O lado sombrio das redes sociais e a responsabilidade das marcas com a GenZ

O impacto das redes sociais na geração Z não pode ser ignorado e as empresas que direcionam seus produtos a esse público têm uma responsabilidade imensa

Crédito: Freepik

Marianna Souza 3 minutos de leitura

A geração Z é a primeira a crescer completamente imersa no universo digital. Para esses jovens, a vida online não é uma extensão da realidade – é a própria realidade. O impacto das redes sociais na GenZ é profundo e multifacetado.

No painel “Gen Z, Social Media’s Dark Side, and Brands”, a renomada diretora Lauren Greenfield, conhecida pelo icônico comercial "Like a Girl", trouxe uma análise profunda sobre os impactos das redes sociais nesta geração.

Greenfield lançou, no final de 2024, a série documental Social Studies (no Hulu), em que acompanhava um grupo de adolescentes para entender como as redes sociais influenciam suas vidas.

A diretora e sua equipe tiveram acesso irrestrito às redes desses jovens, e os resultados foram alarmantes. A pandemia de Covi-19 intensificou esse fenômeno, tornando o uso das plataformas digitais ainda mais central na vida deles.

Com base no olhar documental, Greenfield destacou três pilares fundamentais que revelam o lado sombrio das redes sociais para a GenZ:

⁠Educação sexual distorcida

A pornografia tem se tornado a principal fonte de educação sexual para adolescentes, uma realidade preocupante. Redes como TikTok e Instagram estão saturadas de conteúdos altamente sexualizados, desde danças sensuais até poses provocativas.

Isso impacta diretamente a percepção dos jovens sobre relacionamentos e desejo, em contraste com gerações anteriores, que aprenderam sobre o tema por meio de conversas, escola ou médicos.

A exposição precoce leva a uma vulnerabilidade perigosa – meninas de apenas 13 ou 14 anos já estão recebendo mensagens e assédios de adultos.

Estética inatingível

Os filtros e padrões estéticos irreais criados pelas redes sociais geram uma profunda crise de identidade entre os jovens.

No painel, Greenfield revelou uma pergunta feita ao grupo de adolescentes acompanhados no documentário: “quantos de vocês já tiveram algum distúrbio alimentar?”. Todos levantaram a mão.

A resposta, chocante, expõe como a pressão pela perfeição visual tem causado um aumento preocupante em transtornos alimentares e baixa autoestima.

Saúde mental e a pandemia de solidão

A solidão é uma epidemia silenciosa entre a geração Z nos EUA. A pandemia fez com que muitos jovens passassem anos isolados, prejudicando suas habilidades sociais.

As redes sociais, em vez de preencherem esse vazio, reforçam um ciclo de comparação e frustração. Dados apresentados no painel mostram a relação direta entre o uso excessivo dessas plataformas e o aumento de casos de depressão, ansiedade e suicídio.

COMO LIDAR COM O IMPACTO DAS REDES SOCIAIS NA GENZ

O dilema das famílias é evidente: os pais sempre tiveram que monitorar seus filhos “da porta para fora”, escolhendo onde e com quem eles saíam e a que horas voltavam.

Hoje, a influência tóxica das redes sociais acontece dentro de casa, muitas vezes no quarto ao lado, sem que os adultos tenham qualquer controle sobre o que seus filhos estão consumindo ou vivendo online.

Para esses jovens, a vida online não é uma extensão da realidade – é a própria realidade.

A mediadora do painel, Margaret Johnson, CCO na Goodby Silverstein & Partners, levantou uma questão crucial: como as marcas podem intervir nesse cenário? O impacto das redes sociais na GenZ não pode ser ignorado e as empresas que direcionam seus produtos a esse público têm uma responsabilidade imensa.

Um exemplo positivo citado no painel foi a campanha da Real Beleza, da Dove, que incentiva a autoaceitação e combate os padrões irreais de beleza impostos pelas redes sociais. Marcas que apoiam influenciadores reais, que promovem uma vida mais autêntica e menos filtrada, podem contribuir para um ambiente digital mais saudável.

anúncio da campanha Real Belza, da marca Dove, com mulheres de diferentes biotipos
Campanha "Real Beleza", da Dove (Crédito: Divulgação)

A escolha dos influenciadores também se torna uma estratégia fundamental. Eles são os espelhos da geração Z e as marcas precisam selecionar vozes que promovam valores positivos, incentivando a diversidade e a aceitação.

A discussão levantada no SXSW deixa um alerta: o impacto das redes sociais na GenZ já é uma crise de saúde pública. Marcas, pais, educadores e sociedade precisam agir para minimizar os danos e construir um ambiente digital mais seguro e consciente.

Se as redes sociais moldam a maneira como essa geração enxerga o mundo, cabe às marcas decidir se querem ser parte do problema – ou da solução.


SOBRE A AUTORA

Marianna Souza é presidente-executiva da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO) e gerente executiva da platafo... saiba mais