É freelancer ou tem renda variável? Veja como planejar os investimentos
Não ter previsibilidade sobre quanto vai entrar de dinheiro todo mês é um desafio adicional, mas dá para se organizar e fazer uma reserva financeira
Se a organização financeira não é fácil para quem tem um salário certo para receber todo mês, imagine as dificuldades de quem é autônomo ou freelancer? A renda pode ser tão variável que investir de forma consistente é muitos acabam por abandonar.
Se ter um investimento para realizar um projeto de vida ou uma reserva para a aposentadoria é importante para quem é assalariado, imagina para quem lida com a previsibilidade?
Ainda que os especialistas tenham estratégias diferentes ao recomendar formas de equilibrar a renda que oscila e investimentos, existe um consenso: mesmo quem não sabe como vai fechar o mês pode se planejar para aplicar parte dos ganhos.
EXCEDENTE TEM DE SER INVESTIDO
O ponto de partida, segundo Lai Santiago, consultora financeira e economista comportamental, é determinar qual é o salário-base para que todo o excedente - sempre que você tiver um retorno do seu negócio ou da sua atividade profissional acima do esperado - seja investido.
A consultora costuma desaconselha a definição de um percentual fixo da renda para fazer essa poupança recorrente. Isso porque, segundo ela, esse percentual pode, por um lado, subestimar uma pessoa que tem uma capacidade de poupança mais elevada. E, por outro, frustrar quem tem um uma capacidade de poupança ainda inexistente ou muito pequena.
“O ideal é construir e ampliar essa capacidade de poupança, guardar todos os meses ou com uma regularidade específica, mesmo que não seja mensal. Trata-se de construir esse hábito de guardar dinheiro, independentemente da realidade e do montante que é possível provisionar”, orienta Lai.
RESERVA DE EMERGÊNCIA PARA O FREELANCER
A consultora financeira exemplifica. “Se hoje está começando a poupar e consegue guardar R$ 10, há alternativas de investimentos conservadores, muito seguros, que fazer o resgate sempre que necessário, mesmo em caso de imprevisto”, cita a especialista.
Lai se refere à reserva de emergência – quando se tem uma parte dos investimentos com liquidez, disponível para saque a qualquer momento em caso de imprevistos, sem comprometer a rentabilidade.
Esse recurso é poupado para o caso de surgirem despesas inesperadas – como um problema de saúde ou a perda da fonte de renda. O dinheiro investido tem de ser suficiente para arcar com as despesas fixas por, no mínimo, três meses.
FÔLEGO MAIOR PARA OS AUTÔNOMOS
Os profissionais freelancers, segundo Kelvin Saegussa, fundador da Okame Jogos Educacionais e educador financeiro, precisam de uma reserva maior, de 6 a 12 meses, para que possam estar protegidos da sazonalidade, de alguma quebra de contrato, situações jurídicas e da necessidade de aporte de capital em sua empresa.
A sazonalidade é um elemento muito comum na vida do profissional autônomo. Da mesma forma que não é ideal exagerar no consumo em meses com alto faturamento, também não é uma boa ideia manter um padrão de vida em meses de baixa.
Pela falta de estabilidade, explica o educador financeiro, é importante adaptar os valores mensais de gasto e investimento de acordo com o momento em que se vive. “Idealmente, é interessante traçar um plano de previsão orçamentária, para avaliar como determinados meses podem compensar outros. Nesse caso, a adaptação é mais importante do que a constância”, analisa.
Um exemplo dessa estrutura de planejamento são as casas de aluguel de alta temporada. Em muitos casos, o faturamento dos meses de férias compensa o período do ano em que há poucas reservas e baixo valor de diária. Na média, o empreendedor que cuida desse tipo de aluguel deve estabelecer uma reserva para compensar e pagar as contas dos meses com baixo faturamento.
COMO NÃO DESISTIR
E o que fazer quando o mês não for bom e os rendimentos mal forem suficientes para as despesas? Lai sugere que se mantenha o hábito mesmo com um valor pequeno. “Isso ajuda a manter o músculo do hábito da disciplina aquecido. Se deixa de guardar, sair da inércia fica mais difícil”, adverte.
As ferramentas de débito automático para produtos como CDBs, Previdência Privada e Tesouro Direto, segundo a especialista, podem ser úteis mesmo para aqueles que têm uma renda como freelancer e sentem dificuldade em investir.
TRABALHE COM O PIOR CENÁRIO
Para Saegussa, a primeira regra que o profissional autônomo deve seguir é se basear em uma estimativa média e pessimista do seu lucro.
"A ideia por trás desse raciocínio é tentar estabelecer uma retirada de pró-labore fixa mensal que seja razoável em qualquer momento do ano. Dessa forma, você transforma aquilo que é variável em algo constante", orienta.
Caso a estratégia não seja possível no momento, segundo Saegussa, é possível se planejar para fazer retiradas sobre um mesmo percentual do lucro. Por exemplo, se você sempre retira 80% do seu lucro, então você vai retirar R$ 8 mil em um mês em que teve R$ 10 mil de lucro, ou R$ 4 mil em um mês que teve R$ 5 mil de lucro.
"Nesse caso, é importante que você busque recompor a sua reserva de emergência nos meses bons e evite gastar demais essa reserva em períodos de baixo faturamento", destaca o educador financeiro.
