Prada compra Versace por valor bilionário e agita o setor de luxo; veja valor

Negócio bilionário entre grifes italianas reposiciona a Itália no mapa da moda e acirra a disputa com gigantes franceses

Conhecida por sua estética barroca e ousada, a Versace complementa o estilo minimalista da Prada, abrindo novas possibilidades de mercado. Crédito: Pixaby
Conhecida por sua estética barroca e ousada, a Versace complementa o estilo minimalista da Prada, abrindo novas possibilidades de mercado. Crédito: Pixaby

Flávio Oliveira 3 minutos de leitura

Em uma jogada ousada que sacode o setor de moda global, a Prada anunciou a aquisição da Versace por cerca de US$ 1,38 bilhão, incluindo dívidas. Isso representa, aproximadamente, R$ 8,15 bilhões. De acordo com a Reuters, o acordo une duas das grifes mais emblemáticas da Itália e reacende a ambição da Prada de crescer em meio a um cenário econômico incerto e competitivo.

Enquanto muitas marcas de luxo enfrentam retração na demanda, a Prada segue em trajetória de expansão. A Versace, por outro lado, vinha amargando resultados negativos nos últimos trimestres. A aquisição chega como uma tentativa estratégica de revitalização — não apenas para a marca adquirida, mas também para consolidar o domínio italiano frente aos conglomerados franceses como a LVMH, dona da Louis Vuitton.

Conhecida por sua estética barroca e ousada, a Versace complementa o estilo minimalista da Prada, abrindo novas possibilidades de mercado.

“Não há sobreposição em termos criativos nem de público-alvo”, declarou Lorenzo Bertelli, diretor de marketing e herdeiro do império Prada.

Moda italiana em novo patamar

Com o acordo, a Prada consolida sua posição como um dos principais nomes do luxo mundial. O presidente do grupo, Patrizio Bertelli, destacou que a Versace será beneficiada por uma estrutura consolidada e por anos de investimentos contínuos.

“Vamos oferecer à Versace uma base robusta, construída sobre relacionamentos duradouros e uma trajetória de investimentos consistentes”, disse Bertelli.

O executivo é casado com Miuccia Prada, estilista da marca e coproprietária da empresa.

Riscos assumidos, estratégia mantida

Segundo fontes próximas à negociação, Prada e Capri Holdings optaram por seguir com o acordo mesmo diante da volatilidade nos mercados, tensões geopolíticas e novas tarifas impostas pelos Estados Unidos. A Capri decidiu vender a Versace para concentrar esforços na recuperação da Michael Kors.

Do lado da Prada, a aposta na Versace é parte de um projeto de longo prazo que visa impulsionar a receita — não cortar custos.

“Gianni e eu sempre tivemos uma enorme admiração por Miuccia, Patrizio e sua família”, disse Donatella Versace, que deixou recentemente o cargo de diretora criativa da marca fundada por seu irmão em 1978.
“Estou pronta para apoiar essa nova era da Versace da forma que puder”, completou.

Abaixo do valor de 2018

As ações da Capri Holdings despencaram 9% em Nova York com o anúncio da venda e já acumulam queda de quase 30% desde o início do ano. Analistas apontam que o valor da transação ficou abaixo do esperado — em 2018, a mesma Versace foi comprada pela Capri (então Michael Kors) por US$ 2,15 bilhões, incluindo dívidas, o que representa, hoje, cerca de R$ 12,7 bilhões.

A negociação com a Prada ganhou força no ano passado, após a tentativa de venda da Capri para a Tapestry — controladora das marcas Coach e Kate Spade — ser bloqueada por órgãos reguladores.

O valor da operação permaneceu estável desde janeiro, segundo fontes próximas ao acordo.

“Essa transação reforça nosso compromisso com o retorno aos acionistas, o fortalecimento do balanço financeiro e o crescimento das marcas Michael Kors e Jimmy Choo”, afirmou John Idol, CEO da Capri.

A Prada obteve uma nova linha de crédito de 1,5 bilhão de euros — em torno de R$ 9,91 bilhões — para financiar a compra, que deve ser concluída no segundo semestre deste ano.

Virada estratégica e sucessão familiar

O negócio marca uma guinada importante na história recente da Prada, que evitava grandes aquisições desde investimentos considerados equivocados nas marcas Helmut Lang e Jil Sander, no fim dos anos 1990. A mudança de rota ocorre dois anos após Andrea Guerra assumir o cargo de CEO, função antes ocupada por Bertelli e Miuccia Prada, e reflete também a crescente influência de Lorenzo Bertelli, filho do casal e provável sucessor na liderança da empresa.

Fundada em 1913 como uma loja de artigos de couro em Milão, a Prada se transformou em um dos maiores nomes do luxo sob o comando de Miuccia e Bertelli. Já a Versace, com seu emblemático logotipo da cabeça de Medusa, ganhou notoriedade global com o estilo exuberante de Gianni Versace — assassinado em 1997 — e foi conduzida desde então por Donatella.

A Prada, listada na bolsa de Hong Kong, também é proprietária de outras marcas de crescimento acelerado, como a Miu Miu, e da fabricante britânica de calçados Church’s.


SOBRE O AUTOR

Jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco e mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto. Com passagem pel... saiba mais