O benefício indispensável que os líderes precisam conceder a equipes esgotadas

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Muitos anos atrás, um pequeno grupo de empresas de tecnologia e de startups introduziu um fenômeno que logo se espalharia como um incêndio: folgas remuneradas ilimitadas, um modelo conhecido nos EUA pela sigla PTO (paid time off). Isso começou aos poucos, mas logo se tornou uma forma comum de as empresas atraírem e reterem talentos e de recompensarem funcionários com folgas merecidas. Na verdade, uma pesquisa de tendências de benefícios aos funcionários feita pela Metlife em 2019 descobriu que o tempo remunerado para tirar férias era o principal benefício que interessava aos funcionários pesquisados.

Agora, depois de um ano difícil que afetou profundamente tantas pessoas, as empresas estão reconhecendo a importância de outra tendência: o investimento na saúde mental dos funcionários. Na verdade, recentemente encomendamos um amplo estudo com mais de 1.700 líderes de negócios, líderes de RH, gerentes e funcionários da Forrester Consulting. Descobrimos que 64% dos funcionários, gerentes ou não gerentes, preferem estar em uma empresa com cultura de flexibilidade e apoio à saúde mental a ganhar um salário mais alto em outra empresa onde isso não aconteça. E eles estão dispostos, inclusive, a mudar de emprego até se sentirem amparados nesse quesito. Para alguns, a cultura de apoio e flexibilidade significa fornecer terapia e treinamento para a equipe ou investir em planos de assinatura de aplicativos de meditação. Mas muitas empresas também estão começando a oferecer folgas específicas para ajudar os funcionários a descontrair e para prevenir o esgotamento.

Os empregadores precisam priorizar a saúde mental sem ressalvas porque, além de tudo, ela é boa para os negócios. Uma maneira fácil de fazer isso é oferecendo dias de folga dedicados à saúde mental. Mas cuidado para não cometer um erro bastante comum: achar que folga para a saúde mental é a mesma coisa que folgas remuneradas comuns ou férias. Se você considera que tudo dá no mesmo, está transmitindo uma mensagem equivocada. Folgas generosas são incrivelmente populares e vale a pena incluí-las no pacote de benefícios da sua empresa, mas não elas não substituem o tempo dedicado à saúde mental.

Devemos não apenas encorajar os funcionários a pedir folga remunerada para relaxar com a família ou para sair de férias, mas devemos também reconhecer que os funcionários podem precisar de um tempo especificamente para evitar o esgotamento ou para se cuidar da mente. Como líderes, é fundamental garantir dias extras para a manutenção da saúde mental, dando o tom para uma cultura de trabalho mais equilibrada e contribuindo para criar um padrão que priorize a saúde e o bem-estar.

PARA QUE REALMENTE SERVEM AS FÉRIAS?

O tempo livre remunerado é indiscutivelmente um benefício fundamental, uma recompensa pelo trabalho árduo e um incentivo para os funcionários promoverem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Embora nos Estados Unidos esse não seja um direito regulamentado pelo governo federal, muitos empregadores corporativos reconhecem que não oferecer folgas remuneradas é um grande impedimento para os esforços de contratação e para a retenção do quadro de funcionários. Quer seja usado para tirar férias, para passar tempo com a família ou simplesmente para descansar, o sistema PTO se tornou, com razão, um padrão de trabalho estabelecido nos EUA.

No entanto, se os dias de saúde mental forem incorporados às folgas comuns ou às férias, o verdadeiro significado do tempo livre será perdido. Esse tempo, que deveria ser aproveitado pelos funcionários da maneira que acharem melhor, será subitamente desviado para cuidar de um componente crítico da sua saúde. Tanto quanto os cuidados primários, a saúde mental é uma peça central do bem-estar geral, e exige um envolvimento proativo durante todo o ano. Nunca encorajaríamos os funcionários a usar as suas férias para ir a médicos – por que com a saúde mental seria diferente? Além disso, embora as férias sejam frequentemente planejadas e comunicadas com antecedência, é impossível “agendar” um problema mental. Já os dias de folga reservados e garantidos para a saúde mental podem e devem ser aproveitados quando houver essa necessidade, esteja o funcionário se sentindo sobrecarregado ou enfrentando graves problemas de bem-estar.

