Flexibilidade, segurança e autonomia são bons para a saúde mental dos trabalhadores

O impacto do estresse relacionado ao trabalho extrapola o ambiente de trabalho, afetando famílias, comunidades e sistemas de saúde

Crédito: master1305/ iStock

Monica Wang 4 minutos de leitura

Quando os funcionários não têm controle sobre seus horários de trabalho, não é apenas o ânimo deles que fica prejudicado. A saúde mental também é afetada. Foi isso que eu e meus colegas descobrimos  em um estudo publicado recentemente na revista médica "JAMA Network Open".

Como especialista em saúde pública, sei que a forma como os empregos são projetados pode afetar o bem-estar das pessoas. Pesquisas demonstraram que a flexibilidade, a segurança e a autonomia no ambiente de trabalho são fortes determinantes da saúde.

Para entender o quanto essas questões são determinantes, analisamos a Pesquisa Nacional de Saúde dos EUA (National Health Interview Survey) de 2021, uma importante iniciativa de coleta de dados realizada pelo Centro Nacional de Estatísticas de Saúde (CDC, na sigla em inglês).

Foram analisadas as respostas de 18.144 adultos que trabalham, para investigar como a flexibilidade e a segurança no trabalho podem estar ligadas à saúde mental.

Os entrevistados foram perguntados sobre a facilidade com que podiam alterar seus horários para cumprir compromissos

O trabalhador médio em tempo integral dedica um terço das horas em que está acordado ao trabalho.

importantes para eles ou para a família, se o horário de trabalho mudava regularmente e com qual antecedência eles geralmente ficavam sabendo de sua escala. Perguntou-se também sobre a percepção que eles tinham do risco de perder o emprego nos próximos 12 meses.

As respostas mostraram que os trabalhadores com acordos mais flexíveis tinham menos probabilidade de relatar sentimentos de depressão, desesperança e ansiedade.

Da mesma foram, aqueles que tinham maior segurança no emprego apresentavam menor risco de enfrentar problemas de saúde mental. Também descobrimos que maior segurança no emprego estava associada a menos casos de falta ao trabalho no último ano.

POR QUE ISSO É TÃO IMPORTANTE

O trabalhador médio em tempo integral dedica um terço das horas em que está acordado ao trabalho. Diante desse fato, compreender como o modelo de trabalho afeta a saúde mental é fundamental para o desenvolvimento de políticas que promovam o bem-estar.

Já ficou óbvio o motivo pelo qual os empregadores devem ficar preocupados: quando os funcionários não estão se sentindo bem mentalmente, são menos produtivos e têm maior probabilidade de faltar. Sua criatividade, colaboração e capacidade de atender às demandas do trabalho também sofrem, prejudicando toda a equipe.

O impacto do estresse relacionado ao trabalho vai além ambiente profissional, afetando famílias, comunidades e sistemas de saúde. As pessoas que enfrentam problemas de saúde mental relacionados ao trabalho geralmente precisam de várias formas de apoio, como acesso a aconselhamento, medicamentos e serviços sociais.

Créditos: Martin Adams/ Unsplash/ pngegg

Não atender a essas necessidades de forma abrangente pode causar sérias consequências de longo prazo, incluindo a redução da qualidade de vida e o aumento dos custos de saúde.

É importante observar que a pandemia de Covid-19 agravou as disparidades de saúde mental e que aqueles em cargos com salários mais baixos, os trabalhadores da linha de frente e as pessoas em comunidades marginalizadas continuam enfrentando desafios ainda maiores.

Nesse contexto, é extremamente importante entender exatamente como o modelo de trabalho e de emprego está afetando a saúde mental das pessoas.

O QUE ESTÁ POR VIR

Minha equipe de pesquisa planeja analisar como a raça e o gênero afetam os vínculos entre flexibilidade no trabalho, segurança no trabalho e saúde mental.

Pesquisas anteriores sugerem que as mulheres e as pessoas negras sofrem com fatores de estresse específicos que prejudicam o bem-estar mental. Por exemplo, as mulheres continuam enfrentando barreiras para progredir na carreira, salários desiguais e maior carga de trabalho não remunerado.

é importante entender exatamente como o modelo de trabalho e de emprego está afetando a saúde mental das pessoas.

Da mesma forma, funcionários negros geralmente sofrem discriminação, microagressões e oportunidades limitadas de crescimento profissional, o que pode prejudicar a saúde mental. A compreensão das diferenças raciais e de gênero ajudará os pesquisadores e as empresas a fazer intervenções direcionadas e recomendações de políticas.

Os problemas de saúde mental estão longe de ser raros. Ao criar espaços que priorizem o bem-estar dos funcionários – por meio de acordos de trabalho flexíveis, políticas de apoio e acesso a recursos de saúde mental –, as empresas estarão ajudando a construir uma sociedade mais saudável.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE A AUTORA

Monica Wang é professora associada de saúde pública na Universidade de Boston. saiba mais