Eleitorado da Flórida acredita na mudança climática, mas vota em Trump

Enquanto a Flórida sofre com os impactos das mudanças climáticas, Trump pede US$ 1 bilhão às petrolíferas e promete reverter a agenda verde de Biden

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Marcus Baram 4 minutos de leitura

Na manhã de 10 de abril, algumas das principais autoridades ambientais do sudeste da Flórida se reuniram em West Palm Beach para discutir os riscos climáticos da região, incluindo um aumento esperado de 15 a 30 centímetros no nível do mar até 2040. Entre os riscos citados estavam aumentos de temperatura, erosão costeira e ressacas – tudo devido às mudanças climáticas.

Como resultado, os condados da região estão tomando medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, aproveitando incentivos para aumentar o uso de veículos elétricos e exigindo que projetos de construção sejam desenvolvidos respeitando critérios de resiliência e sustentabilidade.

Na noite seguinte, em Palm Beach, o ex-presidente Donald Trump jantou em sua residência no resort Mar-a-Lago com altos executivos da indústria de petróleo e gás da ExxonMobil, EQT Corp. e Cheniere Energy e disse a eles que deveriam doar US$ 1 bilhão para sua campanha presidencial porque iria reverter regras ambientais que prejudicam a indústria do petróleo.

O evento foi organizado por Harold Hamm, presidente executivo da Continental Resources, que apenas duas semanas antes havia contribuído com US$ 614 mil para um comitê de ação política que apoiava a campanha de Trump, que chamou a mudança climática de “farsa” e criticou o uso de veículos elétricos.

Os dois eventos ilustram o paradoxo da Flórida neste ciclo eleitoral. É um dos estados mais impactados pelas mudanças climáticas – além de ondas de calor recordes e tempestades intensas, a elevação do mar frequentemente inunda calçadas em Miami e pode colocar em risco o próprio resort Mar-a-Lago nas próximas décadas.

Crédito: Pixabay

No entanto, a Flórida é um estado republicano cujo legislativo acabou de votar para retirar o termo “mudança climática” da legislação estadual e para anular as metas de uso de energia renovável que estavam em vigor desde 2022.

Essa contradição se reflete nos eleitores do estado, cuja crença de que as mudanças climáticas estão ocorrendo agora é maior do que a média nacional (90% contra 72%); 68% querem que o governo estadual e o federal façam mais para enfrentar a crise.

O preço do seguro disparou, em grande parte devido às inundações causadas pelas mudanças climáticas.

Ainda assim, Trump está à frente do presidente Joe Biden, que implementou a iniciativa climática mais ambiciosa do país, por nove pontos na Flórida, de acordo com uma pesquisa recente.

Mas as questões climáticas estão começando a afetar a política do estado. “O clima está presente todos os dias na política da Flórida”, afirma David Kieve, presidente da EDF Action, parceira de defesa do Fundo de Defesa Ambiental. “Os eleitores querem ver soluções.”

ELEITORES DESCRENTES

Henry Kelley é um eleitor que está levando essa mensagem a sério. Ex-ativista do movimento Tea Party (ala radical do Partido Republicano), ele é cofundador da BlueWind Technology, que emprega 150 pessoas e fabrica compósito para turbinas eólicas.

Kelley votou em Trump em 2016 e 2020 e foi presidente de um condado na primeira campanha para governador do senador Rick Scott em 2010. Mas, desta vez, não votará em nenhum deles devido à recusa em levar a mudança climática a sério e à resistência a fontes de energia renováveis.

Ele disse que está desanimado com a politização da crise climática por ambos os partidos. É por isso que também não votará em Biden, pois culpa o atual presidente por estabelecer metas muito agressivas para o uso de energia renovável.

Maré alta invade as ruas de Miami (Crédito: Wikimedia Commons)

Kieve reconhece que as mudanças climáticas podem não estar mudando a opinião dos cidadãos neste ciclo eleitoral. Mas um de seus sintomas se tornou uma questão importante e um grande problema para o governador republicano da Flórida, Ron DeSantis.

O preço do seguro no estado disparou nos últimos anos, em grande parte devido às inundações causadas pelas mudanças climáticas que afetam muitos proprietários de casas nas áreas costeiras.

O poder legislativo da Flórida acabou de votar para retirar o termo “mudança climática” da legislação estadual.

No entanto, o legislativo, dominado pelo Partido Republicano, encerrou sua sessão de 2024 sem tomar nenhuma medida para enfrentar a crise. Como resultado, esta se tornou uma questão importante, junto com a inflação, que está levando os eleitores às urnas este ano, de acordo com uma pesquisa recente da Associated Industries of Florida.

O ecologista William “Coty” Keller, que vive e trabalha em Port Charlotte, no sul da Flórida, espera que seus vizinhos se tornem eleitores mais conscientes nessas eleições. “Nós estamos pagando pelo que elegemos: políticos que valorizam as demandas de seus doadores ricos e corporações mais do que os interesses dos cidadãos”, diz ele.

“Nossos representantes alegam falsamente que a transição para uma energia com emissão zero prejudicaria a economia, sendo que o oposto é que é verdadeiro. A menos que novos líderes que se preocupam com a comunidade sejam eleitos, nosso estilo de vida e economia vão continuar se degradando e a vida que conhecemos não existirá para nossos descendentes.”

Este artigo foi publicado originalmente pela Capital & Main.


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