Os impactos da diversidade etária nos negócios
Marcas precisam estar atentas aos ganhos da intergeracionalidade no ambiente corporativo que vão além da inclusão
Envelhecer hoje não é como envelhecer antigamente. Os avanços da medicina têm prolongado o tempo de vida da população mundial. Apesar das mudanças, muitas pessoas ainda estão atreladas a uma forma ultrapassada de pensar sobre os trabalhadores mais velhos.
O etarismo – “você não tem mais idade para isso!” – ainda é visto como uma forma cruel de discriminação, na qual pessoas mais velhas são consideradas incapazes e dependentes dos mais jovens.
Em 2040, logo ali, o Brasil deverá se tornar um país idoso, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que o número de pessoas com 60 anos ou mais vai superar o de crianças e jovens até 14 anos. Teremos mais avós do que netos!
Hoje, já assistimos, pela primeira vez na história, a quatro diferentes gerações compartilhando o mesmo ambiente de trabalho. Em breve, serão cinco!
Olhando para esse cenário, as empresas brasileiras poderão ser compostas por pessoas entre 18 e, pelo menos, 65 anos.
Os trabalhadores mais velhos, ao terem que compartilhar naturalmente ambientes organizacionais com profissionais mais jovens, enfrentam uma convivência de atuações atreladas a estereótipos e preconceitos.
Estamos presenciando, portanto, um desafio enorme em conciliar os interesses e anseios de diferentes gerações trabalhando juntas, em um mundo de trabalho híbrido moldado pela pandemia.
É a intergeracionalidade – ou a interação entre membros de diferentes gerações.
Ao mesmo tempo em que estamos vivendo mais, se torna cada vez mais desafiadora a manutenção dos profissionais maduros no mercado de trabalho.
Hoje assistimos a quatro gerações compartilhando o mesmo ambiente de trabalho
A verdade é que nunca se falou tanto em longevidade e diversidade, em especial a etária, mas… O branding está atento a isso?
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de fevereiro de 2022 mostram que muitas empresas ainda estão na contramão da mudança demográfica em curso no país.
Mais de 700 mil pessoas com mais de 50 anos ficaram desempregadas entre 2020 e 2021. É a única faixa etária que continua perdendo espaço no mercado de trabalho depois da reabertura da economia.
A pandemia acabou por escancarar o preconceito etário e a urgência do tema.
O ponto é: mais do que uma questão social, esse assunto é estratégico para os negócios.
COMPETÊNCIAS COMPLEMENTARES
Se engana quem pensa que a diversidade deve ser promovida apenas para melhorar a imagem e a reputação da organização. Estudos comprovam os múltiplos ganhos de uma companhia que acredita e investe em diversidade e inclusão.
As marcas que enxergam o mundo do trabalho de forma sistêmica e os colaboradores sob um olhar humano têm vantagem competitiva sobre as demais. Para que isso ocorra, é necessário que vários olhares observem e atuem sobre o contexto.
Essa diversidade de pontos de vista é alcançada quando se tem êxito em atrair os mais variados perfis e onde a convivência das diferenças se dá de maneira fluida, respeitosa e saudável.
A troca de experiências intergeracionais contribui, de fato, para o desenvolvimento das competências dos funcionários de diferentes faixas etárias.
A pandemia acabou por escancarar o preconceito etário e a urgência do tema.
Os mais velhos se destacam nas equipes pelas suas competências socioemocionais e os mais jovens contribuem mais com suas competências técnicas. Isso é reconhecimento, valorização e demonstração de que todos, independentemente da idade, podem aprender, ensinar e estimular a criatividade.
Dessa forma, as pessoas se sentem protagonistas da mudança, percebem a existência de um clima organizacional colaborativo e a empresa se torna mais rentável, inovadora e eficaz.
De acordo com as Melhores Empresas GPTW 50+ 2020, na primeira vez em que empresas foram reconhecidas no destaque 50+ do ranking, 9% do total de funcionários dessas companhias tinham 50 anos ou mais.
O levantamento mostra que 100% das corporações premiadas contam com um responsável por combater a discriminação e promover a diversidade. Em 40%, há uma política oficial de não discriminação relacionada à idade.
Por outro lado, apenas 2% dos novos contratados no último ano têm 55 anos ou mais e 61% tinham 34 anos ou menos. Já no conselho de administração dessas empresas, 33% das cadeiras são ocupadas por 50+.
Já passou da hora de a diversidade etária ser uma prioridade para o negócio.
Porque estimular a cooperação entre gerações pode minimizar conflitos no ambiente de trabalho e preparar a empresa para um futuro sustentável.
BONS EXEMPLOS
As práticas intergeracionais vêm demonstrando a possibilidade de efetuar mudanças na cultura das organizações. A Credicard, por exemplo, ao inserir profissionais com idade acima de 50 anos em seus times, fez da companhia um grande laboratório para vivenciar essas mudanças e promover a quebra de preconceitos e a busca por mais inovação e produtividade.
Na Kimberly-Clark, mais de 6% dos 260 profissionais 50+ ocupam posições de liderança. A multinacional de cuidados pessoais tem, inclusive, uma linha de produtos, a Plenitud, dedicada aos maduros.
estimular a cooperação entre gerações pode minimizar conflitos e preparar a empresa para um futuro sustentável.
As organizações precisam tirar esse atraso e reconhecer a importância de ter uma força de trabalho que reflita e valorize todos os brasileiros.
Sabemos que se trata de um longo caminho que precisa ser percorrido. Por isso mesmo, devemos avançar melhor e com mais celeridade.
Na comunicação, a marca Lacta lançou um filme baseado em uma história verídica para começar uma conversa emocionante sobre intergeracionalidade e construção de memórias especiais ao lado de quem amamos.
Chamado de “Memórias”, o filme mostra um avô e um neto prestes a começar uma partida de dama. O avô, que costumava jogar xadrez nos tempos de juventude, demonstra esquecer algo importante sobre o jogo: as peças.
Para fazê-lo relembrar e o jogo não parar, o neto tem uma ideia que rapidamente se transforma em um gesto de carinho, substituindo as peças por quadradinhos de chocolates da marca no tabuleiro. Assim, ao comer a peça do adversário, os dois podem também se deliciar.
Tive o privilégio de atuar como consultora da ação. Na posição de marketing excellence, tenho trabalhado ativamente na construção de um novo marketing.
Como profissional, um dos meus objetivos é trazer humanização para o marketing, para cada vez mais olharmos para essa área com o ser humano no centro de tudo o que fazemos.
O impacto da diversidade etária no resultado dos negócios gera vários ganhos: impulsiona a inovação; constrói ambientes corporativos mais saudáveis; reduz o turnover; humaniza e empatiza a comunicação; e torna o lifelong learning um benefício para todas as gerações que estão dentro daquela empresa.
É preciso começar derrubando os mitos para poder mostrar os benefícios. Empresas estão aumentando o número de contratações, mas estão pensando apenas na inclusão, não nos ganhos.
Faz-se necessário rever estratégias de RH e “descronologizar” a idade dos profissionais.
A reflexão que precisa ser endereçada agora é: o quanto uma empresa está age-ready, ou pronta para abraçar a intergeracionalidade?