Empresas de IA querem usar conteúdo dos usuários sem dar nada em troca

A inteligência artificial generativa está minando a confiança entre criativos e o Vale do Silício

Crédito: Adobe/ Joshua Coleman/ Unsplash,/ TPopova/ iStock

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

A Adobe está enfrentando problemas novamente. Na semana passada, uma caixa de diálogo apareceu para usuários em todo o mundo informando sobre os novos termos de uso, que não podem ser contestados ou recusados, caso queiram continuar usando o Photoshop ou as outras ferramentas do Adobe Creative Cloud.

O ponto central dessa mensagem era: “esclarecemos que podemos acessar seu conteúdo por meio de métodos automatizados e manuais, como para revisão de conteúdo”.

Um usuário indignado postou a captura de tela no Twitter (atual X) e analisou os novos termos. “Isso é um absurdo. A Adobe está reivindicando direitos isentos de royalties para copiar e criar novos conteúdos a partir dos ativos dos clientes. Eles alegam que podem sublicenciar os ativos para outras empresas. Descrevem um caso de uso ‘razoável’, mas não mencionam limitações”.

Logo depois, a insatisfação tomou conta das redes. No Reddit, as pessoas questionavam por que a empresa queria espionar seu trabalho. Outros se perguntavam como isso se aplicaria a profissionais que trabalham com material confidencial, desde equipes de filmagem até advogados e médicos.

Em uma postagem em seu blog, a Adobe negou categoricamente que estivesse espionando os usuários. Mais cedo, Scott Belsky – vice-presidente de produtos, dispositivos móveis e comunidade da Adobe e cocriador da plataforma de portfólio criativo Behance – havia esclarecido que os conteúdos não seriam usados para treinar o modelo de IA Firefly.

Também afirmou que a maioria das empresas de tecnologia que operam softwares baseados em nuvem utilizam uma linguagem semelhante à usada pela Adobe em seus novos termos de uso.

Bem, serviços digitais não são gratuitos. Há um custo para fazer negócios, e o “acesso limitado”, segundo Belsky, é apenas parte dessa taxa. Ainda assim, ele admitiu que a linguagem era infeliz. A Adobe permite apenas que os usuários optem por não participar de algumas análises de conteúdo que incluem aprendizado de máquina “para desenvolver e melhorar nossos produtos e serviços”.

USUÁRIOS ESTÃO "CHEIOS"

Apesar das garantias, ainda não está claro o que os novos termos realmente significam para os usuários a longo prazo – e eles não estão satisfeitos. Este parece ser o sentimento predominante da comunidade criativa no momento. A confiança foi quebrada. Eles estão cheios de serem manipulados pelas empresas de tecnologia. Cheios de promessas vazias. Cheios de atualizações nos termos de uso.

E a Adobe é apenas o exemplo mais recente. A OpenAI foi processada por usar conteúdo de outros. Midjourney e Stability também. A Shutterstock licenciou material dos usuários para a OpenAI para o treinamento do Dall-E usando uma cláusula escondida nos novos termos de uso. E a Meta decidiu recentemente que usaria imagens e vídeos publicados no Instagram para treinar sua IA generativa.

A Adobe alega que a maioria das empresas de tecnologia que operam softwares baseados em nuvem utilizam uma linguagem semelhante em seus termos de uso.

Entrei em contato com a Adobe, enviando algumas perguntas que exigiam respostas objetivas: “por que vocês mudaram os termos agora? Qual foi exatamente o motivo para essa mudança? Por que usar essa linguagem ambígua, se vocês afirmam que não era o que realmente queriam dizer, conforme a resposta oficial?”

A Adobe respondeu com o mesmo juridiquês da postagem oficial no blog:

“O acesso é necessário para que os aplicativos e serviços da Adobe executem as funções para as quais foram projetados e são usados ​​(como abrir e editar arquivos, criar thumbails ou compartilhar conteúdo). O acesso é necessário para oferecer alguns de nossos recursos mais inovadores baseados em nuvem, como filtros neurais, modo líquido ou remover fundo.

Você pode ler mais informações, incluindo como os usuários podem controlar a forma como seu conteúdo pode ser usado. Em conteúdo processado ou armazenado nos nossos servidores, a Adobe pode usar tecnologias e outros processos, incluindo escalonamento para revisão manual (humana) e rastreamento de certos tipos de conteúdo ilegal (como material de abuso sexual infantil) ou outros conteúdos e comportamentos abusivos (por exemplo, padrões de atividade que indicam spam ou phishing).”

Havia uma última pergunta no meu e-mail: “a Adobe pode garantir aos seus clientes que nunca mudará os termos de uso, como o Instagram/ Meta fez para treinar sua IA?”

Não houve resposta para isso.

Você pode tirar suas próprias conclusões. Mas a verdade é que é hora de as empresas de tecnologia pararem de agir em benefício próprio, passarem a ouvir os usuários e se comportar de forma transparente.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais