Esta garagem abandonada virou um belo edifício parque em Buenos Aires
Em vez de demolir o prédio, os arquitetos resolveram dar a ele um novo propósito

Quatro anos atrás, quem passasse por um cruzamento específico em Buenos Aires veria um prédio comum de três andares — um estacionamento vazio, sem nenhum carro à vista. Hoje, a estrutura ainda está lá, mas completamente irreconhecível.
Agora, o antigo estacionamento parece uma torre baixa com ares de disco voador, brotando de uma base de concreto, com uma rampa ajardinada que serpenteia suavemente para o alto. A transformação radical é fruto de um projeto do escritório de arquitetura ODA.
Batizado de Ola Palermo, o prédio reimaginado abriga hoje cafés, restaurantes e escritórios comerciais de alto padrão. A cereja do bolo é um passeio público a céu aberto que se descola da calçada, sobe até o antigo teto do estacionamento, se abre em um parque elevado e desce do outro lado do prédio. Num espaço antes dominado por carros, a rampa virou símbolo de acesso humano.
DEMOLIR OU REINVENTAR
Especialista em projetos de reuso adaptativo, o fundador do escritório de arquitetura ODA, Eran Chen, inicialmente pensou que trabalharia com um terreno vazio.
O prédio, abandonado há anos, ocupava um terreno complicado, espremido entre duas vias movimentadas e uma linha de trem elevada – ao lado do parque Tres de Febrero (os famosos Bosques de Palermo), com o qual, curiosamente, não tinha nenhuma conexão até então.

Ao visitar o local pela primeira vez, Chen cogitou demolir o prédio – até que viu seu interior. O que capturou sua atenção de imediato foi a altura dos tetos: cerca de 4,5 metros, muito acima da média para estacionamentos, que costumam ser baixos e difíceis de adaptar.
O teto também apresentava um desenho em grelha, conhecido como “waffle slab” – um padrão de quadrados rebaixados criado pela interseção de vigas. Esse design ajuda a distribuir o peso uniformemente, permitindo grandes vãos sem colunas adicionais e possibilitando espaços mais abertos e versáteis.

Além disso, o terraço do prédio oferece uma vista de 360 graus: de um lado, os Bosques de Palermo e, ao fundo, o centro de Buenos Aires; do outro, um clube privado com pista de corrida e campos de polo, acessíveis apenas a membros exclusivos.
Chen viu ali uma oportunidade: permitir que qualquer visitante do parque possa “olhar de cima” e ter um vislumbre (gratuito) desses eventos restritos.
ARQUITETURA GUIADA PELA EXPERIÊNCIA
A ODA manteve 80% da estrutura original e a transformou em um prédio de 15 mil metros quadrados. Um quarto dessa área foi dedicado a terraços públicos, áreas verdes e o passeio elevado. O restante abriga os espaços comerciais e gastronômicos, além de um estacionamento com capacidade para 250 veículos no térreo.

Para tornar o prédio mais convidativo, os arquitetos fizeram quatro incisões estratégicas: abriram um pátio interno para trazer luz ao centro da estrutura e recortaram partes da fachada para acomodar escadas e a rampa sinuosa. Essas mudanças corresponderam a 20% da área construída – mas, em vez de perder espaço, o projeto redistribuiu os volumes.
No topo, onde antes havia uma antiga caixa d’água fora das normas de altura, os arquitetos ergueram uma nova torre de quatro andares inspirada na anterior. O “cogumelo de concreto”, como Chen apelidou, abriga os escritórios mais valorizados do projeto.

Para Chen, o projeto representa um “triplo ganho”. A cidade sai ganhando com uma nova área pública de qualidade. A comunidade local ganha acesso a um parque elevado inédito. E o incorporador economiza ao evitar a demolição e reconstrução total.
O meio ambiente também agradece. “Dar uma segunda chance a um edifício é uma forma concreta de reduzir a pegada ecológica da construção civil”, diz Chen.