trabalho também pode afetar a forma como você se sente em relação a ela. Muitas vezes, as paixões nos estimulam porque são uma pausa do trabalho diário. Por exemplo, você pode gostar de pintar ou de mexer com carros.

"Se, de repente, essa paixão se tornar a única forma de ganhar dinheiro, ela pode se tornar uma obrigação chata e se parecer mais com um trabalho do que com um momento de prazer", observa Mitchell.

Seguir sua paixão também o coloca em risco de esgotamento e burnout. "Quando você está em um emprego pelo qual é apaixonado, pode acabar sendo explorado. Pode tender a trabalhar 20 horas por dia. O empregador vai dizer: 'opa, isso é ótimo. Estou pagando caro e eles estão trabalhando loucamente'".

Pode ser difícil reduzir o ritmo de trabalho depois de estabelecer esse precedente, e você pode se sentir desanimado e pensar em desistir.

FOQUE NAS HABILIDADES, NÃO NAS PAIXÕES 

Em vez de se guiar pela sua paixão, Mitchell recomenda seguir suas habilidades. É mais provável que você seja bem-sucedido na carreira quando tiver as competências certas. Se não tiver certeza sobre suas habilidades, Mitchell sugere analisar o seu histórico.

"Se você tinha que passar a noite toda tentando resolver problemas de matemática, provavelmente não é muito bom nessa área. Mas, se havia uma aula em que conseguia fazer a lição de casa sem muito estresse, provavelmente essa é uma área em que você se destaca."

Você também pode identificar sua competência por meio de tentativa e erro. "Não estamos na década de 1940. Não é preciso escolher uma carreira na qual ficará para o resto da vida. Experimente algo. Se não gostar, tente outra coisa."

Paixão não é sinônimo de competência. O resultado é que a paixão por algo pode impor limites às oportunidades de carreira.

Depois de conhecer melhor suas habilidades, dedique tempo e esforço para aperfeiçoar e expandir seu ofício. Vá em busca da excelência. "Se você é bom em matemática, pode buscar se aprimorar, por exemplo, descobrindo os modelos matemáticos de IA", sugere Mitchell. "Procure maneiras de melhorar."

Em seguida, procure oportunidades para aplicar essa excelência. "Quando você faz algo em que é competente e que é valorizado por outra pessoa, ela pagará quantias obscenas de dinheiro por essa excelência. O fato de as pessoas valorizarem você é uma realização pessoal, e isso também paga as contas."

Seguir sua habilidade em vez de sua paixão também alivia a pressão sobre a carreira. "Se alguém disser: 'siga sua paixão' e você não tiver uma paixão, pode ficar sentado e preocupado por meses. Encontre algo em que seja bom. Você não vai precisar se preocupar tanto com uma questão abstrata e aumentará suas chances de sucesso."


SOBRE A AUTORA

Stephanie Vozza escreve sobre produtividade e carreira na Fast Company. saiba mais