5 perguntas para Sarah Steinberg, head global de políticas públicas do LinkedIn

Crédito: Fast Company Brasil

AJ Hess 5 minutos de leitura

Muitos trabalhadores estão preocupados com a possibilidade de perder o emprego para uma inteligência artificial, e um número cada vez maior de pesquisas sugere que as mulheres têm mais motivos para se preocupar.

Um relatório recente do Fundo Monetário Internacional constatou que, nas economias avançadas, cerca de 60% dos empregos podem ser impactados pela IA. Dessa fatia, os pesquisadores estimam que metade se tornará mais produtiva graças à IA.

Já para a outra metade, "as aplicações de IA podem executar tarefas chave atualmente desempenhadas por humanos, o que poderia diminuir a demanda por trabalho, levando a salários mais baixos e redução de contratações. Nos casos mais extremos, alguns desses empregos podem desaparecer", segundo os autores do estudo.

De acordo com o FMI, os empregos das mulheres são os que correm mais risco. "O resultado pode ser interpretado como significando que as mulheres enfrentam tanto maiores riscos quanto maiores oportunidades", diz o relatório.

A maioria dos executivos diz que algumas habilidades pessoais são mais importantes do que qualquer habilidade de IA.

O LinkedIn também concluiu que as mulheres são mais propensas a serem substituídas pela IA. Uma análise dos dados dos usuários da plataforma em todo o mundo indica que 43% dos homens terão seus empregos afetados pela IA, proporção que sobe para 57% no caso das mulheres.

A Fast Company conversou com a líder global de política pública global do LinkedIn, Sarah Steinberg, sobre como a IA vai impactar o mercado de trabalho para as mulheres e o que pode ser feito para melhorar as perspectivas futuras.

Fast Company – O LinkedIn descobriu que, nos EUA, mais de um terço das mulheres trabalham em ocupações que podem ser afetadas pela IA, em comparação com 25,5% dos homens. Como vocês chegaram a essa estimativa?

Sarah Steinberg – Mapeamos as habilidades associadas a diferentes ocupações em relação às habilidades que a IA generativa pode executar. Em seguida, dividimos em três quadrantes.

Primeiro, há os empregos que são bastante isolados, aqueles em que a IA generativa não tem as habilidades necessárias para fazer o trabalho.

Depois, há os que podem ser potencializados pela IA. Eles exigem habilidades que só os humanos possuem, mas também algumas que podem ser aprimoradas com IA generativa.

E em terceiro lugar temos os empregos que são mais propensos a ter uma maior parcela de habilidades que podem ser executadas pela IA generativa. Mas, como estamos falando de uma tecnologia relativamente nova, isso vai se desenrolar ao longo de vários anos.

Fast Company – Há algo sobre esses empregos desproporcionalmente ocupados por mulheres que os torna mais propensos a serem substituídos pela IA?

Sarah Steinberg – Quando fazemos nossa pesquisa com executivos, a esmagadora maioria diz que algumas habilidades interpessoais são mais importantes do que qualquer habilidade de IA. E, na verdade, as mulheres possuem mais dessas habilidades interpessoais.

Vemos essa lacuna se ampliando nos últimos oito anos, em vez de diminuir. Isso aponta para uma oportunidade.

Se tomarmos o cuidado de aproveitar coisas como contratação baseada nas habilidades do candidato (e não em diplomas ou no emprego que tinham antes) e capacitação das mulheres para trabalhar com IA, este é o lugar onde elas podem levar vantagem.

Porque as mulheres realmente têm mais dessas habilidades unicamente humanas, como comunicação, colaboração, trabalho em equipe e negociação de conflitos – e todas essas coisas que a IA não faz muito bem.

Fast Company – Como se pode aprimorar as habilidades das pessoas para garantir que o futuro do trabalho seja mais equitativo em termos de gênero?

Sarah Steinberg – É importante que fechemos a lacuna de gênero em termos de engenharia de IA. Há uma lacuna enorme em termos de quem está projetando essas ferramentas, produtos e serviços, e isso precisa ser corrigido. Não dá para desenvolver produtos que vão atender às necessidades de toda a população mundial quando apenas homens estão trabalhando nisso.

As mulheres têm mais dessas habilidades unicamente humanas, como comunicação, colaboração, trabalho em equipe e negociação de conflitos.

Não precisamos, necessariamente, que todos desenvolvam habilidades de engenharia de IA. Mas estamos caminhando para um lugar onde todo mundo vai ter que ser “alfabetizado” em IA. As pessoas terão que usar as ferramentas que vão ajudar a fazer seu trabalho melhor e de forma mais eficiente. Focar nessas habilidades de alfabetização em IA é particularmente importante para as mulheres.

Quando se trata de habilidades interpessoais, precisamos ser muito intencionais em desenvolvê-las. É mais fácil treinar as pessoas em habilidades técnicas, porque é algo mais concreto, que pode ser avaliado com bastante facilidade. Mas as habilidades interpessoais são muito importantes, e são mais difíceis de cultivar e de avaliar.

Fast Company – Há alguma organização que você acha que está fazendo um bom trabalho em termos de preparação para mulheres, ou para trabalhadores em geral, para a revolução da IA?

Sarah Steinberg – Não. Fizemos uma pesquisa com executivos e o que me saltou aos olhos foi que quase todos os pesquisados disseram: “sim, vemos a oportunidade de a IA generativa aumentar a produtividade e a receita”,

Segundo o FMI, nas economias avançadas, cerca de 60% dos empregos podem ser impactados pela IA.

Mas, quando você pergunta se eles estão realmente pensando em como reorganizariam funções de trabalho ou reestruturariam as coisas, apenas 4% dos executivos pesquisados disseram que tinham chegado a esse nível.

Acredito que ainda estamos muito no início da solução dessas questões, o que nos dá a oportunidade de aproveitar este momento e descobrir como apoiar as mulheres para que conquistem uma posição igual sem replicar as desigualdades que foram construídas no sistema até agora.

Fast Company – Um medo que muitas pessoas compartilham é que a IA vai levar a um cenário de desemprego permanente e elevado e as mulheres serão as mais atingidas. Qual a sua opinião sobre isso?

Sarah Steinberg – Este é um momento transformador. Precisamos ser intencionais sobre como estamos criando oportunidades para as mulheres alcançarem a igualdade nesta nova era, através da capacitação e da contratação baseada em habilidades, educação e treinamento.

Mas não sabemos como essas coisas vão se desenrolar e, no final, a menos que haja um limite para o desejo humano, provavelmente não há limite para o crescimento econômico e a inovação. Esperamos que [a IA] mude os empregos, mas isso nos levará a um mundo em que todos estaremos permanentemente desempregados? Provavelmente não, a menos que haja uma mudança fundamental no desejo humano.


SOBRE O AUTOR

AJ Hess e editor da seção Worklife da Fast Company. saiba mais