China reage ao tarifaço e BC americano fala de alta de juros, inflação e baixo crescimento

Reação de países sobretaxados, como fez a China, deve pressionar os preços no mercado interno e impactar o PIB; Trump, no entanto, achou que era o momento de pedir corte de juros

Tarifaço americano provocou a reação da China, que fixou tarifa de importação de 34%
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Paula Pacheco 3 minutos de leitura

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), sinalizou nesta sexta-feira (4), durante evento, que os efeitos do pacote de tarifas de reciprocidade anunciadas pelo presidente Donald Trump não serão nada bons para os Estados Unidos.

Powell indicou em seu discurso que as tarifas foram "maiores do que o esperado" e antecipou que as consequências econômicas deverão extrapolar as expectativas. Ele incluiu nesse cenário uma provável inflação mais alta e o crescimento econômico mais lento.

"Enfrentamos uma perspectiva altamente incerta com riscos elevados de desemprego e inflação mais altos", disse. Com isso, as previsões do Fed de uma inflação anual de 2% e emprego máximo se tornam improváveis

FED SOB INCERTEZAS


O presidente do Fed reconheceu que a autoridade monetária sofre agora com a mesma incerteza que atormenta investidores e executivos de empresas. No entanto, com suas atribuições, pode esperar por mais dados para tomar decisões com relação à política monetária a partir de agora.

Neste momento, os bancos centrais buscarão garantir que as expectativas de inflação sigam ancoradas, principalmente se o tarifaço de Trump desencadear uma pressão mais persistente nos preços. "Embora as tarifas sejam altamente propensas a gerar pelo menos um aumento temporário na inflação, também é possível que os efeitos sejam mais persistentes", projetou Powell.

"Evitar esse resultado dependeria de manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas, do tamanho dos efeitos e de quanto tempo levará para que eles sejam totalmente repassados ​​aos preços", avaliou.

Ainda segundo o presidente da autoridade monetária americana, a "obrigação é manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas e garantir que um aumento único no nível de preços não se torne um problema contínuo de inflação".

PREPARATIVOS PARA UMA REAÇÃO

Mais do que comentar as políticas do governo de Trump, Powell defendeu que o papel do Fed é reagir a seus efeitos na economia. Até agora, tudo ia bem diante da perspectiva que existia de que, em algumas semanas, o país estaria no "ponto ideal" de inflação em queda e desemprego em baixa.

Ainda de acordo com o representante do Fed, à medida que as novas políticas e seus prováveis ​​efeitos econômicos ficarem mais claros, haverá uma noção melhor de suas implicações para a economia e para a política monetária.

De todo o discurso, o trecho que mais chamou a atenção foi a análise sobre o que surge no horizonte da economia americana depois do anúncio do tarifaço e da reação dos países afetados pelo anúncio.

"Embora a incerteza permaneça elevada, agora está ficando claro que os aumentos de tarifas serão significativamente maiores do que o esperado", acrescentou. "O mesmo provavelmente será verdade para os efeitos econômicos, que incluirão inflação mais alta e crescimento mais lento", disparou Powell.

Apesar de todos os motivos expostos pelo presidente do Fed, Trump achou oportuno pedir à autoridade monetária a redução da taxa de juros, afirmando que é o "momento perfeito" para fazê-lo. Em caixa alta, o presidente americano publicou na rede Truth Social:

- "CORTE A TAXA DE JUROS, JEROME, E PARE DE FAZER POLÍTICA!".

CHINA REVIDA AO TARIFAÇO


Nesta sexta-feira, a China anunciou tarifas retaliatórias de 34% sobre todos os produtos exportados a partir dos EUA, além de restrições aos embarques de minerais essenciais para a indústria de tecnologia e medidas como a fixação de limites às importações de frangos criados em território americano.

Em um comunicado, o Ministério do Comércio disse que "o objetivo da implementação do governo chinês de controles de exportação sobre itens relevantes de acordo com a lei é proteger melhor a segurança e os interesses nacionais e cumprir obrigações internacionais como a não proliferação".

Já a imprensa estatal chinesa informou que o governo colocou 11 empresas americanas em uma relação de entidades não confiáveis do país. A justificativa é que as companhias cooperaram militar e tecnologicamente com Taiwan, "prejudicando seriamente a soberania nacional, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China".

Apesar da reação esperada dos chineses, Trump achou espaço para reagir ao anúncio. "A China jogou errado, eles entraram em pânico - a única coisa que eles não podiam fazer!', escreveu o presidente americano



SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais