Esta ativista de 76 anos luta contra a mudança climática e pelos direitos humanos

“Mulheres idosas podem fazer mais do que apenas sentar em uma cadeira de balanço e tricotar”, diz a ativista Elisabeth Stern

Crédito: Greenpeace/ Joël Hunn

Adele Peters 3 minutos de leitura

Assim como outros países, a Suíça não está agindo com rapidez suficiente para combater as mudanças climáticas. Mas, em um caso histórico, um tribunal internacional considerou que a falha do governo em reduzir as emissões constitui uma violação dos direitos humanos. 

Um grupo de mulheres idosas entrou com a ação, argumentando que são particularmente afetadas pelos impactos climáticos, como o calor extremo. Agora, a Suíça está legalmente obrigada a agir com mais rapidez em relação ao clima. 

“A decisão diz que [o governo suíço] não está fazendo o suficiente e precisa fazer mais”, afirma Georg Klingler, ativista climático do Greenpeace que trabalhou com as mulheres no caso.

“Também diz que isso deve ser feito com dados confiáveis baseados na ciência e respeitando o orçamento de carbono ainda disponível para não ultrapassar 1,5ºC”. O governo terá que definir novas metas de emissões e determinar como alcançá-las.

Alguns políticos de direita disseram que prefeririam renunciar aos direitos humanos do que cumprir a decisão. Mas o governo suíço afirma que ela precisa ser levada a sério.

Conversamos com Elisabeth Stern, membro do KlimaSeniorinnen (Idosas pela Proteção Climática) – o grupo por trás da ação –, sobre seu trabalho no caso.

Crédito: Joël Hunn/ Greenpeace

Fast Company – Por que você decidiu fazer parte desse processo?

Elisabeth Stern – Estou com 76 anos e fui ativista praticamente a vida toda. Desde os 28 anos, eu queria [salvar] o meio ambiente, acabar com a fome no mundo, acabar com as guerras, tudo isso. Conheci outras mulheres com a mesma motivação, e isso me inspirou.

Algumas de nós agora estão frágeis fisicamente, mas trabalhamos a vida toda. Quando me aposentei, aos 70 anos, ficou muito claro para mim que passaria meu tempo como voluntária em um grupo climático. Por coincidência, acabei conhecendo uma das KlimaSeniorinnen.

Fast Company – Como o processo começou?

Elisabeth Stern – Tudo começou com [Georg Klingler]. Ele ouviu falar de um caso na Holanda de uma ONG chamada Urgenda. Eles processaram o governo por não fazer o suficiente em termos de ação climática. E venceram a ação.

Ele sugeriu que fizéssemos o mesmo na Suíça. Por lei, apenas aqueles que são diretamente afetados podem processar o governo e, da população, as mais afetadas são as mulheres idosas. Então, ele foi em busca de mulheres idosas.

Fast Company – Você notou outros impactos climáticos na Suíça?

Elisabeth Stern – O mais óbvio é o derretimento das geleiras. Quando eu era criança, os Alpes Suíços eram chamados de “castelo d’água” da Europa. Agora, o gelo derrete a cada verão.

Percebemos que nos tornamos uma inspiração para muitos jovens ativistas climáticos. E gostamos muito deles.

Chegamos até a cobrir as geleiras com grandes pedaços de pano quando temos uma onda de calor que pode durar três semanas. Uma das geleiras que ficava literalmente no meu quintal simplesmente desapareceu por completo.

Também estamos vendo um aumento no número de acidentes nas montanhas. Sou membro do Clube Alpino Suíço há cerca de 30 anos, então estou acostumada a andar pelos Alpes, adoro fazer trilhas. Os acidentes estão aumentando porque não temos  experiência o suficiente para saber como as montanhas se comportam agora.

Fast Company – Sua organização passou oito anos no tribunal com este processo e vocês receberam muitas mensagens de ódio. O que as motivou a continuar?

Elisabeth Stern – Demos muitas palestras por toda a Europa sobre o que estávamos tentando fazer. E percebemos que mudamos a narrativa. [No começo], as pessoas riam de nós. Mas isso  mudou. “As mulheres idosas podem fazer mais do que apenas sentar em uma cadeira de balanço e tricotar”.

Mudamos essa mentalidade. E isso nos deu força. Também percebemos que nos tornamos uma inspiração para muitos jovens ativistas climáticos. E gostamos muito deles. Então, não estávamos apenas esperando a sentença sair.

Fast Company – Como você se sente agora que a decisão saiu?

Elisabeth Stern – Inacreditavelmente, vencemos em todos os pontos. Esperamos oito anos. Isso significa que tivemos que ter muita paciência. Ainda mal posso acreditar.

Mas também estou me preparando para todos os comentários negativos que receberemos, porque algumas pessoas, especificamente as de direita, não gostaram da decisão. O governo também não vai ficar muito animado. Mas é assim que as coisas são.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais