Um truque para ajudar a driblar o burnout: use “atalhos mentais”

Psicólogo explica como dominar a arte da generosidade produtiva

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Amantha Imber 4 minutos de leitura

Adam Grant, psicólogo empresarial e professor da escola de administração Wharton, vinculada à Universidade da Pensilvânia, é conhecido por ser um homem generoso. Ele até escreveu um livro sobre isso, chamado Give and Take (Dar e Receber, em tradução livre), sobre os benefícios de se doar aos outros. 

Mas, devido ao seu prestígio, Grant recebe mais demandas do que é capaz de dar conta. Como, então, uma pessoa que se auto identifica como generosa faz para decidir quando deve dizer sim e quando precisa dizer não?

"Eu costumava tentar responder sim a tudo e a todos", conta Grant. "Mas descobri que isso era impossível à medida em que ficava mais ocupado e minha fama aumentava fora da área acadêmica. Eu simplesmente não tinha horas suficientes no dia para atender a todas as solicitações que chegavam."

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Grant acabou criando um conjunto de técnicas heurísticas – um conjunto de "atalhos mentais" que permitem tomar decisões e resolver problemas com mais eficiência. Suas técnicas refletiam o que ele havia estudado durante a fase de pesquisa do livro Give and Take, quando observou as diferenças entre aqueles que se doavam de maneira bem-sucedida ou não.

Os doadores bem-sucedidos são produtivamente generosos, enquanto os doadores mal-sucedidos são altruístas demais e acabam se prejudicando quando se deparam com aproveitadores. Para ser produtivamente generoso, Grant é cuidadoso com relação a quem ele ajuda.

as pessoas que se doam de modo bem-sucedido resumem a generosidade a dois fatores simples: priorizar quem você ajuda e usar seus pontos fortes.

"Para mim, estabeleci uma hierarquia de pessoas que estou tentando ajudar. A família em primeiro lugar, os alunos em segundo, os colegas em terceiro e todos os outros em quarto. Em algum momento, percebi que os amigos não estavam nessa lista e me senti muito mal por isso. Mas aí percebi que meu objetivo em uma amizade não é ajudar a pessoa, mas sim ser amigo."

Grant também pondera como e quando deve ajudar. "Basicamente, isso se resume a dizer: 'quero ajudar quando posso agregar um valor único e quando isso não diminui minha energia ou minha capacidade de realizar meu próprio trabalho'".

Pensando dessa forma, Grant analisou todas as maneiras diferentes de dizer "sim" às pessoas e tentou descobrir quais delas ele gostava e se sobressaía.

"Se as pessoas estavam pedindo ajuda em áreas em que não sentia que tinha uma contribuição única a fazer, ou se isso estava me cansando, eu sabia que, com o tempo, isso significava que eu teria menos impacto." Ele acabou focando em dois pontos em comum. Um deles era o compartilhamento de conhecimento.

Adam Grant criou um conjunto de técnicas heurísticas que permitem tomar decisões e resolver problemas com mais eficiência.

"Não há quase nada que alegre mais minha caixa de entrada do que alguém entrando em contato e dizendo: 'tenho essa pergunta sobre algo relacionado à psicologia do trabalho. Alguém já estudou esse assunto?'. Eu penso: sim, essa é uma oportunidade de pegar todas as informações teóricas que estou coletando em revistas acadêmicas e compartilhá-las com alguém que possa estar curioso sobre elas ou que possa aplicá-las de alguma forma." 

A outra maneira pela qual Grant acredita ocupar uma posição única para ajudar as pessoas é apresentando conhecidos uns aos outros. "Sinto que, em virtude do tipo de trabalho que faço, consigo interagir com muitos setores e pessoas. É muito divertido conectar duas pessoas que poderiam se ajudar ou criar algo realmente significativo."

"Tentei focar nesse tipo de ajuda e isso significa que, quando alguém entra em contato e não está em um desses grupos, informo que a solicitação não está em minha área de atuação, mas que, se eu puder ser útil compartilhando conhecimento ou fazendo uma indicação, ficaria feliz em fazer isso."

COLOQUE EM AÇÃO

1. Reflita sobre seus valores e pense nos grupos ou tipos de pessoas que você acha mais importante ajudar. Podem ser amigos, familiares, colegas de trabalho, clientes, filhos, seu parceiro, seu animal de estimação ou outro grupo completamente diferente. Classifique seus quatro ou cinco grupos mais importantes para priorizar quem você ajuda.

2. Pense nos tipos de pedidos em que você está em posição privilegiada para atender, combinados com os tipos de demandas que lhe dão mais prazer em atender.

3. Use essa consciência recém-descoberta para formar um sistema heurístico (ou seja, regras de conduta) que o ajude a tomar decisões rápidas e eficazes quanto aos pedidos para os quais você decide dizer sim.

No final das contas, as pessoas que se doam de modo bem-sucedido, como Grant, resumem a generosidade eficaz a dois fatores simples: priorizar quem você ajuda e usar seus pontos fortes. Portanto, seja seletivo em relação a quem você doa seu tempo, aprimore seus talentos únicos e você também conseguirá dominar a arte da generosidade produtiva.

Só não se esqueça de deixar espaço na agenda para os seus amigos e animais de estimação.


SOBRE A AUTORA

Amantha Imber é fundadora da consultoria de mudança de comportamento Inventium. saiba mais