QUEBRANDO O ESTIGMA NO TRABALHO

Na verdade, folgas para cuidar da saúde mental sempre existiram, mas as pessoas usavam pretextos como estar “doente” ou ter uma “emergência familiar”. De acordo com a Deloitte, 95% dos funcionários que se afastaram por estresse justificaram com algum outro sintoma, como dor de estômago ou dor de cabeça. A diferença é que agora algumas empresas estão incentivando os funcionários a se expressarem abertamente sobre essas necessidades. Talvez o maior benefício da tendência a oferecer dias de folga para a saúde mental seja a conversa que isso gera em torno do tema “saúde mental no trabalho”. Recentemente, por exemplo, o Japão anunciou uma proposta de semana de trabalho de apenas 4 dias, como parte de suas diretrizes de política econômica anual. Essa é uma contramedida para a queda nas taxas de natalidade e para a crise de saúde mental atribuída ao desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Embora ninguém pestaneje quando um funcionário diz que está tirando férias, a triste realidade do local de trabalho contemporâneo é que o estigma da saúde mental persiste – e está atrapalhando o progresso. Ainda é muito incomum receber um e-mail de um colega assumindo sua vulnerabilidade e dizendo que está tirando um dia para cuidar da saúde mental. Uma pesquisa do The Hartford com funcionários em todo o mundo mostrou que 72% afirmam que o estigma associado à doença mental impede que muitos trabalhadores dos EUA busquem ajuda. Além disso, nossa pesquisa descobriu que a maioria dos gerentes (63%) e mais da metade (60%) dos funcionários sentiu que os eventos dos últimos 12-15 meses os afetaram, mas, ao mesmo tempo, sentiram que deveriam separá-los totalmente de sua vida profissional. Portanto, embora estejamos na direção certa, ainda não chegamos lá.

Dito isso, se nós, como força de trabalho coletiva, não ficarmos confortáveis ​​falando sobre saúde mental nos locais de trabalho, é improvável que tenhamos um progresso real para aliviar o esgotamento e o estresse nos EUA. Embora a pandemia de COVID-19 tenha levado a uma maior ênfase na saúde mental ao redor do mundo, nossa pesquisa sugere que algumas empresas ainda não fizeram mudanças. Metade dos líderes pesquisados ​​afirmou que os benefícios para a saúde mental dos funcionários não estavam disponíveis no passado e que, portanto, não poderiam ser uma prioridade agora. E assombrosos 80% dos líderes sênior e quase três quartos (73%) dos líderes de RH acham que os funcionários de hoje esperam de seus empregadores “apoio demais” à saúde mental. Misturar e confundir os dias de saúde mental com as férias é empurrar o problema para debaixo do tapete e manter a saúde mental “em segredo”, como sempre aconteceu na América corporativa. Embora seja importante não pressionar os funcionários a se abrir caso eles não queiram, separar essas duas categorias de folga nos ajudará a alcançar as mudanças que trabalhamos tanto para alcançar depois do COVID.

AJUSTANDO O TOM

Depois do ano que tivemos, não é de admirar que nossa cultura esteja enfrentando uma epidemia de saúde mental. Durante a pandemia de COVID-19, cerca de quatro em cada 10 adultos nos EUA relataram sintomas de ansiedade ou transtorno depressivo (para fins de comparação, pouco mais de um em cada 10 adultos relataram esses sintomas de janeiro a junho de 2019.)

Como líderes de negócios, temos a responsabilidade de apoiar nossos funcionários e ajudá-los a prosperar no trabalho e fora dele – não apenas porque essa é a coisa certa a ser feita ou porque isso afeta a produtividade, mas porque temos a oportunidade e a influência para catalisar uma mudança cultural duradoura. A forma como estruturamos e lideramos nossas organizações tem um impacto tangível nos indivíduos e em nosso conceito de trabalho. Se presumirmos que os funcionários simplesmente tirarão férias quando precisarem gerenciar suas necessidades de saúde mental, estamos definindo o tom errado para as futuras gerações de líderes. Vamos criar ambas as opções para os funcionários, para que eles possam usar os dias de férias e de saúde mental para aquilo que foram concebidos.

A primeira etapa é incentivar os funcionários a investirem em sua saúde mental, exigindo benefícios separados para isso. Mas sabemos que apenas oferecer dias de saúde mental são é um paliativo para um problema sistêmico maior. Mudanças em grande escala em nossa cultura de trabalho podem começar com dias de saúde mental além do PTO, mas cabe a nós construir os tipos de negócios dos quais os funcionários não se cansem. Essas mudanças aparentemente pequenas na política do local de trabalho podem e irão criar mudanças profundas se tomarmos a iniciativa.


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